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São Paulo, maior mercado consumidor de trigo do país, a cada safra mostra seu potencial, na genética, na produção, na moagem, assim como na industrialização do grão. Nos últimos anos, a introdução de novas tecnologias, especialmente com a qualidade industrial demandada pelos moinhos, vem favorecendo o aumento de área semeada e de produção. Segundo dados da Conab, entre 2018 e 2019, a área semeada de trigo aumentou 75%, representando um aumento de 100% na produção A estimativa da Câmara Setorial do Trigo de São Paulo é de que o estado tem potencial de triplicar ainda mais a produção, chegando a 500 mil toneladas mais do que as 233,1 mil toneladas de 2019.
Inserido neste cenário, aconteceu na última terça-feira (19) a segunda edição do Seminário Técnico do Trigo de São Paulo. Promovido pela Biotrigo Genética e apoiado pela indústria sementeira, moageira e pelos principais cerealistas do estado, o evento reuniu cerca de 150 pessoas entre produtores de sementes, multiplicadores, cerealistas, técnicos, moinhos e triticultores do estado. O evento foi realizado em Itapeva (SP), cidade localizada no sudoeste paulista que é a maior produtora do cereal do estado, com 65% da área paulista cultivada. Entre os temas, o seminário abordou em três painéis aspectos relacionados às pesquisas, a qualidade industrial e o cenário de tecnologias disponíveis na região.
A palestra de abertura apresentou a dinâmica dos programas de melhoramento genético da Biotrigo, desde a definição dos cruzamentos, a condução dos ensaios de rendimento até a decisão de lançamento das cultivares. Segundo André Schönhofen, PhD em melhoramento genético, o desenvolvimento das cultivares inicia no planejamento dos cruzamentos, quando são realizadas as análises das características de cada genótipo existente e se antevê um novo trigo com base na combinação dos atributos positivos. “O programa de melhoramento também envolve avaliações de resistência às doenças e testes em milhares de materiais a campo e em ambientes controlados, além de parcelas demonstrativas em parceria com multiplicadores de São Paulo. Posteriormente, os materiais passam por análises de qualidade industrial tanto dentro do laboratório de qualidade da Biotrigo quanto em moinhos paulistas e de outros estados. Essas etapas facilitam a seleção em favor de maior sanidade e robustez específicas para a região, contribuindo para a estabilidade de rendimento de grãos e da qualidade industrial”, explicou.
A Biotrigo possui quatro programas de melhoramento distribuídos naAmérica do Sul, somando mais de 65 áreas de pesquisa voltadas a entender as distintas realidades de cada região tritícola.
O avanço genético em trigos para panificação foi o tema da palestra da supervisora de Qualidade Industrial da Biotrigo, Kênia Meneguzzi. Ela comparou as cultivares de trigo mais recentes às anteriores junto à Instrução Normativa nº 38/2010 do Ministério da Agricultura (MAPA) que classifica o trigo como melhorador, pão, doméstico, básico e para outros usos. “A legislação trouxe novos parâmetros de qualidade que até então eram secundários. As cultivares tinham W mais baixo, por exemplo, e suas performances não condiziam com o que o consumidor e a indústria esperavam. Com a normativa, o melhoramento seguiu seu trabalho em prol da qualidade industrial de acordo com a classificação normativa, sem deixar de lado a busca constante por mais produtividade e segurança. Em relação à segurança, o foco especialmente está na resistência às doenças de difícil controle e germinação na espiga, que podem afetar diretamente a comercialização dos lotes”, relatou. Kênia ainda explicou a importância dos cuidados nos processos de pós-colheita, como a secagem e o armazenamento, que podem interferir na qualidade tecnológica da farinha.
Com quase 20 moinhos em São Paulo, a comunicação entre a pesquisa, a indústria e a cadeia produtiva também é um avanço que vem repercutindo para fomentar o aumento da produção do grão no estado. Segundo Kênia, uma das ações do programa de melhoramento da Biotrigo que tem refletido no aquecimento do mercado a aceitação da indústria por trigos nacionais “Os novos materiais são aprovados somente após testes de panificação na padaria experimental e testes de reologia realizados no laboratório da Biotrigo. Ainda assim, as amostras são enviadas aos moinhos para aferição final, o que garante, de certa forma maior liquidez ao produtor”, disse. Posteriormente e de acordo com o retorno dos moinhos, cada multiplicador vai receber a informação para fomentar a produção da cultivar mais demandada pela indústria na sua região. “São Paulo busca, por exemplo, trigos branqueadores, melhoradores e com boa performance de panificação. Logo, se toda a cadeia estiver conectada com essas informações, o moinho vai ter acesso a matéria prima que deseja e o produtor obtém maior segurança para a venda”, complementou.
Deodato Matias Junior, supervisor comercial da Biotrigo, apresentou alguns exemplos de materiais que os produtores paulistas terão acesso nas próximas safras. TBIO Astro é uma cultivar que se encaixa em diversos requisitos importantes para o mercado de São Paulo. “Primeiro porque é um trigo melhorador com alta força de glúten, requisito valorizado na indústria para utilização nas mesclas com trigos de menor força de glúten. Está no topo do nosso ranking de qualidade industrial, com valores médios de 550 J”, explicou. Considerando as características agronômicas, Deodato destacou porque o material é o atual recordista do programa de melhoramento da empresa. “É uma cultivar de ciclo superprecoce e agronomicamente é o mais resistente a germinação na espiga e ao acamamento. No estado de São Paulo, a cultivar estará disponível para multiplicadores de semente em 2020”.
Com um ciclo vegetativo mais longo, a cultivar TBIO Ponteiro tem um posicionamento importante na região. Segundo Deodato, o ciclo tardio facilita o escalonamento de semeadura e colheita, minimizando riscos de geada. “Ao cobrir o solo por mais tempo, é possível controlar melhor as invasoras, preservar a umidade e reduzir o risco de enfrentamento à geada no espigamento. Em relação às doenças, como Oídio e Brusone, frequente nas primeiras semeaduras que tem superior nível de resistência, além de se apresentar excelentes produtividades”. TBIO Ponteiro atende ao mercado de panificação sendo aprovado pelos moinhos paulistas. A cultivar já está em comercialização nessa safra.
Finalizando a apresentação das tecnologias, Deodato falou sobre o lançamento do primeiro trigo com a tecnologia Clearfield no Brasil, presente na cultivar TBIO Capricho CL, uma parceria entre a Biotrigo e a empresa alemã, BASF. “Essa cultivar é tolerante ao herbicida pós emergente Raptor 70DG, do grupo químico das imidazolinonas, o que facilita o controle de plantas daninhas como azevém e aveia”. O sistema Clearfield chega ao trigo após 15 anos de utilização na cultura do arroz. “O objetivo de trazer essa tecnologia é proporcionar condições ao triticultor de fazer um controle efetivo das plantas daninhas, um dos grandes desafios do cultivo do trigo”, finalizou. A cultivar TBIO Capricho tem recomendação para as regiões de maior altitude no estado.
Segundo dados da Conab, em São Paulo, a área semeada e a produtividade média apresentaram incremento em 2019 em comparação à safra 2018, favorecendo o volume colhido. Foram 77,4 mil hectares semeados com a cultura, um acréscimo de 6,7% em relação a 2018. Quanto ao rendimento médio, o aumento foi de 12,8%, alcançando 3.024 kg/ha e para a produção um acréscimo de 20,2%, chegando a 234,1 mil toneladas.
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