Instituições do Paraná seguem pesquisas sobre quebramento da haste e podridão de grãos da soja 

Durante o encontro, ficou acordado que as entidades participantes irão desenvolver ensaios conjuntos na safra 2024/2025

23.04.2024 | 14:23 (UTC -3)
Revista Cultivar, a partir de informações da Embrapa Soja
Quebramento da haste - Foto: Cláudia Godoy
Quebramento da haste - Foto: Cláudia Godoy

Problemas na produção de soja como o quebramento da haste e a podridão de grãos têm gerado preocupações significativas entre os agricultores do Paraná. Em resposta a essas questões, a Embrapa Soja, em colaboração com a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), o Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar) e técnicos de cooperativas paranaenses, realizaram reunião crucial para debater os impactos desses problemas na safra 2023/2024.

Durante o encontro, ficou acordado que as entidades participantes irão desenvolver ensaios conjuntos na safra 2024/2025. Estes testes seguirão um protocolo único e rigoroso, com o objetivo de coletar dados precisos sobre o comportamento das diferentes cultivares de soja em relação aos problemas identificados e suas causas subjacentes.

O quebramento da haste, um problema relatado com maior intensidade na região do Vale do Ivaí, especialmente em áreas de baixa altitude (abaixo de 500 metros), foi o principal foco da reunião. De acordo com os dados das cooperativas, essa condição foi observada em municípios como Marumbi, Kaloré, Borrazópolis, São João do Ivaí e São Pedro do Ivaí, com incidências mais significativas a partir de dezembro de 2023. A Nota Técnica publicada pela Embrapa Soja em 02 de fevereiro de 2024 esclarece que, embora o quebramento da haste seja evidente, não há correlação direta e sistemática com a ocorrência de podridão de grãos.

Por outro lado, a podridão de grãos tem sido um problema mais recorrente em outras regiões, como o médio-norte de Mato Grosso e Rondônia, com variações de severidade entre as safras e cultivares.

Em fevereiro deste ano, as instituições divulgaram as seguintes informações:

"As ocorrências de quebramento de haste e podridão de grãos na cultura da soja têm sido relatadas com maior frequência nos últimos anos, sendo a podridão de grãos desde a safra 2018/2019 na região médio-norte de Mato Grosso e em Rondônia, enquanto o quebramento de haste desde 2020/2021, também nessa região mato-grossense, assim como nos estados do Paraná e de Santa Catarina na safra 2023/2024.

Quebramento de haste da soja

O quebramento de haste da soja é um problema recorrente na cultura, relatado e estudado há mais de três décadas no Brasil, cujas conclusões das possíveis causas recaem na interação da sensibilidade genética de cultivares e o estresse ambiental (Arantes; Melo, 1994; Corrêa-Ferreira et al., 2006).

O quebramento de haste da soja ocorre, geralmente, a partir do período de pré-fechamento das entrelinhas de semeadura, podendo ser visualizado somente após o início da formação de grãos. É caracterizado pela maior fragilidade de sustentação da planta na base da haste, próximo ao nó cotiledonar (Figura 1). Essa fragilidade favorece o quebramento das hastes em decorrência de ventos. As plantas afetadas, com uma leve pressão lateral, estralam ao quebrar. As plantas quebradas podem permanecer com a parte aérea viva e verde, podendo completar a formação de grãos, mas oferecem dificuldades para a operação de colheita, em virtude de sua posição deitada no solo. Em condições de escassez de chuvas e temperaturas elevadas, as plantas quebradas secam antecipadamente e o enchimento dos grãos não é completado. As plantas quebradas comumente apresentam maior número de vagens chochas, com o enchimento de grãos interrompido. Na região do quebramento, podem ser observadas estrias necróticas na parte periférica do tecido lenhoso das hastes (Figura 2), mas as mesmas estrias podem ser encontradas em regiões superiores das plantas e em plantas sem quebramento.

