Reunião de Pesquisa de Soja reúne 500 representantes da cadeia produtiva da soja
Reunião foi oficialmente aberta nesta quarta (23/8), no buffet Planalto, em Londrina
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), que indica onde e quando semear soja para minimizar os riscos de perdas por eventos meteorológicos adversos, atualmente, não leva em consideração o manejo do solo, explica José Renato Farias, pesquisador da Embrapa Soja. Por isso, a Embrapa propõe indicadores que possam expressar os diferentes níveis de manejo do solo e suas respectivas contribuições no suprimento de água e, consequentemente, na redução dos riscos climáticos.
O detalhamento da proposta está disponível no "Documento 447 - Níveis de manejo do solo para avaliação de riscos climáticos na cultura da soja" e foi apresentado durante a Reunião de Pesquisa de Soja, em Londrina (veja link no fim desta matéria).
“Entendemos que a qualidade do manejo do solo adotado pelos sojicultores tem enorme potencial em mitigar os riscos de perdas de produtividade por seca, a exemplo das práticas como a adoção plena do Sistema Plantio Direto (SPD)”, explica o pesquisador Henrique Debiasi, da Embrapa Soja.
“Nossa proposta é enquadrar as áreas de produção de soja em quatro níveis de manejo (NMs), segundo indicadores e critérios que refletem os impactos das práticas agrícolas sobre características e processos físicos, químicos e biológicos do solo”, diz Debiasi.
“A matriz resultante das atuais seis classes de água disponível (em função da textura do solo) e dos quatro níveis de manejo do solo propostos, resultaria em vinte e quatro valores de água disponível à cultura, capazes de expressar, com maior fidelidade, os riscos à cultura”, comenta Farias.
Em conformidade com a qualidade e o histórico do manejo adotado, a metodologia prevê a adequação de parâmetros dos modelos do Zarc que determinam a disponibilidade de água para a cultura, gerando assim riscos hídricos decrescentes do primeiro ao quarto nível (NM1 ao NM4). “Para o enquadramento nos níveis de manejo, foram selecionados sete indicadores que refletem a qualidade do manejo e a fertilidade do solo, sob o ponto de vista de maior disponibilidade de água e crescimento radicular”, afirma Debiasi.
Os indicadores de níveis de manejo sugeridos são: a quantidade de anos sem preparo do solo; a porcentagem de cobertura do solo na semeadura da soja; a diversificação de culturas consideradas nos últimos três anos; as condições gerais de fertilidade do solo pela concentração de magnésio e potássio (saturação por bases); o teor de cálcio e o percentual de saturação por alumínio que revela a probabilidade de ocorrer toxidez de alumínio para as plantas.
De acordo com o pesquisador Alvadi Balbinot, três dos indicadores refletem diretamente os pilares que fundamentam o Sistema Plantio Direto – SPD (cobertura do solo, mínimo revolvimento e diversificação de espécies vegetais). “Portanto, o SPD se constitui em uma importante estratégia para mitigar o risco climático relacionado à ocorrência de secas”, explica Balbinot.
O pesquisador afirma ainda que outros indicadores estão relacionados com a acidez do solo em superfície e subsuperfície. “Este fator quando não corrigido adequadamente pode limitar o crescimento e o funcionamento das raízes, aumentando assim o risco de perdas expressivas de produtividade por seca”, destaca.
Outro indicador relevante é o Índice de qualidade estrutural do solo (IQEs), pelo Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo (DRES). O DRES é um método para qualificar a estrutura da camada superficial do solo, baseado em características detectadas visualmente em amostras dos primeiros 25 cm. “A metodologia apresenta aplicação prática para diagnosticar se o solo apresenta compactação ou ainda se está apresentando melhorias em função das práticas adotadas, quando realizado de maneira sequencial ao longo do tempo”, diz.
Com a incorporação dos níveis de manejo nos trabalhos de Zarc, “espera-se maior fidelidade na representação dos sistemas produtivos; melhor caracterização e quantificação dos riscos hídricos à cultura; valorização dos bons produtores e indução ao uso de boas práticas agrícolas; redução dos riscos e maior estabilidade da produção, contribuindo para a maior sustentabilidade dos sistemas agrícolas”, destaca Farias
A manutenção da cobertura do solo e a preservação ou aumento do teor de matéria orgânica e a melhoria das propriedades (físicas, químicas e biológicas) do solo são, portanto, benefícios que se obtém mediante a adoção do Sistema Plantio Direto.
“Além desses benefícios, o crescimento do sistema radicular tem grande importância para o aumento do reservatório de água disponível durante os períodos de estresse hídrico”, destaca o pesquisador Júlio Franchini, da Embrapa Soja.
“Nesse sentido, práticas de manejo do solo que aumentem a infiltração e a retenção de água no solo e o crescimento das raízes das culturas em profundidade são relevantes para minimizar as perdas por déficit hídrico”, ressalta Franchini.
Segundo a Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto, o SPD está presente em cerca de 33 milhões de hectares no Brasil, porém, a maior parte dessa área não atende de forma integral às premissas do sistema, restringindo-se, à mínima mobilização do solo pela eliminação de operações de preparo do solo.
Em trabalhos conduzidos na Embrapa Soja, ao longo de 15 safras, verificou-se que os maiores rendimentos de grãos de soja foram obtidos com 650 a 700 mm de água, bem distribuídos ao longo de todo o ciclo.
De acordo com Farias, a água desempenha a função de solvente, transportando gases, minerais e outros solutos na planta, além de atuar como regulador térmico, agindo tanto no resfriamento como na manutenção e na distribuição do calor. “A disponibilidade de água é importante, principalmente em dois períodos do ciclo de desenvolvimento da soja: germinação-emergência e floração-final de enchimento de grãos”, diz Farias.
“Porém, para garantir máximo rendimento de grãos, a água necessária deve ser disponibilizada ao longo de todo o ciclo, a fim de atender as exigências da cultura, podendo ser suprida através da chuva, da irrigação ou pelo armazenamento de água no solo."
A adoção do SPD de forma isolada não é, na maioria das situações, condição suficiente para o controle efetivo das perdas de água, solo e nutrientes por erosão hídrica.
“A falta de manutenção ou eliminação parcial ou total dos terraços, sem critério técnico, associada à realização das operações mecanizadas paralelamente ao declive, pode resultar em elevadas perdas de água, solo e nutrientes por erosão hídrica, mesmo em SPD, comprometendo a sustentabilidade do sistema de produção de soja”, explica Franchini.
De 2013 a 2021, 48% das coberturas deferidas por perda no Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) foram motivadas por seca, enquanto a chuva excessiva e as geadas representaram perdas de 20% e de 19%, respectivamente. Além disso, a Embrapa Soja fez um levantamento na região Sul do Brasil e Mato Grosso do Sul, confirmando que a seca ocorrida nestes estados do na safra 2021/22, reduziu a produção de soja em 403 milhões de sacas.
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