EPAMIG discute novas tecnologias para produção de mudas e plantio de café
Evento realizado em Patrocínio (MG) destacou a importância de produzir mudas em substratos para conter o avanço de nematoides na cafeicultura
15.03.2022 | 14:18 (UTC -3)
Bruno Menezes Andrade Guimarães/Epamig
A produção de mudas de café mais resistentes e livres de nematoides foi tema de mais um Seminário promovido pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) em parceria com a Associação Brasileira de Insumos para Agricultura Sustentável (INPAS). O evento ocorreu na última quinta-feira (10), no município de Patrocínio (MG), e reuniu empresários, produtores, viveiristas e pesquisadores do ramo da cafeicultura.
Na abertura do Seminário, a diretora-presidente da EPAMIG, Nilda Soares, destacou que a utilização de mudas de qualidade é a base para o sucesso das lavouras cafeeiras. Além disso, Nilda enfatizou o papel da pesquisa agropecuária no processo de geração de novas tecnologias para a produção de mudas cada vez mais vigorosas e de qualidade.
“Nosso objetivo, em um evento como esse, é discutir modos de produzir a melhor muda para servir nossos agricultores, os grandes protagonistas na produção de café no Brasil. As mudas são as principais indicadoras dos resultados que serão obtidos em nossos campos, e a pesquisa agropecuária da EPAMIG tem o compromisso de otimizar esses resultados”, afirmou.
O diretor-presidente da INPAS, Carlos Biondo, endossou as palavras de Nilda Soares e enfatizou que discutir novas tecnologias é essencial para o sucesso da cafeicultura brasileira.
“Para falar em eficiência na cafeicultura é preciso falar de novas tecnologias. No caso das muda de café, estamos discutindo a questão da utilização de substratos sustentáveis e com garantia de isenção de nematoides”, pontuou Carlos Biondo.
O Seminário, que neste ano chegou a 3ª edição, foi realizado com o apoio da Embrapa Meio Ambiente e da Fundação de Desenvolvimento do Cerrado Mineiro (Fundaccer).
O presidente da Fundaccer, Francisco Sérgio de Assis, destacou em sua fala que a região do Cerrado mineiro é exemplo mundial em termos de tecnologia, sustentabilidade e união. Francisco relatou sua experiência como produtor para ressaltar o valor dos trabalhos de pesquisa na busca por sanidade e variedade das lavouras.
“Graças aos trabalhos da EPAMIG com cafeicultura estamos avançando na sustentabilidade das lavouras em áreas infestadas por nematoides. A tecnologia, a inovação e a pesquisa são coisas que temos que abraçar e andar de mãos dadas. Se queremos que a nossa cafeicultura seja sempre sustentável, a pesquisa é fundamental”, finalizou.
O problema dos nematoides
Considerado um dos principais inimigos dos parques cafeeiros, os nematoides são microrganismos encontrados no solo e capazes de parasitar o sistema radicular das plantas.
Segundo a pesquisadora da EPAMIG, Sonia Salgado, uma vez infestados por nematoides, é praticamente impossível erradicar a praga. Além disso, o café é uma cultura perene. Isso significa que a possibilidade de reprodução de nematoides nas raízes se perpetua ao longo de vários ciclos nos campos.
“Na última década, temos notado maior ocorrência dos nematoides nas lavouras cafeeiras. Com o tempo, esses nematoides vão danificando os sistemas radiculares, o que faz com que as plantas percam raízes. Consequentemente, há perda de folhas e, então, a tendência é a morte dos cafeeiros”, explica a pesquisadora, responsável por uma das palestras do evento.
Mudas em substratos
Já que a recuperação de plantas atacadas por nematoides é difícil, a atitude mais correta é atentar-se para novos modos de produção de mudas sadias, livres dessas pragas.
Uma opção discutida no evento foi a utilização de mudas produzidas a partir de substratos, sem o uso do solo, e com riscos menores, ou quase nulos, de portar nematoides.
“No mercado encontramos vários produtos para compor substratos, tais como fibras de coco, vermiculita, turfas. O viveirista pode misturar esses materiais em seu próprio viveiro ou comprar o substrato pronto para fazer as mudas”, exemplificou Sonia Salgado.
Segundo o engenheiro agrônomo, José Augusto Taveira, a diferença entre uma muda produzida em solo e uma muda produzida em substrato é perceptível. Para ele, a muda preparada em substrato sem solo, bem manejada e nutrida, tende a ter um potencial produtivo maior. Um dos motivos são as taxas de porosidade presentes nos substratos.
“Existe uma diferença enorme quando a gente evolui de uma muda produzida em solo para uma muda bem formada em substrato de alta qualidade. O solo é internacionalmente reconhecido como material que não possui porosidade suficiente para ser usado em recipientes. Solo tem apenas 50% de porosidade, e o mínimo que se exige para produção de plantas em recipientes é 85%”, explicou Taveira.
Nesse sentido, Sonia Salgado concluiu sua fala com o exemplo bem-sucedido da citricultura. A pesquisadora relembrou que, na atualidade, as mudas de citros são feitas em substratos. “Se os citricultores venceram essa batalha, porque nós não seguimos o exemplo na cafeicultura? Precisamos inovar para evitar maiores prejuízos com nematoides”, concluiu.
Viveiristas engajados
O 3º Seminário sobre novas tecnologias para produção de mudas de café trouxe depoimentos de viveiristas da região do Cerrado mineiro.
O empresário Paulo Nascentes, de Patos de Minas (MG), entende que o mercado de produção de mudas de café precisa mudar. Para ele, a produção de mudas em tubetes ou bandejas com substratos livres de solo é uma das soluções para fugir dos temíveis nematoides.
Questionado sobre o preço das mudas feitas em substratos, Paulo Nascentes disse que, de fato, as mudas são levemente mais caras. Porém, o empresário afirma que os benefícios obtidos são capazes de compensar os valores investidos.
“O produtor é resistente com mudas feitas em substrato porque elas são um pouco mais caras. Ele fica fazendo contas, mas se esquece de que as mudas em substrato dão origem a plantas muito melhores, com pegamento melhor, que produzem mais e que não têm o risco de apresentar nematoides”, afirmou Paulo Nascentes.
O empresário de Monte Carmelo (MG), Francisco Spanhol, faz parte da terceira geração de uma família produtora de café. O município onde Francisco produz as mudas tem histórico de infestação por nematoides. O empresário, contudo, obtém êxito na produção ao seguir à risca o que diz a legislação e ao escolher boas cultivares e substratos.
“Nós não vendemos apenas mudas de café, nós vendemos tecnologia. Uma boa muda, acima de tudo, respeita as normas estabelecidas pelo Ministério da Agricultura e emprega o que há de mais moderno no mercado. Eu, por exemplo, só utilizo sementes credenciadas, comercializadas com nota fiscal, e estou sempre de olho em novas cultivares e insumos que vão originar mudas mais vigorosas”, explicou Francisco Spanhol.
Legislação
Minas Gerais é o estado que mais produz mudas de café no Brasil. Por esse motivo, o evento realizado em Patrocínio contou com a participação da auditora fiscal do Ministério da Agricultura (Mapa), Lidiane Lisboa.
Em sua fala, Lidiane enfatizou que o Brasil possui legislação específica para a produção de mudas. Entre o material exposto, o destaque ficou para a Instrução Normativa nº 35, própria para materiais de propagação de café. Para ter acesso ao documento na íntegra, clique aqui.
A EPAMIG é uma empresa vinculada à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa).
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