O possível envolvimento de fungos fitopatogênicos e/ou outros fatores bióticos e abióticos, causando ou potencializando o quebramento de hastes, ainda está em estudo pela Embrapa e por outras instituições.

Podridão de grãos da soja

A podridão de grãos é observada a partir do início de enchimento de grãos. Externamente, as vagens podem apresentar sintomas de encharcamento e/ou escurecimento, sem abertura visível e, internamente, apresentam apodrecimento dos grãos (Figura 3). A presença de vagens com sintomas e de grãos apodrecidos ocorre de forma aleatória na planta e na vagem, respectivamente, não necessariamente acometendo todos os grãos (Figura 3). Por consequência, a incidência da podridão de grãos eleva a presença de grãos avariados, depreciando a qualidade do produto colhido. Os fungos que predominam nos isolamentos a partir dos grãos e das vagens (com e sem sintomas) são diferentes espécies de Diaporthe, Fusarium, Colletotrichum e, em algumas safras, também foi observada alta incidência de mancha-púrpura nos grãos, causada por Cercospora spp. (Kudlawiec et al., 2023). Esses e outros fungos podem ser encontrados de forma latente na planta e nos grãos, como endofíticos, sem causar sintomas aparentes (Sinclair, 1991), cada um associado a uma doença quando ocorrem os sintomas.

Os sintomas de apodrecimento de grãos observados em lavouras brasileiras, assemelham-se aos causados pelo complexo de Diaporthe spp., descrito em 1920 nos Estados Unidos (Lehman, 1923). Espécies de Diaporthe estão associadas a uma série de doenças da soja, incluindo apodrecimento de grãos, seca da haste e das vagens e cancro da haste, e levam a perdas de produção consideráveis em todo o mundo.

A podridão de grãos é favorecida por condições climáticas quentes e úmidas, especialmente desde o enchimento da vagem (R5) até a maturidade fisiológica (R8). O principal controle da podridão de grãos é por meio de seleção de cultivares menos suscetíveis. Fungicidas podem ser utilizados para reduzir a incidência (Kudlawiec et al., 2023).

Exposição das plantas às condições de elevadas temperaturas (acima de 30 ºC) durante a fase de enchimento de grãos pode provocar deterioração e elevados índices de enrugamento dos grãos (França-Neto et al., 1993). Esse enrugamento normalmente é mais intenso sob déficit hídrico, mas pode também ocorrer em condições normais de disponibilidade hídrica. O enrugamento afeta drasticamente a qualidade dos grãos e das sementes e propicia a infecção secundária por Diaporthe spp., o que pode propiciar o apodrecimento das vagens, principalmente em situações de ocorrência de chuvas frequentes em pré-colheita. Sabe-se que o caráter de enrugamento de grãos tem grande influência genética. Supõe-se que as cultivares que estão apresentando esse problema possam ser mais suscetíveis à sua expressão, aspecto esse que merece ser avaliado pela pesquisa.

Relação entre os problemas

Ainda não há dados suficientes que comprovem a relação entre o quebramento de haste da soja e a podridão de grãos. Cultivares mais sensíveis ao quebramento de haste e menos suscetíveis à podridão de grãos e vice-versa já foram observadas no campo, assim como cultivares sensíveis aos dois problemas.

O texto acima (em itálico) foi assinado pelos pesquisadores Maurício C. Meyer, Claudia V. Godoy, Francismar C. Marcelino-Guimarães, Claudine D. S. Seixas, Rafael M. Soares, Edison Ulisses Ramos Junior, José de Barros França-Neto, Francisco C. Krzyzanowski (Embrapa Soja); Dulândula Silva Miguel Wruck (Embrapa Agrossilvipastoril); e Austeclínio Lopes de Farias Neto (Embrapa Cerrados).

A Revista Cultivar publicou artigos sobre o assunto. Eles podem ser lidos, por exemplo, nas seguintes edições:

Cultivar Grandes Culturas 281

Cultivar Grandes Culturas 289

Cultivar Grandes Culturas 292

Cultivar Grandes Culturas 295

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