Guardiões de sementes crioulas trocam informações em evento

18.07.2010 | 20:59 (UTC -3)

Ao longo de dois dias (15 e 16 de julho), a conservação e a multiplicação das sementes crioulas foram os temas centrais das palestras e dos debates realizados na Embrapa Clima Temperado, durante o Seminário Internacional Sementes Crioulas – ‘O hoje e o amanhã’.

“As sementes são a vida do campo e fazem parte do cotidiano dos agricultores. As práticas populares de manutenção e de melhoramento de espécies são legados deixados de pais para filhos e que vão sendo disseminadas pelo homem do campo de geração em geração”, disse o agricultor, guardião de sementes e representante da Associação Biodinâmica do Sul (ABD Sul), Juarez Filipi Pereira.

Juarez destacou ainda que existe um momento em que não se diferencia mais o ser humano do ambiente, dos alimentos, do trabalho, do solo e de outros aspectos, pois tudo passa a se tornar um único organismo, que trabalha em sinergia em prol da vida. “As sementes são esperança de vida. Eu as vivo. Se eu, por exemplo, corto uma moranga que é grande, bonita e saborosa, naturalmente conservo as sementes, com amor e dedicação. Existe um critério de julgamento, um saber valioso, envolvido no processo de seleção das sementes que serão conservadas”, enfatizou o agricultor de Barra do Ribeiro.

O trabalho de um guardião de sementes envolve diversas etapas, entre elas: escolha das melhores plantas, preparo das sementes e do solo, tratos culturais, colheita, secagem e armazenamento. “Todas essas etapas exigem dedicação e amor às sementes”, enfatizou Juarez.

A pesquisadora da Embrapa Clima Temperado, Rosa Lia Barbieri, destaca a relevância do papel dos guardiões de sementes. Durante, o evento ela ciceroneou os palestrantes do Nepal, Abishkar Subedi e Rachana Devkota e da Índia, Saujanendra Swain, que conheceram os trabalhos desenvolvidos pela Unidade. Os estrangeiros estão envolvidos com o Programa de Manejo Comunitário de Biodiversidade (CBM), do qual a Unidade faz parte. “Essa troca de experiências com os visitantes enriquece os trabalhos de pesquisa”, disse ela.

O representante da Li-Bird, do Nepal, explica que algumas ferramentas de sensibilização participativa são realizadas desde 2003, através do CBM, junto aos agricultores do país, com o objetivo de proporcionar debates sobre a importância da agrobiodiversidade e incentivar trocas de experiências e de sementes crioulas. “Validamos a metodologia de registro comunitário da biodiversidade, através de narrativas do avô para a neta que mesmo ainda criança, vai registrando e descrevendo a história evolutiva de determinada semente. Implantamos bancos comunitários de sementes, garantindo acesso seguro às sementes dentro da comunidade. Além disso, todas as sementes são conservadas de maneira tradicional, de acordo com o conhecimento da comunidade”, explicou Abishkar. Segundo ele, dados revelam que essa iniciativa proporcionou às famílias consideradas pobres um maior acesso às sementes.

O representante da MSSRF, da Índia, disse que em seu país as casas dos agricultores estão muito próximas uma das outras. “Temos uma cultura de tribos, com nove grupos étnicos importantes e que estão interessados em contribuir com a conservação das sementes crioulas, pois seu cultivo é voltado para a subsistência, assim cada agricultor é considerado um guardião de semente”, explicou. Ele disse que a Índia realizou uma iniciativa mundial pioneira quando criou, em 2005, o primeiro órgão público voltado exclusivamente para a proteção de variedades crioulas e direito dos agricultores. “Em nosso país, cada comunidade detém um banco de sementes. O agricultor entrega sementes selecionadas de sua variedade para o banco, eles registram a variedade em seu nome e a conservam por um ou dois anos. É feita a multiplicação dessas sementes e parte delas fica armazenada a longo prazo no banco de sementes nacional”, explicou Saujanendra.

Embrapa Clima Temperado

Compartilhar

Newsletter Cultivar

Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura

LS Tractor Fevereiro