Anatel debate conectividade no campo em reunião da FPA
Durante a sessão, vários senadores e deputados destacaram a importância das telecomunicações no desenvolvimento do setor no País
Dentre diversas características, o Brasil é conhecido pela grande carga burocrática que possui, e na mesma medida, somos especialistas em violar normas. Algumas porém, são necessárias e contributivas se bem preparadas, compreendidas e utilizadas.
Dentre as demandas por normas brasileiras está a pulverização terrestre, pois não há um consenso formal estabelecido sobre as boas práticas que direcionam a atividade. Embora exista uma boa qualidade e disponibilidade de técnicas, equipamentos e acessórios, o seu uso ainda não é suficientemente orientado. A ausência desta orientação implica carência de critérios para decisões mais consistentes, o que resulta em perdas durante a operação. A escolha do tamanho de gotas, por exemplo, não é ação simples e deve levar em conta aspectos como o clima, a especificidade, os hábitos e a movimentação do alvo, e o desenvolvimento do cultivo. Porém, muitas vezes o que se leva em conta são os gastos de volumes de aplicação e a capacidade operacional, relevando o aspecto principal que é a correta colocação dos produtos nos alvos.
Nesse sentido há um desejo natural de obter eficiência no tratamento com o menor custo. Isso é justificável, e as aplicações realizadas podem ter baixo custo, mas a eficiência sem boa técnica nem sempre é alcançada. Esta dualidade entre desejo e necessidade, por si, requer uma análise que resulte no equilíbrio técnico entre eles. Esta análise considera alguns fatores e elementos, os quais observaremos a seguir.
Muitos agricultores escolhem os seus equipamentos por tradição. Essa tradição surge por fatores emocionais ou por especialidades em um nicho. De toda forma, os diferentes fabricantes de equipamentos buscam a fidelidade de seus clientes destacando cores e formatos que nem sempre distinguem qualidade e tecnologia.
Independentemente da marca, a seleção de um equipamento não precisa considerar especificamente o seu tamanho, cor ou preço. É adequado que se considere, no entanto, a robustez desde o conceito do projeto até o atendimento pós-venda. Lembre-se de que o pulverizador é adquirido para pulverizar e não deve passar boa parte do tempo parado por avaria. Por outro lado, capacidade ociosa significa que o investimento foi superdimensionado, o que pode ser traduzido em desperdício de recursos.
Neste caso, é muito importante ponderar o tamanho e a quantidade de pulverizadores frente à necessidade de tratamentos e demandas na propriedade. Estes cálculos são razoavelmente simples e resultam numa boa economia de dinheiro, tanto na aquisição quanto na manutenção e no uso dos equipamentos.
Definir, portanto, a janela de utilização dos pulverizadores de maneira técnica requer alguma capacidade de gestão. Responder perguntas simples, tais como qual o tamanho da área a tratar, quantos dias são disponíveis devido ao clima e ao período crítico de ação, qual a taxa de parada para calibrações e manutenções (preventivas e corretivas), colabora para o planejamento.
O estabelecimento de um fluxograma de dimensionamento para a tomada de decisão de aquisição de um equipamento é matéria constante no currículo dos profissionais de Engenharia Agronômica.
Já os procedimentos operacionais de preparo de caldas, ou da aplicação propriamente dita, configuram uma atividade em constante atualização. O dinamismo vai da legislação até a disponibilidade de novas formulações. Desde outubro de 2018, por exemplo, a mistura de produtos nos tanques dos pulverizadores é permitida em receituário agronômico, sendo “de competência e responsabilidade do engenheiro agrônomo a interpretação das recomendações oficiais, visando a elaboração da receita agronômica em consonância com as boas práticas agrícolas e com as informações científicas disponíveis” (IN SDA n. 40, 11/10 2018, Art. 3º). Para estes aspectos, os profissionais responsáveis devem se manter atentos às leis, aos novos produtos disponibilizados e à sua compatibilidade. Neste particular, há um bom número de reuniões científicas no País, onde as inovações são apresentadas, com complementos em publicações de natureza diversa.
Os procedimentos para a configuração ou regulagem e para a calibração dos pulverizadores, também são bastante conhecidos nos meios acadêmicos. Mas este conhecimento não encontra a capilaridade suficiente para atingir a todo o setor produtivo. O resultado disto é uma casuística intensa de ocorrências, desde o entupimento de filtros e pontas de pulverização até graves relatos de deriva. Há trabalhos que atestam perdas que podem variar de 20% a mais de 50% nas aplicações, decorrentes de práticas inadequadas na aplicação. Essas perdas afetam diretamente o bolso dos agricultores que investem alto para obter um resultado, e uma boa parte deste investimento não produz o efeito esperado. Considerando o percentual de 20% de perdas, o prejuízo direto em produtos seria atualmente em torno de US$ 2 bilhões anuais no Brasil. Além disso, há as perdas indiretas relativas aos prejuízos em cultivos adjacentes e a eventuais indenizações e contaminações ambientais com riscos de intoxicação humana.
Adequações nos projetos e componentes dos pulverizadores, no de preparo e agitação das caldas, no uso dos adjuvantes, na seleção e instalação das pontas de pulverização, na pressurização da calda, na altura das barras, nos programas de manutenção dos equipamentos e na habilitação dos operadores podem colaborar para a diminuição das perdas.
A necessidade de elaboração de procedimentos e normativas que orientem as atividades nacionalmente é evidente. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) tem envidado esforços neste sentido. Há também projetos de extensão e consultoria que levam conhecimentos aos agricultores.
Porém, ainda há demanda nacional por um trabalho coordenado destas atividades, como já existe em outros países, ao qual esperamos que a efetivação ocorra em breve, para que a agricultura que já é forte e emblemática no Brasil se torne ainda mais econômica e segura.
Marcelo da Costa Ferreira, NEDTA/Unesp
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