Evento aborda mercado do trigo no Brasil e no mundo e manejo racional de fertilizantes

O Seminário Técnico do Trigo 2022 promoveu palestras sobre temas em evidência na cultura e apresentou novas tecnologias para o campo

27.04.2022 | 16:13 (UTC -3)
Daniela Wietholter Lopes
Foto: Divulgação Biotrigo/Diogo Zanatta
Foto: Divulgação Biotrigo/Diogo Zanatta

A safra de trigo de 2022 representa mais uma oportunidade de o Brasil seguir ampliando a área e produção do cereal. E quando observamos o contexto do trigo no mundo, o próximo ciclo ganha ainda mais importância para o país. Com o conflito na Ucrânia, incertezas são geradas sobre as exportações e preço do cereal no mundo.

E os efeitos já estão gerando consequências diretas para o Brasil, como um dos principais importadores mundiais de trigo. O contexto do trigo no mundo e as repercussões no mercado brasileiro foram alguns dos assuntos discutidos no Seminário Técnico do Trigo 2022, realizado nessa quarta-feira (27), em Passo Fundo (RS). O evento, promovido pela Biotrigo Genética, contou com a presença de mais de 650 pessoas, entre técnicos, cooperativas, cerealistas, moinhos, multiplicadores de sementes e triticultores do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

O gerente de relacionamentos da hEDGEpoint Global Markets, Roberto Sandoli Junior, explicou em sua palestra que grande parte do trigo que o Brasil compra vem da Argentina. “Como a Argentina disputa os mesmos mercados que a Rússia e Ucrânia, quando os preços desses países sobem, os da Argentina acompanham esse movimento. Consequentemente, o trigo importado chega muito mais caro nos portos brasileiros”.

Neste cenário, Roberto crê em uma perspectiva de aumento de área de trigo no Brasil na próxima safra. “Acredito que os moinhos vão dar preferência ao trigo nacional, ainda mais se tiver um trigo de qualidade, que atenda a demanda industrial dos moinhos. A perspectiva é que os preços continuem firmes e que realmente seja rentável para o produtor”, destacou.

Manejo racional de fertilizantes

Apesar da expectativa por uma boa remuneração nesta safra de trigo, o custo de produção também conta com preços elevados, sobretudo em relação aos fertilizantes. Desta forma, as próximas safras de inverno e verão irão exigir uma maior capacidade do agricultor em realizar um manejo racional dos insumos, visando otimizar ao máximo os gastos com fertilizantes na lavoura.

Esse tema, que ganha ainda mais evidência no agronegócio, foi abordado durante o seminário pelo professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e mestre e doutor em Ciência do Solo, Telmo Amado. “Vivemos um tempo de incertezas quanto ao abastecimento e elevação do custo dos fertilizantes. Isso requer um planejamento do produtor para que ele possa continuar a ter os avanços conquistados nas últimas safras em termos de produtividade e qualidade da sua lavoura, sem perder a oportunidade de um mercado que remunera o produto”, afirmou.

Segundo Telmo, é de grande importância que o produtor tenha o conhecimento do seu solo. “O agricultor deve buscar realizar uma fertilização racional, que se baseia em considerar o histórico de adubações realizadas anteriormente, quais são os nutrientes que já estão com teor elevado e buscar fazer um manejo nutricional equilibrado”, ressaltou.

Nova tecnologia

Para evitar grandes oscilações nas lavouras de trigo ao longo das safras, uma nova ferramenta surge como aliada do produtor brasileiro. São os mixes de cultivares de trigo voltados para a produção de grãos, que consistem na mistura entre duas ou mais cultivares do cereal. No maior estado produtor do grão nos Estados Unidos, o Kansas, a tecnologia já é consolidada desde os anos 2000.

Para Rômulo Lollato, PhD em Fitotecnia pela Universidade de Oklahoma, professor associado da Kansas State University (EUA) e palestrante do seminário, o principal benefício dos mixes é a garantia de maior estabilidade de produção na lavoura de trigo. “Em anos em que uma cultivar individual perca rendimento por um fator ou outro, o mix irá agir como um efeito tampão, fazendo com que as perdas na mistura não sejam tão grandes quanto na variedade individual”, explicou.

De acordo com Lollato, essa estabilidade é muito relevante ao produtor de trigo, pois o efeito de compensação normalmente protege o conjunto quando exposto a enfermidades em que um dos componentes apresente maior resistência, por exemplo. “E em termos de produtividade de grãos, os mixes, quando comparados aos seus componentes sendo semeados individualmente, tendem a ter um rendimento igual ou superior à média das cultivares individuais”, apontou Rômulo.

