Avaliação de semeadoras em operações de culturas de inverno
Avaliação de 38 semeadoras de fluxo contínuo mostra os principais erros e acertos na semeadura de culturas de inverno em lavouras do Paraná.
O Brasil caracteriza-se, em parte, por ser um país com uma agricultura altamente mecanizada, principalmente quando nos referimos às culturas de maior representatividade econômica, tais como: soja, trigo, milho e arroz irrigado. Outras culturas, também se destacam neste cenário como, por exemplo, o algodão, a cana-de-açúcar e a fruticultura.
Nos últimos anos, as linhas de crédito oferecidas por meio dos programas governamentais facilitaram a aquisição de máquinas agrícolas pelos agricultores, principalmente, tratores novos, por apresentarem maior nível tecnológico e adequados itens de segurança. A abertura de novas áreas também é uma realidade, sendo que muitas, até então consideradas inaptas à utilização de máquinas, devido à declividade, passaram a ser utilizadas para cultivos agrícolas.
Constantemente, os acidentes envolvendo máquinas agrícolas ocorridos nas diferentes regiões do País, têm sido noticiados pela imprensa e repercutem pelas mídias sociais. Neste sentido, o entendimento das causas que levam a ocorrência dos acidentes envolvendo máquinas agrícolas é o ponto chave para que se possa implementar medidas, visando a orientação ou, até mesmo, a qualificação e capacitação dos usuários. Pesquisas apontam que, 82% dos acidentes envolvendo conjuntos mecanizados decorrem de atitudes inseguras; e as condições inseguras contribuem para o restante dos acidentes.
As atitudes inseguras estão relacionadas aos atos do próprio usuário, que se expõe ao perigo. Isso é caracterizado como imprudência, por “saber fazer certo e não o fazer corretamente”, geralmente com a finalidade de aumentar a produtividade no trabalho. Ainda, destaca-se o fator pessoal inseguro, decorrente da própria condição da pessoa que pode ser, desde uma limitação física ao consumo de drogas, destacando-se o álcool. Já, as condições inseguras estão relacionadas aos defeitos e/ou falta de dispositivos de segurança, como também o meio onde são realizados os trabalhos.
Dentre os acidentes mais comuns, pesquisadores apontam o tombamento lateral como sendo responsável por aproximadamente 70% dos casos, seguido do empinamento no plano longitudinal e queda da máquina. Outros fatores colaboram para a ocorrência de acidentes como, por exemplo, o desgaste físico, provocado por longas jornadas de trabalho, geralmente nos períodos de semeadura e colheita, déficit de atenção e desconhecimento do equipamento, devido à falta de treinamento.
Os acidentes ocorrem tanto em pequenas, quanto em grandes propriedades rurais. Em propriedades maiores, a frequência dos acidentes é menor, o que se justifica, em parte, pelo fato de que as operações apresentam certo grau de complexidade, exigindo operadores qualificados e capacitados. Ainda, nestas propriedades, o nível de comprometimento empresarial ao atendimento às normativas e legislação vigente, relacionadas à questão de segurança, é maior. A menor declividade do terreno permite o uso de máquinas de grande porte; e a facilidade para realizar manobra contribuem para que o número de acidentes seja reduzido.
Diferentemente dos veículos rodoviários, as máquinas agrícolas contam com inúmeros comandos de operação, muitos de acionamentos simultâneos, o que requer conhecimentos específicos, bem como sua estrutura/concepção é totalmente diferente. Isso exige capacitação do usuário e até mesmo, anos de experiência para realizar determinadas operações agrícolas.
Neste sentido, referente à operação com máquinas agrícolas a NR 12 menciona que, a operação, manutenção, inspeção e demais intervenções nas máquinas devem ser realizadas por pessoas habilitadas, qualificadas, capacitadas ou autorizadas para este fim, sendo que essa capacitação deve ser realizada antes que o colaborador assuma a função e sem ônus para o mesmo.
Ainda, a NR 12 em seu Anexo XI – Máquinas e implementos para uso agrícola e florestal, apresenta de forma detalhada parâmetros técnicos referentes às proteções, dispositivos e sistemas de segurança que devem integrar as máquinas, desde a sua fabricação, não podendo ser considerados itens opcionais. Esses parâmetros evitam que, muitos acidentes ocorram por erro ou descuido do operador, ou ainda, que procedimentos básicos de segurança possam ser negligenciados de forma intencional.
Uma forma de prevenção de acidentes decorrentes de atos inseguros se dá por meio da conscientização e treinamento dos usuários, fazendo com que estes saibam das consequências, que muitas vezes resultam na perda da própria vida. No que se refere às condições inseguras, a observância e melhoria de determinados fatores que formam o ambiente rural são determinantes para evitar possíveis acidentes, devendo-se levar em consideração desde uma simples manutenção na oficina rural, até a declividade e o tipo de terreno onde a operação agrícola mecanizada será realizada.
