Embrapa Agroenergia foca na eficiência e sustentabilidade do agro

Estratégia é contribuir para que biocombustíveis e bioenergia sejam produzidos com maior eficiência e sustentabilidade, ajudando a garantir a segurança energética do país

10.05.2023 | 14:08 (UTC -3)
Embrapa

Contribuir para que biocombustíveis e bioenergia sejam produzidos com maior eficiência e sustentabilidade, ajudando assim a garantir a segurança energética do país. Esta é uma das mais importantes estratégias que têm pautado a agenda de pesquisas da Embrapa Agroenergia, que, desde a sua criação, atua no desenvolvimento de novas tecnologias de alta performance para os mercados da agroenergia. 

Outra estratégia igualmente importante e que também pauta a agenda da unidade é o desenvolvimento de novos modelos e processos industriais que permitam produzir, a partir da biomassa, além de biocombustíveis e agroenergia, novos bioprodutos incluindo bioinsumos. “Estamos dessa forma cada vez mais inseridos no contexto de consolidação da nova bioeconomia nacional”, afirma o chefe-geral da unidade, Alexandre Alonso. “Hoje, a Embrapa Agroenergia está associada às agendas de transição energética, descarbonização, economia circular, biorrefinarias, reindustrialização verde e intensificação sustentável. Agendas contemporâneas e importantes para a bioeconomia”.

No Brasil, a bioeconomia - que busca substituir os combustíveis fósseis por combustíveis de origem (bio) renovável e produtos químicos e materiais não renováveis por bioprodutos - já é realidade desde pelo menos meados da década de 1970. Nesta época, foi criado o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), iniciativa pioneira que apostou na produção de um biocombustível a partir da cana-de-açúcar como alternativa à escassez e aos altos preços dos combustíveis fósseis resultantes da crise do petróleo.

Ao apostar na bioeconomia, nações como o Brasil buscam explorar novas oportunidades de negócio e vantagens competitivas dos sistemas agroindustriais já estabelecidos, além daquelas que provêm da ampla biodiversidade natural, como forma de promover um rápido desenvolvimento social e econômico. 

Em um contexto mundial de transição energética, um Centro de Pesquisa como o da Embrapa Agroenergia, com uma agenda focada em biocombustíveis e bioprodutos, é de importância estratégica porque contribui para a mudança dos modelos de produção e consumo, dependentes de matérias-primas fósseis e emissores de grandes quantidades de gases de efeito estufa na atmosfera, para modelos de baixo carbono ou mesmo neutros em carbono. 

Segundo o chefe-geral, o papel da pesquisa desenvolvida pela Unidade hoje é ainda mais prioritário. “Quando a Embrapa Agroenergia foi criada, nosso olhar era quase exclusivo para a geração de tecnologias voltadas para uma maior produção de biocombustíveis e agroenergia, sem um componente ambiental e de descarbonização tão evidente quanto temos hoje”, explica ele. “Contudo, há alguns anos, as agendas de sustentabilidade e de descarbonização passaram a ser indissociáveis da agenda de desenvolvimento de novas tecnologias voltadas à produção sustentável de biocombustíveis e bioprodutos”. 

Entre os exemplos citados por ele, estão a Política Nacional de Biocombustíveis, o RenovaBio, que relacionou a eficiência energética com a eficiência ambiental, por meio da nota de eficiência energético-ambiental. “Nesse contexto, novos pacotes tecnológicos vão permitir que a produção de biocombustíveis avançados com maior conteúdo energético e menor pegada de carbono, além de outros bioprodutos a partir de modelos de biorrefinarias”, comentou Alonso. 

Na sua opinião, hoje há o olhar sob a ótica de biocombustíveis e de agroenergia, associando a agenda de descarbonização e de sustentabilidade com uma robusta agenda de bioprodutos, bioinsumos, bioeconomia e de intensificação sustentável da agricultura. “O papel da Embrapa Agroenergia é conectar o campo e a indústria em mercados cada vez mais pujantes e inovadores”, completa.

Início ligado ao Plano Nacional de Agroenergia

A Embrapa Agroenergia foi criada em 24 de maio de 2006, como uma ação do Plano Nacional de Agroenergia (PNA). Nos primeiros anos, foram estabelecidos projetos para o Centro de Pesquisa, a partir dos quatro eixos estabelecidos pelo PNA: Etanol, Biodiesel, Florestas Energéticas e Coprodutos e Resíduos.  Em seus primeiros anos, a Unidade teve como foco a   coordenação da agenda de pesquisa nessas quatro vertentes, articulando projetos de P&D com outras Unidades da Embrapa, universidades, institutos de ciência e tecnologia (ICT) e empresas. A partir de 2010, com a inauguração do edifício-sede da Unidade e de modernos laboratórios temáticos, a Embrapa Agroenergia passou a ter ações próprias de Pesquisa e Desenvolvimento, ampliando sua atuação para a química e a tecnologia de biomassa, além dos biocombustíveis.

A Unidade  foi estruturada em laboratórios temáticos, entre os quais genética e biotecnologia, processos bioquímicos, química e tecnologia de biomassas e biocombustíveis, responsáveis por dar início à intensa atuação em biotecnologia microbiana, biotecnologia industrial e em processos.  

Segundo Alonso, em um primeiro momento, a Embrapa Agroenergia se concentrou em desenvolver e testar biomassas e diversificar matérias-primas para a produção de biodiesel, pesquisando palmeiras nativas, como a macaúba, além de desenvolver variedades de cana-de-açúcar, por meio de biotecnologias. Posteriormente, além do trabalho com novas biomassas e biotecnologia, a Unidade passou a se dedicar ao desenvolvimento de bioprocessos industriais, ou seja, pesquisas concentradas em conversão das biomassas em biocombustíveis.

