Workshop vai discutir conservação e uso de recursos genéticos animais
A preservação do conhecimento e a disseminação da genética transmitida por gerações através das sementes crioulas nortearam neste final de semana (01 e 02/09), em Canguçu, a quinta edição da Feira Estadual de Sementes Crioulas e Tecnologias Populares. Milhares de agricultores familiares passaram pelo Ginásio Municipal de Esportes Conrado Ernani Bento para conhecer e adquirir variedades de sementes, cuja preservação depende deste processo de troca.
Milho, feijão, flores, abóbora e mandioca estiveram entre as dezenas de materiais genéticos compartilhados por agricultores e entidades do setor. O produtor José de Cristo, que há doze anos vive com a mulher e dez filhos no assentamento Renascer, em Canguçu, levou sementes de melancia, moranga e abóbora para trocar durante a Feira. “As sementes crioulas são muito mais fortes, mais resistentes à seca”, avalia.
O diretor técnico da Emater/RS, Gervásio Paulus, destaca que as sementes crioulas são fruto da preservação realizada durante séculos pelos produtores. “Sem este resgate cultural, não teremos soberania nem segurança alimentar”, afirmou o diretor durante a abertura oficial do evento, na manhã de sábado. O presidente da União das Associações Comunitárias do Interior de Canguçu e Região (Unaic), Demaicon Peter, disse que este é justamente o intuito dos organizadores do evento. “É uma feira feita pelos agricultores. São eles que têm mantido esta produção mais agroecológica, mais limpa, e esta economia mais solidária.”
A produtora de Amaral Ferrador, Jacira dos Santos, está entre os que fazem questão de transmitir este conhecimento. Ela visitou a Feira neste sábado acompanhada do filho Alano, de sete anos. No estande da Embrapa Clima Temperado, ganhou mudas de abóbora, cenoura e batata, e explicou ao filho que esta rotação de espécies favorece a terra. “Ele adora plantar, já está aprendendo desde pequeno”, conta Jacira.
O chefe adjunto de pesquisa da Embrapa Clima Temperado, Sérgio Renan Alves, frisou que a Instituição tem entre suas prioridades a disseminação das sementes crioulas e das tecnologias populares. “Temos um compromisso com a agricultura familiar e sua sustentabilidade.”
Segundo a gerente regional da Emater/RS-Ascar de Pelotas, Karin Peglow, as sementes crioulas conferem autonomia aos agricultores e geram segurança alimentar, opinião reforçada pela nutricionista e gerente técnica adjunta da Emater/RS-Ascar, Regina Miranda. “As sementes crioulas têm propriedades nutritivas que muitas vezes as tradicionais não possuem, especialmente em relação aos sais minerais”, argumenta.
Além de disponibilizar um espaço para divulgação e troca de sementes, a programação da Feira incluiu exposição e comercialização de artesanato e produtos de agroindústrias familiares, apresentações culturais, oficinas temáticas e palestras. Durante a noite de sábado, o Centro de Treinamento de Agricultores da Emater/RS-Ascar de Canguçu promoveu jantar temático sobre agrobiodiversidade.
São realizados também eventos paralelos, como o IX Festival Estudantil da Cultura Alemã (Festical), promovido em parceria com a Secretaria Municipal da Educação. É o caso ainda do Fórum da Agricultura Familiar, onde a gerente técnica adjunta da Emater/RS-Ascar e presidente do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea/RS), Regina Miranda, apresentou as deliberações da V Conferência de Segurança Alimenta e Nutricional Sustentável do Rio Grande do Sul, realizada de 14 a 17 de setembro, em Porto Alegre.
A 5ª Feira Estadual de Sementes Crioulas e Tecnologias Populares é promovida pela Unaic, em parceria com o Governo do Estado, Governo Federal, Emater/RS-Ascar, Embrapa Clima Temperado, Prefeitura de Canguçu, congregações religiosas, associações, cooperativas ligadas à agricultura familiar e instituições financeiras.
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