Cultivo do caju passa a contar com Zoneamento Agrícola de Risco Climático

Com o Zarc, o produtor sabe o melhor período para plantar em sua região

17.12.2020 | 20:59 (UTC -3)
Mapa

Uma das culturas agrícolas mais tradicionais do Brasil, o cajueiro passa a contar, a partir deste mês, com o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc). As portarias com o zoneamento da cultura em vários estados foram publicadas no Diário Oficial da União desta quinta-feira (17/12).

A nova ferramenta permite a indicação de datas e períodos de plantio por município. A análise leva em consideração características do clima, tipo de solo e o ciclo de desenvolvimento da cultivar. O objetivo é evitar que adversidades climáticas coincidam com as fases mais sensíveis da produção, minimizando as perdas agrícolas.

Como resultado desse trabalho, o Zarc identificou os municípios aptos para o cultivo do cajueiro no Brasil e os períodos de plantio das mudas no campo, em três níveis de risco (20%, 30% e 40%) e em conformidade com o tipo do solo (Tipo 1, Tipo 2 e Tipo 3) para o ano-safra 2021/2022.

De acordo com Marlos Bezerra, chefe adjunto de Transferência de Tecnologia (TT) da Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza-CE) e coordenador do Zarc Caju, a metodologia usada foi a mesma para as demais culturas. Os parâmetros, contudo, mudaram. “Pela primeira vez, utilizamos uma metodologia padrão para identificar as regiões aptas para o cultivo do caju, demonstrando a possibilidade de cultivo em novas áreas, como nos estados de Mato Grosso e Tocantins. Já há gente produzindo nessas áreas, mas com o Zarc essa atividade passa a contar com uma validação técnico-científica”, explica.

Ele acrescenta: “O Zarc estabelece as datas ideais para se levar as mudas ao campo. Isso vale até mesmo para as áreas novas. Tudo isso é baseado em um registro de 35 anos de dados climáticos. Usamos, nesse processo, mais de 3,5 mil estações meteorológicas de todo o país”.

Participação e benefícios

A elaboração do Zarc contou com a participação de técnicos e produtores de todo o Brasil. Por causa das limitações impostas pela pandemia do coronavírus, os encontros ocorreram de forma remota. Para Josenilto Vasconcelos, produtor de caju e cajuína no município de Parnaíba (PI), o zoneamento agrícola é importante porque "ajusta as informações de acordo com a realidade de cada região, melhorando a tomada de decisão e validando-as perante as instituições de crédito e de políticas agrícolas".

Elano Gomes, presidente da Câmara Técnica da Cajucultura do Rio Grande do Norte, destaca a importância do zoneamento para os agricultores do estado. "Tive a oportunidade de participar de uma reunião online. Muitos municípios estavam fora de programas de financiamento agrícolas por não estarem zoneados. O Zarc dá uma segurança ao cajucultor que ele não tinha, em especial no tocante ao preparo da terra e ao plantio".

O viveirista Edmundo Alves da Silva comercializa mudas de cajueiro-anão do Ceará para produtores de toda a Região Nordeste. Saber quais são os períodos do ano mais adequados para o plantio, em cada estado produtor, é essencial em sua atividade. "O zoneamento é de extrema importância para a cultura do cajueiro, pois norteia ou fomenta o início da implantação da cultura e nos proporciona realizar um melhor planejamento no manejo, principalmente, no que diz respeito a perdas de insumos como mudas, sementes e adubo”.

Desafios da cajucultura

A cultura do cajueiro é explorada por aproximadamente 170 mil produtores, em mais de 53 mil propriedades, dos quais 70% são pequenos agricultores com áreas inferiores a 20 hectares. Estima-se que a atividade gere em torno de 250 mil empregos diretos e indiretos. Na Região Nordeste, sua importância é ainda maior, pois a demanda por mão-de-obra para a colheita coincide com o período de entressafra das culturas anuais de subsistência, ou seja, o segundo semestre do ano.

Nos últimos dez anos, a produção brasileira anual de caju declinou a uma taxa de 4,96%. Entre 2012 e 2018, houve uma redução da área colhida de cerca de 20%, em função da deficiência hídrica causada por uma estiagem histórica no Nordeste.

Conforme nota técnica da Embrapa para a elaboração do zoneamento, é preciso que os pomares de baixa produtividade sejam substituídos e que espaços abandonados possam ser recuperados. “Deve haver seleção de áreas com maior aptidão para a cultura, bem como o plantio de material genético de qualidade de cajueiro-anão, utilizando manejo adequado de solo e das plantas, de maneira que os novos pomares apresentem boa produtividade e possa proporcionar o aproveitamento integral do fruto”, diz a nota.

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Os agricultores que seguem as recomendações do Zarc estão menos sujeitos aos riscos climáticos e poderão ser beneficiados pelo Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e pelo Programa de Subvenção ao prêmio do Seguro Rural (PSR). Muitos agentes financeiros só permitem o acesso ao crédito rural para cultivos em áreas zoneadas e para o plantio de cultivares indicadas nas portarias de zoneamento.

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