“Mantivemos uma linha focada em biomassas, mas expandimos para a linha de bioprocessos”, ressaltou ele, lembrando a ampliação dos desafios da Unidade, que começou a focar não somente no mercado de agroenergia, mas também no das indústrias químicas e de materiais.

Em 2016, o Centro de Pesquisa reorganizou suas ações em quatro novos eixos: Biomassas para Fins Industriais, Biotecnologia Industrial, Química de Renováveis e Materiais Renováveis, visando estabelecer um posicionamento com foco no desenvolvimento da bioeconomia, em duas grandes vertentes: biocombustíveis/agroenergia e bioprodutos/químicos renováveis. O período coincidiu com a revisão do modelo de negócios, e a Embrapa Agroenergia passou a atuar estrategicamente orientada para realizar inovação aberta.

No mesmo ano, a Embrapa Agroenergia foi credenciada como a primeira Unidade da Embrapa na Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), com o objetivo de realizar pesquisas com parceiros do setor industrial. A iniciativa deu tão certo que a Embrapa Agroenergia foi recredenciada, com ampliação do escopo de atuação para todos os eixos temáticos nos quais tem pesquisas.

Com isso, mais do que desenvolver ativos e depois ofertá-los em uma estratégia padrão de transferência de tecnologia, a Unidade passou a identificar no mercado quais eram os desafios e as dificuldades de seus clientes e a cocriar ou codesenvolver novas soluções tecnológicas com parceiros estratégicos e clientes. Paralelamente, a Embrapa Agroenergia iniciou a produção de uma série de estudos prospectivos e implementou o Observatório de Tendências em Biocombustíveis e Bioprodutos para apontar cenários, tendências e tecnologias-chave para o desenvolvimento de soluções que apoiaram a delimitação do novo escopo de atuação da Unidade. 

“Passamos a atuar sob a ótica da inovação aberta, codesenvolvendo e cocriando junto com os parceiros soluções tecnológicas para problemas concretos do mercado”, destaca ele. “Esses novos desafios passaram a advir das demandas dos nossos clientes e do cenário que foi apontado pelo observatório de tendências, que ajudou a direcionar nossa carteira de projetos”, disse Alonso. 

Essa trajetória de 17 anos levou a Embrapa Agroenergia a se estabelecer como um vetor da bioeconomia sustentável. As novas tecnologias de alta performance para os mercados de biocombustíveis, bioenergia, bioprodutos para aplicação industrial e bioinsumos agrícolas desenvolvidas pelo Centro são uma contribuição clara e direta para a descarbonização da economia e para a transformação das cadeias de produção do País.

Biomassas 

O programa de P&D da Embrapa Agroenergia atualmente está focado no desenvolvimento de biomassas e em processos químicos, bioquímicos e biotecnológicos para a produção de biocombustíveis e bioprodutos, tais como os bioinsumos.

“No segmento de biocombustíveis, destacam-se pesquisas para o desenvolvimento de biomassas com características especiais combinadas a processos que visam  maior eficiência na produção de etanol, biodiesel e outros combustíveis avançados, como o diesel verde, os combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, sigla em inglês) e o hidrogênio verde, além de ações de P&D para a produção de biogás e biometano, para aproveitamento de resíduos agroindustriais e para a valorização do digestato como biofertilizante”, explicou o chefe-adjunto de P&D da Embrapa Agroenergia, Bruno Laviola. 

Na lógica de biorrefinarias, a UD desenvolve ativos com foco na produção de bioinsumos para a agricultura e pecuária, como biofertilizantes, bioestimulantes para plantas e bioativos para a nutrição animal. Já para a agroindústria, as pesquisas têm desenvolvido bioinsumos e bioprodutos que contribuem para a maior eficiência e a descarbonização dos processos produtivos, voltados, por exemplo, para as indústrias alimentícia, farmacêutica, cosmética e outras de base renovável. 

“É importante também destacar o Banco de Germoplasma de Microrganismos e de Microalgas da Unidade, que é a base para o desenvolvimento das diversas soluções tecnológicas para a produção de biocombustíveis e bioprodutos”, afirmou Laviola.

Vitrine Tecnológica com diferentes soluções 

Na Vitrine Tecnológica da Embrapa Agroenergia, espaço virtual onde estão disponíveis as soluções desenvolvidas pela Unidade e por instituições parceiras, é possível conhecer os ativos que podem ser negociados por meio do modelo de inovação aberta, permitindo a transferência das tecnologias, em atendimento às demandas da sociedade. O objetivo é prover de matérias-primas, insumos e processos os mercados de biocombustíveis, nutrição animal, produtos químicos e materiais de origem renovável.

Os ativos tecnológicos estão agrupados em quatro eixos trabalhados pela UD: Biomassas, Biotecnologia Industrial, Química de Renováveis e Materiais Renováveis.

Em Biomassas, estão novidades para a produção de microalgas, canola, cana-de-açúcar e macaúba. Em Biotecnologia Industrial, microrganismos e enzimas que podem ser aplicados na desconstrução de biomassa, geração de produtos químicos, tratamento de efluentes e produção de biogás. No eixo Química de Renováveis, estão processos químicos ou produtos obtidos nesses processos, tendo como matéria-prima biomassa ou resíduos dela derivados. São tecnologias para tratamento de biomassa, secagem de frutos e refino de óleo de macaúba, reforma de biogás, microencapsulação de betacaroteno e biopesticidas. E no eixo Materiais Renováveis, estão as tecnologias para a produção de nanofibras de celulose e obtenção de borracha natural reforçada.

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