Datagro eleva área e estimativa de produção de soja na safra 2020/21 do BR
Projeção aponta para uma área plantada de 38,79 milhões de ha e produção recorde de 134,98 milhões de toneladas
Caracterizam-se como pragas de solo da soja aqueles insetos que atacam a cultura durante a etapa de germinação das sementes ou logo após a emergência das plantas, atingem as raízes, hastes ou pecíolos de plantas jovens, podendo afetar o estande, o vigor, a uniformidade das plantas, bem como o rendimento de grãos da cultura. O cultivo da soja em áreas implantadas no sistema plantio direto favorece o desenvolvimento de pragas de solo na cultura, uma vez que neste sistema de cultivo, o solo não é manejado com grades e arados.
As pragas de solo que atacam as raízes da soja são, principalmente, os corós e os percevejos-castanhos que pertencem, respectivamente, às ordens Coleoptera e Hemiptera. Esses dois grupos de pragas apresentam, normalmente, uma forte associação com o solo onde ocorrem e podem destruir as raízes da soja, afetando negativamente o estabelecimento da cultura, o desenvolvimento inicial das plantas e, consequentemente, a sua produtividade. Outras pragas que também apresentam uma estreita relação com o solo, como lagarta-elasmo, cochonilhas e larvas de crisomelídios, podem também atacar a soja em seus estádios iniciais de desenvolvimento e afetar o desenvolvimento e a produtividade desta cultura.
Corós são larvas de coleópteros que apresentam coloração branca, três pares de pernas torácicas que se posicionam no formato de U, quando em repouso. Várias espécies de corós desenvolvem-se no solo, porém, apenas uma pequena porcentagem desses organismos causa danos nos cultivos agrícolas, podendo ocorrer tanto no sistema de plantio direto como no convencional. Os danos de corós na soja (Figura 1) são causados pelo consumo de raízes ou até mesmo dos nódulos de fixação biológica de nitrogênio, acarretando-se redução na capacidade das plantas de absorver água e nutrientes. Essa intensidade de danos é maior em plantas jovens de soja, especialmente quando cultivadas em condições de déficit hídrico. As plantas atacadas por corós apresentam inicialmente desenvolvimento retardado, seguido por amarelecimento, murcha e morte, com esses sintomas ocorrendo normalmente em reboleiras distribuídas irregularmente nas lavouras. Em condições de alta infestação de corós no solo, pode ocorrer até 100% de perda da lavoura, especialmente quando a presença de larvas mais desenvolvidas coincide com a fase inicial de desenvolvimento das plantas de soja.
O coró-da-soja, Phyllophaga cuyabana (Figura 2) é uma espécie que apresenta uma geração por ano (univoltine) e que tradicionalmente ocorre nas lavouras de soja do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás. Já o coró-da-soja-do-cerrado, Phyllophaga capillata (Figura 3) é outra espécie que tem sido constatada causando danos na cultura da soja no Distrito Federal e em Goiás. Nos estados de Goiás e Mato Grosso tem-se também constatada a espécie Liogenys fuscus (Figura 4), estudada desde a safra 2002/03, quando causou perdas de 50% a 100% em lavouras de soja do estado de Goiás. Após completarem seu ciclo imaturo, os adultos saem do solo em revoadas para oviposição durante os meses de setembro e outubro, coincidindo com as primeiras chuvas da região.
Algumas larvas de melolontídeos, que têm o hábito de construir galerias verticais no solo, são frequentemente encontradas em lavouras de soja da região Centro-Sul do País, especialmente nos sistemas de integração lavoura-pecuária. Esse grupo de corós, geralmente representado por espécies do gênero Bothynus (Figura 5), não é considerado praga e se alimenta apenas de restos vegetais em processo de decomposição.
No Brasil, há registros da ocorrência de percevejo-castanho em vários estados, embora se observe uma incidência mais acentuada na região dos Cerrados. O ataque desses insetos ocorre, normalmente, em grandes reboleiras nos cultivos de soja, sendo observados focos de infestação de até 70 hectares. Os danos na soja são decorrentes da sucção contínua da seiva nas raízes, o que pode levar ao enfraquecimento ou até mesmo à morte das plantas. As diferentes espécies de plantas hospedeiras nas quais o percevejo castanho se alimenta, apresentam graus diferenciados de suscetibilidade ao seu ataque. Ávila et al. (2009) constataram que o algodoeiro foi a espécie mais suscetível à alimentação de Scaptocoris castanea, seguido por soja, milho, sorgo e arroz. Como são de hábito subterrâneo, tanto ninfas como os adultos alimentam-se sugando a seiva das raízes das plantas de soja, deixando-as com aspecto amarelado (Figura 6).
A presença dos percevejos-castanhos nas lavouras é facilmente reconhecida pelo forte cheiro que estes insetos exalam, quando o solo é movimentado nas áreas infestadas. No Brasil, as principais espécies de percevejo-castanho associadas à cultura da soja são S. castanea, S. carvalhoi e S. buckupi. No estado de Goiás, as revoadas dessa praga iniciam-se no período chuvoso durante o mês de novembro e persistem até março, período em que há predominância de adultos no solo.
