Guerra entre Rússia e Ucrânia pode impulsionar venda de fertilizantes biológicos no Brasil

Para especialistas, o conflito deverá incentivar manejos mais sustentáveis, tanto do ponto de vista ambiental quanto econômico, fomentando estratégias alternativas aos fertilizantes convencionais para a nutrição das plantas

29.03.2022 | 14:25 (UTC -3)
Vinicius Rodrigues Macedo

O Brasil tem um importante papel no mercado global agrícola como fornecedor de grãos. Mas os resultados do setor este ano correm o risco de serem afetados pela guerra da Ucrânia, especialmente por conta do possível risco de desabastecimento de fertilizantes importados da Rússia. A alternativa para abastecer o mercado interno, segundo especialistas, poderá estar no aumento no consumo de fertilizantes biológicos.

De acordo com a Comex Stat, do Ministério da Economia, somente entre janeiro e março, o Brasil importou 5 milhões de toneladas de fertilizantes, somando US$ 2,7 bilhões, sendo 20% desse volume de origem russa. Em 2021, das 41,5 milhões de toneladas importadas, 9,2 milhões vieram da Rússia.

O Brasil importa quase 90% dos fertilizantes que são usados na agricultura. E a guerra já trouxe impactos significativos nos seus preços. O cloreto de potássio, por exemplo, teve aumento significativo, saltando de R$ 1.371 (em 01/01/2021) para R$ 5.020 (em 10/03/2022). Isso representa um aumento de 281,17%, segundo o ACERTO Weekly Fertilizer Report Brazil.

Para reduzir essa dependência dos fertilizantes minerais, é fundamental que o produtor rural busque fontes alternativas de nutrientes, como fertilizantes orgânicos, bem como ferramentas que aumentem a eficiência de uso de nutrientes pela planta.

Nesse sentido, o uso de microorganismos simbiontes pode reduzir ou até mesmo substituir o uso de fertilizantes minerais, sendo portanto uma excelente alternativa para a atual crise. Com a implantação dessas tecnologias naturais, analistas do agronegócio explicam que a atividade biológica do solo é favorecida, refletindo em aumento na produtividade das safras com o emprego de manejos mais sustentáveis, tanto do ponto de vista ambiental quanto econômico.

Francisco Jardim, sócio fundador da SP Ventures, uma das gestoras de Venture Capital mais tradicionais do país, reconhecida globalmente pela especialização na cadeia do agronegócio, observa que nos últimos anos ocorreu uma explosão na adoção dos biológicos como ferramenta de proteção ao cultivo, complementando o arsenal do produtor no combate a pragas e doença, tendência que ele acredita que deverá se intensificar em decorrência da guerra.

“O que vemos agora aqui no Brasil é justamente um holofote ainda maior para biológicos de apoio ao solo e a guerra na Ucrânia deverá jogar ainda mais luz nestes produtos como uma alternativa à escassez de fertilizantes minerais. São microrganismos que ajudam a solubilizar fósforo, potássio e fixar nitrogênio. Consequentemente, ajudam a planta e a raiz a absorverem mais nutrientes e não necessariamente ter de utilizar mais fertilizantes. É um catalisador desse processo de absorção dos nutrientes e fixação do nitrogênio”, afirma Jardim, que complementa dizendo que esse manejo biológico produz um efeito duradouro.

Leonardo Franchi, coordenador de comunicação da Gênica -- Inovação Biotecnológica, afirma que essa insegurança em relação ao fornecimento de fertilizantes já trouxe impactos significativos nos preços.

“O produtor rural já está considerando reduzir as doses de fertilizantes, comparado com o que ele usava em anos anteriores até mesmo optando por fontes de menor solubilidade, que não passaram por nenhum processo de beneficiamento, não estando, portanto, disponíveis para a planta”, observa o coordenador.

Com isso, o produtor passará a buscar ferramentas alternativas que venham aumentar a eficiência de fertilizantes e a efetividade do uso desses nutrientes no solo.

“Algumas dessas práticas são a correção do solo com calcário, o uso da adubação verde através de crotalária e outras plantas de cobertura e a adubação orgânica. Mas o que está sendo mais abordado e fomentado são os microrganismos que vão ajudar diretamente na disponibilização desses nutrientes, como é o caso do solubilizador de fósforo. E até mesmo os microorganismos que ajudam no desenvolvimento e a sanidade das raízes. Quando temos microrganismos que controlam nematóides, doenças de solo e pragas, temos um sistema radicular mais abundante e, consequentemente, os nutrientes do solo são mais aproveitados. Tudo isso ajuda na eficiência do fertilizante”, esclarece Leonardo.

Da mesma maneira, o uso desses microrganismos fixadores de nitrogênio, geram a redução ou mesmo a eliminação do uso de adubos nitrogenados, resultando em economia para o agricultor, melhora das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, aumento da produtividade, principalmente em solos pobres de nitrogênio e a minimização dos impactos do nitrogênio no meio ambiente, contribuindo para a sustentabilidade.

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