Cultivo prolongado reduz a retenção de imidacloprid no solo de citros

Pesquisa chinesa mostra que solos de pomares antigos acumulam mais matéria orgânica, mas perdem eficiência na fixação do inseticida

04.05.2025 | 16:35 (UTC -3)
Revista Cultivar
Espectros de fluorescência tridimensional de matéria orgânica dissolvida em diferentes anos de plantio: (a) 50 anos; (b) 30 anos; (c) 10 anos
Espectros de fluorescência tridimensional de matéria orgânica dissolvida em diferentes anos de plantio: (a) 50 anos; (b) 30 anos; (c) 10 anos

O aumento da idade de cultivo em pomares de citros pode comprometer a capacidade do solo de reter o inseticida imidacloprid (imidacloprido, CAS 38261-41-3, IRAC 4A). É o que revela um estudo conduzido por cientistas da Universidade Agrícola de Jiangxi, que analisaram solos com 10, 30 e 50 anos de cultivo contínuo em regiões de solo vermelho, no sul da China. Os pesquisadores usaram técnicas espectroscópicas avançadas para entender as interações entre o inseticida e a matéria orgânica dissolvida (DOM) no solo.

Com o passar dos anos, o solo desses pomares acumulou mais matéria orgânica. O teor aumentou quase 58% ao longo de cinco décadas. Esse acúmulo é reflexo da decomposição de resíduos vegetais e da ação de microrganismos estimulados pela adubação.

No entanto, quanto mais velho o pomar, menor a afinidade entre o solo e o imidacloprid. Isso se deve à complexidade crescente das moléculas orgânicas, que se tornam maiores e mais aromáticas, dificultando a adsorção do pesticida.

A pesquisa identificou que o imidacloprido interage preferencialmente com frações da matéria orgânica dissolvida semelhantes aos ácidos fúlvicos. Esses compostos possuem alta capacidade de troca eletrônica e grupos carboxílicos que favorecem a ligação com o inseticida. Com o envelhecimento dos solos, essas frações diminuem proporcionalmente. Os ácidos húmicos, mais abundantes em pomares antigos, demonstraram menor eficiência de ligação.

Outro fator importante é o pH do solo. Conforme os cientistas, com a aplicação constante de fertilizantes nitrogenados, o solo tornou-se mais ácido ao longo do tempo. O pH caiu de 4,83 nos pomares mais jovens para 4,08 nos de 50 anos. Essa acidificação contribui para a transformação química da matéria orgânica, tornando-a menos propensa a formar complexos com o inseticida.

Mesmo com mais matéria orgânica dissolvida presente, os solos mais antigos retêm menos imidacloprid. Esse fenômeno, descrito pelos autores como um “paradoxo quantidade–qualidade”, mostra que a maior disponibilidade de matéria orgânica não se traduz em maior capacidade de adsorção. O coeficiente de adsorção normalizado por carbono orgânico (Koc) caiu conforme o solo envelheceu.

As análises fluorescentes também revelaram mudanças estruturais na matéria orgânica. Em solos mais velhos, surgiram novas frações associadas a subprodutos microbianos. Essas frações possuem comportamento distinto durante a ligação com o pesticida.

Além disso, os testes mostraram que os grupos funcionais mais reativos, como hidroxilas e aminas, tornam-se menos disponíveis após décadas de cultivo, reduzindo a formação de complexos estáveis.

A ordem de interação entre a matéria orgânica dissolvida e o inseticida também foi observada. Primeiramente, o imidacloprid liga-se às frações fúlvicas. Depois, às húmicas. Por fim, às proteicas. Essa sequência reforça a ideia de que os solos mais ricos em frações húmicas — típicos de pomares antigos — têm menor eficiência de retenção.

Mais informações podem ser obtidas em mdpi.com/2077-0472/15/9/997#

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