Embrapa trabalha em validação e transferência de tecnologia sobre a síndrome da morte do braquiarão em Mato Grosso

28.02.2013 | 20:59 (UTC -3)
Fonte: Assessoria de Imprensa

A produção de gado de corte no país é feita, na sua maioria, em pastagens. O estado do Mato Grosso tem cerca de 29 milhões de cabeças de bovinos e 26 milhões de hectares de pastagens. Nos últimos anos, os pecuaristas do estado têm relatado com frequência a degradação das pastagens de capim Marandu, também conhecida como a síndrome da morte do braquiarão.

Conforme Celso Manzatto, Chefe Geral da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), responsável pela atividade de zoneamento das áreas degradadas em projeto liderado pelo pesquisador Bruno Carneiro e Pedreira da Embrapa Agrossilvipastoril (Sinop, MT), “no Norte de Mato Grosso o braquiarão ainda é o principal capim para pastagem. E a degradação dessas pastagens está ocorrendo de maneira muito rápida”.

Uma equipe composta por integrantes da Embrapa Meio Ambiente e da Embrapa Agrossilvipastoril percorreu mais de 5.000 km no norte de Mato Grosso para realizar esse zoneamento, de 29 de outubro a 03 de novembro e de 10 a 14 de dezembro do ano passado. As observações de campo mostram que a degradação está relacionada a uma interação entre as precipitações intensas que ocorrem entre os meses de janeiro e março, com solos de baixa permeabilidade superficial, decorrente de sua constituição física e mineralógica. Outros fatores de natureza biológica também estão sendo investigados pelo projeto.

“Essa síndrome tem sido cada vez mais frequente, aparece em diversas regiões, e, segundo relato dos pecuaristas, o tamanho das áreas atingidas tem aumentado a cada ano. Esse fato, se não for contornado, pode tornar-se mais um fator agravante na redução da rentabilidade da atividade no estado, que já apresenta grande parte das pastagens com algum grau de degradação”, alerta o pesquisador Bruno Pedreira.

De acordo com o pesquisador, a única saída viável para essa questão é a substituição do capim Marandu nos locais em que ele apresenta o problema. O manejo adequado, o controle de insetos, a reposição da fertilidade do solo e a diversificação das gramíneas forrageiras nas propriedades são questões estratégicaa, e por isso, precisam ser consideradas pelo produtor para evitar a degradação das pastagens.

Nesse sentido, o projeto vem de encontro às metas do Plano ABC que tem o intuito de recuperar 15 milhões de hectares no país, e com isso deixar de emitir entre 83 e 104 milhões de Mg de CO2 equivalente até 2020. Também visa disseminar o conhecimento existente nas regiões acometidas, validar técnicas (cultivares) sugeridas para solução do problema e treinar técnicos que estejam envolvidos com a atividade pecuária. Com essa abordagem será possível ter áreas de pastagens mais produtivas, com menor ciclo de produção, maior captura e estocagem de carbono no solo e na biomassa e menor emissão de gases de efeito estufa.

A atividade de zoneamento, explica Celso Manzatto, busca avaliar, indicar e espacializar a susceptibilidade das terras à ocorrência da síndrome, com coleta, organização e sistematização de bases de dados, reconhecimento e identificação de áreas com síndrome no campo, buscando gerar um zoneamento preliminar, depois validar, reclassificar e gerar o zoneamento final.

Além disso, irá identificar as áreas com risco potencial de ocorrência da síndrome e difundir tecnologias e conhecimento para recuperação e manejo de pastagens acometidas pela síndrome da morte do capim Marandu.

Adicionalmente, esta degradação natural das pastagens, também tem sido agravada devido ao seu manejo inadequado. Por exemplo, antes de fazer um bom manejo da pastagem e do pastejo, os pecuaristas têm trabalhado no sentido de aumentar a área de pastagens (suprimento) para fornecer alimento a um mesmo rebanho (demanda). Em alguns casos utilizando-se de adubação antes mesmo de conseguir colher eficientemente o que produz, gerando grandes perdas de forragem, e o que é pior, levando a degradação dos pastos devido a sua má utilização.

A planta forrageira conhecida por capim Marandu, braquiarão ou brizantão, foi lançada em 1984 pela Embrapa e logo passou a ser utilizada em milhares de hectares de pastagens por todo o país. No Mato Grosso não foi diferente e, hoje, grande parte das propriedades do estado possui pastagens desse capim, que não tolera excesso de umidade no solo.

A utilização de várias espécies na propriedade propicia ao pecuarista maiores possibilidades de ganhos na atividade.

“A recomendação é que uma propriedade não tenha mais do que 40% da área com uma única planta forrageira. Ter três, quatro ou mais plantas na fazenda é muito importante no ponto de vista estratégico. Uma pode produzir mais na chuva, outra é mais tolerante à seca, além disso, se tiver um ataque de pragas, tenho plantas que são mais ou menos suscetíveis ao ataque”, explica Bruno Pedreira.

A escolha da planta forrageira deve ser feita com base no diagnóstico da área, na análise e correção de solo e, se possível, na utilização integrada com agricultura para reduzir os custos de formação dessa nova pastagem. Posteriormente, o produtor deve atentar-se ao manejo das pastagens, pois gramíneas forrageiras são plantas perenes que precisam de estabelecimento, utilização e manutenção adequada.

Esse tipo de abordagem, estimulando a diversificação de plantas forrageiras, bem como a indicação de manejo, adubação e condução possibilitam melhorias na eficiência e na imagem do pecuarista/agricultor que desempenha essa atividade às margens da Amazônia Legal. Com a renovação correta das pastagens espera-se impacto positivo na atividade com menor ciclo de produção, maior captura e estocagem de carbono no solo e na biomassa e menor emissão de gases de efeito estufa.

“A ideia é ter uma pastagem que incremente o carbono e que se consiga ter mais animais na área. Em um pasto bem formado, fala-se em 5 a 10 toneladas de raízes na forma de carbono fixado nesse solo. Plantas que produzem de 20 a 40 toneladas de matéria seca por ano e que talvez metade fique no solo em forma de matéria orgânica. Com o boi tendo mais forragem pra comer e de melhor qualidade, ele ganha mais peso, vive menos no campo e emite menos metano no tempo e espaço”, explica o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril.

Gabriel Faria

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