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A expansão da fronteira agrícola brasileira promovida, em grande parte, pelas inovações tecnológicas desenvolvidas pela Embrapa e pesquisas para produção de etanol de segunda geração estão na pauta da apresentação que Cristiane Sanchez Farinas vai fazer no Qatar, país mulçumano do Oriente Médio, que importa 90% do que consome, com produção própria de apenas 10% - basicamente, vegetais, leite e derivados.
Pesquisadora da Embrapa Instrumentação (São Carlos – SP), Cristiane é palestrante convidada dos organizadores da QAFCO – Texas A&M at Qatar Conferência 2017, que será realizada em Doha, no período de 8 a 13 de janeiro, com o tema "Nexus Água, Alimentos e Energia".
A conferência é realizada anualmente no início de janeiro desde 2007, durante a qual oradores convidados do exterior discutem suas realizações de pesquisa. A posição do Qatar no Oriente Médio permite que o país seja um ponto de encontro para cientistas e engenheiros do mundo todo.
Para a pesquisadora, o convite se traduz em uma oportunidade de mostrar as pesquisas desenvolvidas sobre tecnologia da biomassa e uma boa chance para estabelecer cooperação com uma cultura tão distante, mas tendo a ciência como diferencial.
O evento inclui sessões paralelas de Química e Engenharia Química. A palestra da engenheira química brasileira será realizada no dia 12 e vai abordar o desenvolvimento de pesquisa para conversão enzimática de biomassa lignocelulósica como uma plataforma para a obtenção de combustíveis, produtos químicos e produtos de alto valor usando a via bioquímica, que é considerada a alternativa mais sustentável para a implementação desse processo.
Cristiane explica que vai discutir os três produtos que podem ser obtidos a partir da biomassa – enzimas, biofertilizantes e nanocelulose. Ela lembra que as primeiras usinas de etanol celulósico em escala industrial que começaram a operar em todo o mundo usam o processo de hidrólise enzimática para converter biomassa em açúcares simples.
No entanto, a pesquisadora diz que são vários os desafios tecnológicos que ainda precisam ser abordados para se obter produtos comercialmente competitivos. Um deles, segundo Cristiane, é a necessidade de utilizar cargas elevadas de sólidos nos reatores de hidrólise. "Além das dificuldades associadas em relação à engenharia de processos, a presença de inibidores das reações bioquímicas podem afetar negativamente a eficiência a hidrólise enzimática e a fermentação alcoólica", esclarece.
Em conjunto com a lignina residual, esses inibidores têm impacto sobre a carga de enzima necessária para converter a celulose em glicose, que por sua vez tem uma grande influência sobre a economia do processo. Por isso, a pesquisadora acredita que o uso da produção de enzima on-site no local das usinas de etanol é uma abordagem potencial para reduzir os custos associados com enzimas. "Além disso, esta estratégia permite a produção de um coquetel enzimático adaptado para degradar cada biomassa específica", afirma.
Texas A&M at Qatar
A Texas A&M at Qatar, criada em 2003, é um campus da Texas A&M University no Qatar, que faz parte da Cidade da Educação, uma iniciativa da Fundação Qatar para a Educação, Ciência e Desenvolvimento Comunitário. Localizada nos arredores de Doha, capital do Qatar, a Cidade da Educação ocupa 14 quilômetros quadrados e abriga diversas instituições, como a Universidade de Georgetown, Weill Cornel Medical College, Universidade Virgínia Commonwealth, Carnegie Melon University, University College London e Universidade Northwestern.
As instalações da instituição são avançadas e incluem a maioria dos equipamentos e infraestrutura necessários para a pesquisa, representando um local para a investigação multidisciplinar e interações com a indústria da região.
Perfil
A pesquisadora é graduada em engenharia química pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com mestrado e doutorado na mesma área pela Universidade de Campinas (Unicamp) e pós-doutorado no Programa de Engenharia Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE-UFRJ), todos na área de desenvolvimento de processos biotecnológicos.
Cristiane ainda desenvolveu pesquisa como "Graduate Research Assistant" no Los Alamos National Laboratory, Estados Unidos, além de cursar disciplinas de pós-graduação na Universidade do Novo México. Em 2006, após a aprovação em concurso público (segunda colocação entre 665 candidatos), atuou como engenheira de processamento na Petrobras Transporte, no Rio de Janeiro.
Na Embrapa Instrumentação, onde ingressou em 2007, coordena o Laboratório de Agroenergia. A pesquisadora é docente credenciada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química e ao Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, ambos da UFSCar, onde orienta alunos de mestrado e doutorado. Ela tem dezenas de publicações relacionadas ao tema biocombustível de segunda geração.
Em um treinamento de seis meses na Universidade de Cambridge (Reino Unido), para o qual foi selecionada em 2010 pelo Comitê da Embrapa de Seleção de Candidatos para Aperfeiçoamento de Curta Duração no Exterior - na área de Biocombustível de Segunda Geração -, Cristiane conseguiu produzir uma enzima especial para alavancar o etanol de 2ª geração, com atividade diferenciada e que representa um avanço para a pesquisa com biomassa.
Recentemente, a pesquisadora foi reconhecida no Prêmio Capes de Tese 2016 com o trabalho "Produção de glicosil hidrolases por Thichoderma harzianum para o processo de sacarificação da biomassa vegetal". A tese de doutorado foi defendida em 2015 por Priscila da Silva Delabona, orientada por Cristiane, no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
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