Na propriedade rural, o tipo de operação mecanizada a ser realizada e as condições atípicas do terreno podem se revelar verdadeiras “armadilhas” aos operadores. A existência de um simples buraco coberto por vegetação ou área encharcada, onde o solo não possui capacidade de sustentação ao tráfego de máquinas, podem comprometer a segurança das operações.
Neste sentido, o planejamento prévio da operação e o reconhecimento do local onde a mesma será realizada também são considerados fundamentais. Para isso, o operador deve ter em mente as limitações decorrentes da inclinação e dos obstáculos que podem colocar em risco a integridade da máquina e, principalmente, a si mesmo. Por isso, saber das condições do limite de estabilidade lateral e longitudinal da máquina é de suma importância, para evitar acidentes, principalmente, por tombamento lateral.
Tanto os usuários quanto os responsáveis técnicos devem estar atentos aos dispositivos e demais elementos de segurança da máquina, tais como: estrutura de proteção contra o capotamento (EPCC), cinto de segurança, proteção da tomada de potência (TDP) e de outros componentes móveis, como correias e polias. Estes itens de segurança, quando corretamente instalados e utilizados, podem evitar acidentes, e reduzir significativamente a gravidade das lesões. O problema consiste na negligência em relação aos elementos de proteção e segurança, contribuindo para o aumento do número de acidentes.
A falta de proteção da árvore cardânica é a principal causa de muitos acidentes, na maioria fatais, devido ao enrolamento ou por ocasionar lesões graves, pois atinge tanto membros inferiores quanto superiores. A presença da proteção da árvore cardânica não significa que os elementos móveis estejam completamente protegidos. Há necessidade, ainda, do aprisionamento desta estrutura por uma corrente, em ambas as extremidades de fixação, além da presença da proteção tipo escudo, tanto na saída do eixo da TDP do trator, quanto do implemento.
No contexto da presença e utilização de elementos de segurança, a EPCC e o cinto de segurança são importantes aliados na prevenção de acidentes, e suas condições devem ser observadas. O efeito na redução das lesões ou de mortes quando da ocorrência de um capotamento, está fortemente relacionado com a presença da EPCC e do uso do cinto de segurança.
Quando o trator possui EPCC, o uso do cinto de segurança se torna obrigatório, pois durante uma situação de capotamento o operador ficará “preso” ao assento, o que poderá evitar que seja esmagado pela máquina. Situação inversa ocorre quando os tratores não possuem tal estrutura, onde não se recomenda o uso do cinto de segurança. Neste caso, o uso do cinto fará com que o operador fique “preso” ao assento, porém devido à falta da EPCC, o mesmo poderá ser esmagado pela máquina.
Outros dispositivos podem colaborar para a prevenção de acidentes. Muitas vezes, tecnologias simples de serem aplicadas são deixadas de lado pelos fabricantes, por questões de custo ou falta de exigência do mercado. Uma delas é o acionamento da tração dianteira auxiliar (TDA) ao acionar os pedais do freio, colaborando para a maior capacidade de frenagem. Sensores de inclinação poderiam ser instalados, no intuito de alertar o operador quanto ao risco de tombamento da máquina quando a operação estiver sendo realizada em terrenos declivosos.
Limitadores de velocidade também podem colaborar para a prevenção de acidentes, evitando abusos pelos operadores. Em alguns países Europeus, onde o tráfego de máquinas agrícolas em rodovias é grande, estes itens são obrigatórios. Existem dispositivos que cortam o sistema de injeção de combustível do motor de tratores, para que as velocidades não excedam 40km/h. Tal sistema poderia ser facilmente instalado em motores com injeção eletrônica de combustível.
Ainda, na Europa, os tratores são equipados com sistemas hidráulicos ou pneumáticos para acionamento dos freios de reboque. Também, é comum o uso de suspensão dianteira, garantindo maior capacidade de resposta da direção em buracos ou obstáculos e da frenagem, devido às elevadas velocidades. Na Alemanha, por exemplo, é permitido que o trator atinja até 80 km/h, em rodovias.
A observação das recomendações de segurança antes e durante as operações agrícolas, bem como durante o deslocamento das máquinas, pode reduzir os riscos de acidentes. Algumas recomendações estão listadas no quadro abaixo.
A maioria dos acidentes envolvendo máquinas agrícolas poderiam ser evitados, sendo a imprudência durante a realização das operações uma das principais causas.
Atitudes inseguras como, saber fazer certo e não fazer, para aumentar o rendimento no trabalho, devem ser constantemente debatidas durante as capacitações, visando conscientização dos operadores.
Alexandre Russini,
Universidade Federal do Pampa, Campus Itaqui
José Fernando Schlosser,
Marcelo Silveira de Farias e
Rovian Bertinatto,
Laboratório de Agrotecnologia, UFSM
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