Se no Kansas, os mixes de cultivares de trigo respondem por 9 a 13% da área semeada no estado, no Brasil, a tecnologia dará seus primeiros passos a partir da safra de 2023. Com a chegada de XBIO Fusão ao mercado, o produtor brasileiro contará com um produto que trará mais estabilidade produtiva e qualidade na lavoura de trigo. “Fusão se destaca principalmente em comparação aos seus componentes quando semeados individualmente, oferecendo vantagens do campo à indústria”, assinalou o gerente comercial da Biotrigo para a América Latina, Fernando Michel Wagner. Alguns dos avanços de Fusão em relação aos componentes isolados são a maior resistência do mix ao oídio e a melhora na cor da farinha. “O produtor de trigo precisa de estabilidade, colhendo trigo todos os anos. Esse fator, além de manter a renda no inverno, faz com que o agricultor permaneça na cultura”, reiterou. O mix chega aos produtores na safra de 2023.

Produtividade e qualidade

Outro material que estará disponível ao agricultor no próximo ano é uma cultivar que promete mudar os padrões de produtividade para seu ciclo. TBIO Calibre, cultivar superprecoce, teve seus resultados e posicionamento apresentados durante o seminário. Para o gerente comercial regional sul da Biotrigo, Tiago De Pauli, Calibre traz equilíbrio e produtividade como seus principais pilares.

“A cultivar chega para trazer novos patamares de produtividade dentro desse ciclo. Ela oferece, ainda, uma excelente sanidade, o que vai facilitar bastante o manejo do agricultor”, apontou Tiago. Segundo De Pauli, desde as primeiras análises de resultados de rendimento, Calibre chamou a atenção do grupo de melhoristas por seu conjunto agronômico. “É importante que técnicos e agricultores conheçam essa ferramenta e suas características, para melhor explorar a capacidade genética de TBIO Calibre”, indicou.

Quando o assunto é a mudança de patamar em produtividade no trigo, os produtores podem se lembrar de TBIO Toruk, lançamento de 2014, que rapidamente se tornou uma das cultivares mais semeadas do Brasil, liderando esse posto durante diversas safras. Oito anos depois, o seminário apresentou uma evolução dessa cultivar, TBIO Motriz. Conforme o diretor e melhorista da Biotrigo, André Cunha Rosa, Motriz se assemelha muito a Toruk, mas apresentando avanços significativos. “Quando comparamos Motriz com Toruk, observamos várias vantagens. Em produtividade, ele tem ganho em quase todos os ambientes. Em segurança, é uma cultivar com maior resistência, sobretudo, à mancha amarela, giberela e brusone, problemas de difícil controle na cultura”, declarou. A cultivar entra em multiplicação em 2023.

O evento ainda trouxe outro lançamento que será multiplicado no próximo ano. TBIO Capaz, cultivar branqueadora, atende às demandas de um importante mercado, que recentemente vem recuperando os diferenciais de preço esperados para esse nicho. “É um material com excelente teto produtivo, principalmente quando comparado a outras cultivares branqueadoras”, destacou o gerente de melhoramento da Biotrigo e um dos palestrantes do evento, Ernandes Manfroi. Para ele, a cultivar se diferencia por entregar uma farinha de excelente qualidade e manter ótimos níveis de rendimento e segurança no campo. “TBIO Capaz também traz diversos avanços em termos de sanidade, como maior resistência à mancha amarela, ferrugem da folha, bacteriose, mosaico do trigo e giberela”, atestou Ernandes.

Manejo da principal doença do trigo

O controle de uma importante doença também foi uma temática abordada no Seminário Técnico do Trigo, com o painel ‘Resultados de pesquisa no manejo de giberela e DON’, apresentado pelo fitopatologista da Biotrigo, Paulo Kuhnem.

Um dos temas de maior importância para o produtor de trigo do Sul do país é a giberela. A doença é causada por um fungo, que produz a micotoxina deoxinivalenol (DON). Ele, por sua vez, traz impactos na qualidade do trigo.

“Temos uma legislação que limita a quantidade máxima permitida nos lotes de trigo e, posteriormente, na farinha. Atualmente, os limites estão em duas mil partes por bilhão (ppb) no lote de trigo e mil ppb para a farinha branca”, comenta.

A escolha da cultivar com bom nível de resistência à doença é um dos principais passos a serem tomados para o melhor controle da micotoxina. Mas, para Paulo, esse não é o único.

“Esse desafio só será superado quando trabalharmos com estratégias conjuntas de controle e transferência de tecnologia para o campo. Então, não basta a adoção de somente uma estratégia, como apenas a cultivar, fungicida ou beneficiamento”, conclui.

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