A lagarta-elasmo, Elasmopalpus lignosellus (Figura 7) é outra praga que pode danificar plantas jovens de soja, especialmente quando o inseto já estiver presente na cultura ou cobertura a ser dessecada (exemplo: trigo, aveia, tiguera de milho) para plantio da soja. O inseto é considerado polífago, ou seja, alimenta-se de diversas espécies de plantas cultivadas ou silvestres, em especial de gramíneas e leguminosas. O adulto faz a postura nas plantas de soja, no solo ou em restos culturais presentes na área. Após a eclosão, as larvas alimentam-se inicialmente de matéria orgânica ou raspam o tecido vegetal para, em seguida, penetrarem no colo da planta, um pouco abaixo do nível do solo, onde constroem uma galeria ascendente na haste central da planta. Próximo ao orifício de entrada na planta, as larvas tecem um casulo formado de excrementos, restos vegetais e partículas de terra, sintomas estes que caracterizam a presença da praga no ambiente. Uma mesma lagarta pode atacar até três plantas de soja durante a sua fase larval, sendo o período da emergência até aos 30-40 dias de desenvolvimento das plantas (até o estádio V2-V3), a fase da cultura mais suscetível ao ataque da praga.
Como consequência do dano da lagarta-elasmo, a soja inicialmente murcha e posteriormente seca, em razão da obstrução do transporte de água e de nutrientes do solo para a parte aérea da planta. Quando a planta de soja está mais desenvolvida e com o caule mais lignificado, a lagarta alimenta-se apenas da parte externa, deixando cicatrizes externas visíveis da injúria do inseto. Nesta região, pode ocorrer a formação de um calo com tecido frágil, que pode se quebrar facilmente pela ação do vento. A intensidade de danos da lagarta-elasmo na soja é maior e mais frequente em condições de alta temperatura e de déficit hídrico no solo, especialmente nos solos arenosos ou mistos conduzidos em plantio convencional. Nas áreas de semeadura direta, a incidência da lagarta-elasmo tem sido menor, porém outros fatores como resteva de cultivos, especialmente de gramíneas na área e condições climáticas adequadas, pode favorecer o desenvolvimento do inseto.
Cochonilhas das raízes do gênero Pseudococcus sp. são frequentemente observadas no coleto de plantas de soja cultivadas no sistema plantio direto, embora em baixas densidades. Em condições de alta infestação de ninfas desta praga na cultura, as plantas podem atrasar o seu desenvolvimento e reduzir a massa seca da parte aérea, bem como o número de vagens e o peso dos grãos de soja. Larvas de Diabrotica speciosa ou de Cerotoma sp. podem também, eventualmente, ser observadas atacando raízes de soja ou os nódulos de rizóbios, especialmente nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura. Esses tipos de danos podem reduzir o estande da soja ou afetar negativamente a fixação biológica de nitrogênio na planta de soja e, consequentemente, a produtividade da cultura.
Para o manejo efetivo de pragas que atacam as raízes da soja, como é o caso de corós e do percevejo-castanho, é necessário fazer o monitoramento dessas pragas antes mesmo da instalação da lavoura, uma vez que todas as táticas de controle a serem utilizadas são preventivas. Dentre as técnicas que podem ser utilizadas para o controle de corós e percevejos-castanhos, destacam-se escolha da melhor época de semeadura, preparo do solo com implementos adequados e aplicação de inseticidas nas sementes ou em pulverização no sulco de semeadura. Como os adultos dos corós apresentam normalmente uma forte atração pela luz, as armadilhas luminosas durante o período de emergência dos insetos do solo podem capturar um número expressivo de insetos durante a noite e assim contribuir para reduzir a sua infestação nos cultivos. A aplicação de inseticidas nas sementes e no sulco de semeadura da soja constitui alternativa eficiente para o manejo das diferentes espécies de corós citadas previamente, especialmente em sistemas conservacionistas, como o plantio direto. Já no caso do percevejo-castanho, inseticidas aplicados nas sementes não têm mostrado ser uma tática eficiente.
Todavia, a pulverização no sulco de plantio com inseticidas químicos, especialmente quando o percevejo está localizado próximo da superfície do solo, pode proporcionar um bom controle da praga, dependendo do inseticida e da dose do produto empregada. Trabalhos conduzidos pela Fundação MT evidenciaram que o cultivo de crotalárias em rotação de culturas, especialmente com a espécie Crotalaria spectabilis, pode afetar negativamente o desenvolvimento do percevejo-castanho no solo, reduzindo assim a sua população na área infestada. O pousio, ou seja, a ausência de cultivo de espécies de plantas hospedeiras do percevejo-castanho na área infestada constitui também outra tática de controle desta praga. O controle biológico do percevejo-castanho empregando-se fungos entomopatogênicos pode ser também uma alternativa promissora. Xavier e Ávila (2006) identificaram quatro isolados de Metarhizium anisopliae, que proporcionaram níveis de controle de S. carvalhoi superiores a 80%, em condições de laboratório.
Com relação ao controle da lagarta-elasmo, tem sido comprovado que chuvas bem distribuídas, durante os primeiros 30 dias de desenvolvimento da cultura, praticamente eliminam a infestação do inseto nas lavouras de soja. No sistema plantio direto, que propicia melhor conservação de umidade do solo, essa praga tem ocorrido em menor intensidade quando comparado ao plantio convencional. Da mesma forma, a irrigação pode constituir-se em medida de controle do inseto, em lavouras instaladas com pivô central. A pulverização de inseticidas na parte aérea da soja tem proporcionado baixa eficiência de controle da lagarta-elasmo (< 50%), em razão da posição em que a praga fica alojada na planta. Já o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos, tais como fipronil, imidacloprido + tiodicarbe, ciantraniliprole + tiametoxam e clorantraniliprole, pode ser empregado, com eficiência, em áreas que tradicionalmente essa praga tem sido problema.
Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste; Elizete Cavalcante de Souza Vieira, Ivana Fernandes da Silva, Universidade Federal da Grande Dourados
A cada nova edição, a Cultivar Grandes Culturas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de grandes culturas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade.
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