RS Safra 2024/25: colheita da soja atinge 98% da área
Produtividade da safra de verão recua 24,6% em relação à estimativa inicial
No verão de 2021, técnicos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) localizaram uma árvore de laranja-doce que parecia ter atravessado o tempo. Plantada há mais de 30 anos, em meio a um pomar dizimado pela doença Huanglongbing (HLB), a árvore ‘Donaldson’ permanecia viva, produtiva e com aspecto saudável. Para a indústria citrícola da Flórida, em colapso por perdas de até 90% provocadas pela doença, o achado soou como a possibilidade de reescrever um destino.
A árvore crescia isolada no campo experimental da Fundação A.H. Whitmore, em Groveland. Entre variedades extintas ou em declínio, o vigor de ‘Donaldson’ atraiu a atenção de pesquisadores e produtores. Frutos foram colhidos, análises realizadas e documentos antigos vasculhados. Descobriu-se que a árvore resistira ao HLB, apesar de infectada com o agente causador da doença, a bactéria Candidatus Liberibacter asiaticus. A hipótese de tolerância ganhou força.
‘Donaldson’ é uma laranja-doce de maturação precoce, colhida entre dezembro e janeiro, mesma janela da popular ‘Hamlin’. Esta, por décadas a base da produção de suco na Flórida, tornou-se vulnerável ao HLB. O declínio da ‘Hamlin’ obrigou processadoras a importar suco ou adiar o início da moagem, rompendo o padrão tradicional de misturar ‘Hamlin’ no início da safra com ‘Valência’ no fim.
A redescoberta de ‘Donaldson’ levou ao resgate de registros históricos. Documentos indicam que a árvore surgiu como uma muda seminais propagada na fazenda Hiawassee, Orlando, nos anos 1940, como tentativa de eliminar o vírus Citrus Exocortis. Seu nome provavelmente homenageia um produtor da época. A variedade foi esquecida por décadas, até ser reencontrada no pomar plantado entre 1987 e 1991.
Análises agronômicas confirmaram o vigor da planta. Em 2023, ‘Donaldson’ apresentou maior volume de copa, maior diâmetro de tronco e produção de 557 frutos, frente a apenas 98 da ‘Hamlin’ vizinha. A densidade de copa, indicativo de sanidade e atividade fotossintética, também foi superior. Os frutos mostraram-se maiores, mais doces (10,02°Brix) e com mais sementes, embora com coloração interna e externa semelhantes às da ‘Hamlin’.
As avaliações químicas revelaram uma composição promissora. O suco de ‘Donaldson’ apresentou níveis mais altos de sólidos solúveis e uma relação de acidez equilibrada. Em 2024, o conteúdo de limonoides amargos, como limonina e nomilina, foi menor que o da ‘Hamlin’. Esses compostos costumam se intensificar em árvores infectadas por HLB e prejudicam o sabor do suco.
As análises voláteis mostraram que ‘Donaldson’ produz maior quantidade de ésteres — compostos aromáticos responsáveis pelo sabor frutado. O destaque foi o etil butanoato, com concentração quase o dobro da ‘Hamlin’. Também se destacaram aldeídos como octanal e decanal, associados ao aroma cítrico clássico. Monoterpenos e sesquiterpenos, compostos responsáveis pelo frescor e profundidade do aroma, estiveram em proporções similares nas duas variedades.
Painéis sensoriais confirmaram que o suco de ‘Donaldson’, embora distinto, possui qualidade comparável ao de ‘Hamlin’. Em 2023 e 2024, testes com consumidores usando misturas comerciais (60% ‘Valência’ e 40% ‘Donaldson’ ou ‘Hamlin’) revelaram que boa parte dos avaliadores conseguiu distinguir entre os dois produtos. A aceitação, no entanto, foi positiva para ambos, e as diferenças de sabor tenderam a diminuir com o ajuste no processo de extração.
A recuperação da ‘Donaldson’ reabre uma possibilidade científica e produtiva. Embora baseada ainda em uma única árvore, a tolerância aparente ao HLB e a qualidade do suco justificam testes em larga escala. O material já foi enviado para limpeza sanitária e multiplicação. Ensaios em diferentes ambientes serão necessários para confirmar a estabilidade das características.
A trajetória da ‘Donaldson’ remete à origem de muitas variedades de citros: mutações casuais, selecionadas por olhos atentos em quintais ou pomares. Como tantas outras, quase desapareceu nos desvios da história agrícola. Seu retorno, agora, representa mais do que uma curiosidade botânica. É uma esperança viável de recuperação para uma das cadeias agrícolas mais emblemáticas dos Estados Unidos.
Se a ‘Donaldson’ realmente resistir ao HLB em plantações comerciais, poderá não apenas substituir a ‘Hamlin’, mas também sinalizar um novo ciclo de resiliência para a citricultura da Flórida.
Mais informações podem ser obtidas em doi.org/10.21273/HORTSCI18351-24
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