Nos últimos anos, os citricultores têm observado a redução dos períodos de controle do ácaro da leprose após a aplicação de acaricidas. Segundo o pesquisador do Fundecitrus Renato Bassanezi, o problema pode estar relacionado ao clima, a falhas no monitoramento da praga, ao mau uso da tecnologia de aplicação e dos acaricidas e ao manejo de outras doenças e pragas. “Não existe um único fator responsável pela dificuldade de controle do ácaro da leprose, mas sim vários fatores que devem ser analisados e corrigidos pelos citricultores”, afirma.
Clima
Os anos de 2013 a 2015 tiveram longos períodos de seca e altas temperaturas, combinação favorável à reprodução do ácaro da leprose. Além disso, o calor e a baixa umidade relativa aumentam a evaporação das gotas durante as pulverizações, principalmente das muito finas, reduzindo a quantidade de acaricida que permanece sobre as plantas.
Monitoramento e aplicações
O alto custo da mão de obra no campo tem reduzido o número de inspeções, que estão cada vez mais espaçadas e menos intensas, com a verificação de amostras menores, o que leva a maiores erros na estimativa populacional do ácaro. Bassanezi cita ainda os longos intervalos entre a detecção da praga e a aplicação de acaricidas como causa da dificuldade de controle. “Devido ao enxuto número de pulverizadores nas propriedades, é comum que se demore mais de duas semanas para a ação. Isso faz com que, no momento da pulverização, a população do ácaro já esteja em uma densidade acima do nível de ação de controle”, justifica.
O adensamento dos pomares também pode diminuir a eficiência das aplicações, pois dificulta as inspeções e a boa deposição e cobertura dos acaricidas, principalmente no interior e topo das árvores. O ideal é posicionar os bicos de aplicação a pelo menos 40 cm da extremidade da copa da planta para a boa formação do leque de pulverização, utilizar bicos que formem gotas com diâmetro entre 100 e 200 µm e aplicar o volume de calda adequado – entre 100 a 150 mL por metro cúbico de copa.
Acaricidas
Para evitar a resistência do ácaro, a recomendação é realizar a rotação de acaricidas de diferentes grupos químicos e modos de ação. É fundamental ainda não misturar acaricidas a outros produtos no tanque de pulverização. “Pesquisas realizadas na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp [FCAV, em Jaboticabal] verificaram que alguns fertilizantes foliares diminuem a eficácia do acaricida propargite. Em outro estudo, do Fundecitrus, observou-se que a mistura dos inseticidas imidacloprido, tiametoxam, bifentrina, cipermetrina e fosmete com o acaricida espirodiclofeno reduziu a mortalidade do ácaro da leprose”, conta Bassanezi.
Manejo de outras doenças e pragas
O aumento da incidência de importantes doenças no parque citrícola paulista, como a pinta preta e o cancro cítrico, e a necessidade de controle do psilídeo, inseto vetor do greening (huanglongbing/HLB), fez crescer o uso de fungicidas e inseticidas nos pomares. “Isso também afeta diretamente o manejo do ácaro da leprose, tendo em vista que muitos destes produtos apresentam efeito sobre seus inimigos naturais”, explica Bassanezi.
Outro ponto que está sendo considerado é o chamado efeito hormese, no qual a aplicação de subdoses de inseticidas, principalmente piretroides e neonicotinoides, estimula a reprodução (aumento da postura e viabilidade de ovos) ou diminui a mortalidade de ácaros. Estudos no Fundecitrus e na FCAV/Unesp estão em andamento para verificar se o efeito hormese ocorre sobre o ácaro da leprose por causa das aplicações sucessivas para o controle do psilídeo.