CTNBio aprova soja da Embrapa com genoma editado para reduzir fatores antinutricionais

Variedade não transgênica tem liberação comercial mais rápida, menos custos e biossegurança assegurada para ingressar no mercado

06.09.2022 | 13:56 (UTC -3)
Embrapa
Etapa da pesquisa realizada em cultura de tecidos para regeneração e seleção de plantas editadas via CRISPR. - Foto: ANeto/Arquivo Embrapa
Etapa da pesquisa realizada em cultura de tecidos para regeneração e seleção de plantas editadas via CRISPR. - Foto: ANeto/Arquivo Embrapa

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) considerou, em reunião extraordinária no dia 1º de setembro, que a edição no genoma da soja, conduzida pela Embrapa com a técnica CRISPR, para desativar alguns fatores anti-nutricionais, resulta em uma soja convencional, portanto, não transgênica. O parecer dado pela CTNBio foi pautado na Resolução Normativa n.16 e considerou que a planta editada, não possui a presença do DNA de outra espécie, o que torna o produto não transgênico.

“Essa aprovação da CTNBio é uma grande conquista, porque ao considerar essa soja como não transgênica, não há necessidade de conduzirmos o processo complexo de desregulamentação comercial de um produto transgênico. Assim, a liberação comercial é mais rápida, reduzindo custos e facilitando a entrada de produtos no mercado com a biossegurança assegurada”, comemora Alexandre Nepomuceno, chefe-geral da Embrapa Soja. 

Nos laboratórios da Embrapa Soja, os pesquisadores usaram a técnica de precisão de edição gênica CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats, ou seja, Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas) para desativar o fator anti-nutricional lectina no DNA de uma cultivar de soja altamente produtiva. “Com essa alteração pontual e precisa no DNA da soja, conseguimos imitar alguns processos existentes na própria natureza, mas que poderiam levar muito tempo para serem obtidos por outras técnicas como, por exemplo, o melhoramento clássico”, explica Nepomuceno. 

Alguns fatores antinutricionais da soja, que é usada como componente proteico de rações animais e mesmo na alimentação humana, dificultam a digestibilidade e a absorção de nutrientes, principalmente, em animais monogástricos, como porcos e frangos, que apresentam estômago com capacidade reduzida de armazenamento. “Em função disso, a utilização da soja é dependente de processamento térmico que inativa estes fatores anti-nutricionais, mas que aumenta o custo de produção”, explica uma das coordenadoras da pesquisa, a pesquisadora Liliane Henning, da Embrapa Soja. “Nossa expectativa com essas plantas desenvolvidas é garantir a qualidade nutricional da soja, mas viabilizar potencialmente a redução de custos no uso da soja para alimentação animal”, ressalta Liliane.

A partir de agora, a Embrapa tem a possibilidade de introduzir essa característica genética desejada, nas suas outras cultivares adaptadas as diferentes regiões produtoras. Entretanto, a modificação feita no DNA da soja, foi já realizada em uma variedade altamente produtiva. "Se tivesse usado o melhoramento clássico, teria levado de 10 a 12 anos para termos a mesma característica introduzida numa variedade produtiva. Com a técnica CRISPR, isto foi feito em 6 meses, e após confirmação do fenótipo (presença da característica desejada), a variedade editada está pronta para registro e comercialização", destaca a pesquisadora.

Legislação e biotecnologia

De acordo com Nepomuceno, o parecer da CTNBio para a nova soja é relevante, porque amplia a possibilidade de que instituições de pesquisa pública ou mesmo empresas de pequeno e médio porte desenvolvam soluções com base na biotecnologia que possam realmente virar inovações no mercado. Segundo ele, o Brasil vem seguindo o mesmo entendimento que países como Estados Unidos, Canadá, Argentina, Japão, Austrália, Chile, Colômbia, têm adotado, ou seja, uma legislação mais assertiva no que diz respeito ao uso da biotecnologia na agricultura, especialmente no uso de técnicas de edição gênica como a técnica CRISPR.  

Nepomuceno reforça que a edição gênica, muitas vezes, imita processos naturais ou processos já consagrados como o do melhoramento genético clássico. O que corrobora com o entendimento das agências reguladoras, em nível mundial, que consideram os organismos com genoma editado como organismos convencionais. “Esta percepção está permitindo uma democratização do uso da biotecnologia na agricultura, possibilitando a presença de mais empresas participando e trazendo soluções e agregação de valor ao agronegócio”, explica. 

Novas pesquisas

A equipe da Embrapa Soja destaca ainda que a edição do genoma da soja, por meio da tecnologia CRISPR, tem sido utilizada na instituição, para gerar plantas com a desativação de outros fatores anti-nutricionais (inibidores de tripsina, por exemplo), melhoria da qualidade de óleo e também na ativação de genes nativos da soja envolvidos no aumento da tolerância à seca. 

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