Embrapa pesquisa valores de coeficientes de cultura para as condições do Brasil

​Uma pesquisa realizada na Embrapa Milho e Sorgo busca fazer o levantamento bibliográfico de valores de coeficientes de cultura (Kc) para as condições brasileiras

01.09.2016 | 20:59 (UTC -3)
Sandra Brito

Uma pesquisa realizada na Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas-MG, busca fazer o levantamento bibliográfico de valores de coeficientes de cultura (Kc) para as condições brasileiras. Os trabalhos são liderados pelo pesquisador Paulo Emílio Pereira de Albuquerque e integram um projeto financiado pela Agência Nacional de Águas (ANA).

O estudo, iniciado em agosto de 2015, visa, também, obter valores de Kc para condições gerais, de acordo com o Manual 56 da FAO, para a inclusão de localidades que possuem apenas dados experimentais parciais ou inexistentes, em função do tipo de cultura e época de plantio.

O estudo foi motivado por haver uma tendência crescente de expansão da agricultura irrigada no Brasil. Outros fatores considerados foram os conflitos pelo uso da água, a carência de dados mais realistas sobre coeficientes de cultura (Kc) necessários ao manejo correto de irrigação e a sua consequente necessidade de planejamento e ordenamento dessa atividade em bases econômicas e ambientais sustentáveis.

Segundo Albuquerque, os valores de coeficientes de cultivo permitem determinar com maior exatidão o requerimento de água das culturas para o manejo de irrigação. "Cada cultura tem o seu coeficiente. Por isso, a primeira ação do projeto busca realizar o levantamento dos trabalhos já elaborados para as condições brasileiras. A ideia inicial era considerar os principais polos de agricultura irrigada do país, seguindo os ciclos de cada cultura, entretanto, em função da baixa disponibilidade de dados experimentais, optou-se também por estimar Kc para todos os municípios pela metodologia do FAO/56", relata o pesquisador.

As culturas estudadas são as de ciclo anual, como milho, feijão, sorgo, trigo, soja, algodão, arroz, girassol, e as principais hortaliças; as culturas energéticas de ciclo curto, como a cana-de-açúcar; e as culturas de ciclo perene, como o café, os citros, a uva e a manga.

Paulo Emilio ressalta que todos os estudos que envolvem Kc são importantes, porém, geralmente, para as condições brasileiras, não se encontra o Kc em dados experimentais para todas as culturas, nas diversas regiões. "Há um outro método para se obter esses valores, por meio do Manual 56 da FAO. Esse manual tem uma tabela onde o Kc é corrigido, de acordo com duas variáveis climáticas: umidade relativa do ar e velocidade do vento", diz o pesquisador.

Para obter essas variáveis, é preciso consultar uma série histórica de dados climáticos de todas as estações meteorológicas instaladas no País. A partir desta consulta, é criada uma base de dados para períodos de dez dias (decêndios) para todos os municípios brasileiros. "Assim, fazendo a correção do Kc pela metodologia do FAO/56, se obtém o Kc para cada cultura e época de plantio", explica Albuquerque.

"Os agricultores irrigantes e os agentes que trabalham com o zoneamento climático serão os beneficiados principais deste estudo. Para a Agência Nacional de Águas (ANA), esses dados são interessantes para auxiliar na decisão da outorga do uso da água", afirma o pesquisador.

Coeficientes de cultura (Kc) do milho

Um dos estudos que compõem a pesquisa realizada na Embrapa Milho e Sorgo pelo pesquisador Paulo Emílio Albuquerque foi denominado "Coeficientes de cultura (Kc) do milho obtidos experimentalmente comparados aos do manual FAO/56 para o manejo de irrigação". Participaram da pesquisa os acadêmicos de engenharia agronômica da Universidade Federal de São João del-Rei (Campus Sete Lagoas) Crisálida Alves Correia, Wander Lauro do Amaral e Christoph Hermann Passos Tigges.

Segundo Albuquerque, o estudo permitiu fazer uma comparação entre as lâminas líquidas de irrigação requerida (LIR) pela cultura do milho, em quatro municípios brasileiros. Para os cálculos, foram usados valores obtidos de coeficiente de cultura (Kc) por três métodos de obtenção: método observados; ajuste dos observados por modelo matemático - polinômio do 3º grau; e método FAO/56. O resultado constatou boa estimativa para a LIR, cujos desvios estiveram na faixa de -10% a +10%.

"Esta informação, que poderá ser comprovada com dados de mais outras comparações, trará como benefício a segurança de utilizar dados de Kc ajustados, segundo a metodologia preconizada pelo manual FAO/56, para qualquer município do território brasileiro", diz Albuquerque.

Este trabalho será apresentado no XXXI Congresso Nacional de Milho e Sorgo, que acontecerá de 25 a 29 de setembro de 2016, em Bento Gonçalves-RS.

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