Drosophila suzukii resistente ameaça produção em Minas Gerais

Estudo identifica resistência ao inseticida imidacloprido em população da zona da mata mineira

05.05.2025 | 07:22 (UTC -3)
Revista Cultivar

Uma linhagem de Drosophila suzukii apresenta resistência elevada ao inseticida imidacloprido no município de Paula Cândido, em Minas Gerais. A conclusão conta em estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

D. suzukii é capaz de infestar morangos, uvas, figos, pêssegos, ameixas, entre outros frutos. Ela se diferencia de outras drosófilas por ovipositar em frutos ainda íntegros, o que gera perdas diretas na lavoura.

Há poucos estudos sobre resistência a inseticidas nessa espécie na região neotropical. A pesquisa da UFV, liderada por Felipe Andreazza e Eugenio Oliveira, preenche essa lacuna ao avaliar populações da mosca coletadas em três estados do sudeste brasileiro e expostas a quatro ingredientes ativos: deltametrina, permetrina, espinetoram e imidacloprido.

Dentre as amostras analisadas, apenas a população de Paula Cândido demonstrou resistência significativa. Mesmo quando exposta a uma dose dez vezes superior à concentração letal média de imidacloprido, a mortalidade ficou abaixo de 54%. Esse resultado contrasta com as outras populações testadas, incluindo uma de Ervália, a apenas 24 km de distância, que mostrou total suscetibilidade.

A resistência observada está associada à presença de enzimas de desintoxicação, em especial as da família do citocromo P450. Quando os indivíduos resistentes foram previamente tratados com piperonil butóxido, um inibidor dessa enzima, a mortalidade aumentou, o que confirma o papel desses mecanismos metabólicos no fenômeno.

A hipótese dos pesquisadores é que o uso intensivo e frequente de neonicotinoides na região, principalmente no cultivo de café e goiaba, esteja pressionando a seleção de indivíduos resistentes. Em culturas como a goiaba, inseticidas à base de imidacloprido são aplicados quinzenalmente, e há registros da sobrevivência de D. suzukii em frutos em decomposição de café, que podem funcionar como abrigo temporário da praga fora da safra principal.

O estudo recomenda a rotação de ingredientes ativos com diferentes modos de ação, monitoramento contínuo de resistência e uso racional dos inseticidas. A adoção de práticas como o controle biológico, uso de armadilhas atrativas e manejo cultural deve ganhar protagonismo para reduzir a dependência dos químicos e manter a eficácia dos produtos existentes.

A resistência identificada em Paula Cândido permanece mesmo após oito gerações da praga criadas em laboratório sem exposição ao inseticida, o que sugere que o traço está bem estabelecido naquela população. A disseminação de indivíduos com esse perfil genético pode comprometer o controle em outras regiões produtoras de frutas.

Mais informações podem ser obtidas em doi.org/10.3390/insects16050494

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