Cadastro Vitícola mostra o novo mapa da viticultura no Rio Grande do Sul
Expansão para outras regiões do Estado reduz participação da Serra Gaúcha na área de produção de uva
26.04.2017 | 20:59 (UTC -3)
Viviane Zanella
A mais tradicional região produtora de uvas e vinhos do Brasil, a Serra Gaúcha, está reduzindo a sua supremacia na produção de uvas, em função da expansão da cultura em outras regiões. Essa foi uma das conclusões apresentadas pela pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho e coordenadora do Cadastro Vitícola do Rio Grande do Sul, Loiva Maria Ribeiro de Mello, na manhã desta segunda-feira (24), na sede da Unidade de Pesquisa, em Bento Gonçalves (RS).
Segundo o levantamento, a tradicional microrregião (MR) Caxias do Sul, que contempla 19 municípios na Serra Gaúcha, era detentora de 90,08% da área vitícola do Estado, no período 1996/2000. Com os dados recém-publicados na edição do Cadastro Vitícola do Rio Grande do Sul 2013-2015 https://www.embrapa.br/uva-e-vinho/cadastro-viticola, a região ainda permanece em primeiro lugar, mas reduziu para 80,09% sua participação na produção de uvas no Estado.
Outro ponto interessante foi a expansão da viticultura no Estado. Ela já atinge 161 municípios e está presente em 27 das 35 microrregiões gaúchas, ocupando uma área de aproximadamente 40 mil hectares (ha) de vinhedos em 2015, enquanto que em 1995 estava presente em 11 microrregiões, com um total 21.542,16 ha plantados com videiras.
Abrindo a solenidade, que reuniu políticos e lideranças ligadas ao setor vitivinícola, o chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, Mauro Zanus, destacou que o quadro da viticultura, na quantidade, distribuição geográfica e perfil de variedades, é bastante influenciado pelas vinícolas. “São elas que observam os mercados, incentivam a escolha da matéria-prima e instalam vinhedos em novas áreas geográficas de produção”, pontuou. Segundo o dirigente, cabe as empresas, entidades, sindicatos e associações fazer uma leitura e análise dos números da produção apresentados no Cadastro e pensar uma visão estratégica para esta cadeia, identificando distorções e oportunidades de melhorias.
Em seu pronunciamento, o presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Dirceu Scottá, entidade que assinou o lançamento em conjunto com a Embrapa Uva e Vinho, destacou a grande importância do levantamento no Rio Grande do Sul e, segundo declarou, espera que em breve seja expandido para outros estados brasileiros que têm produção vitivinícola. Também divulgou, em primeira mão, os resultados de comercialização do primeiro trimestre, que indicam uma redução nas vendas tanto em vinhos, sucos e espumantes nacionais e o aumento das importações na faixa de 40%. “Convidamos a todos os políticos e presentes no local para trabalhar e reverter o quadro atual”, conclamou Scottá.
Em sua manifestação, o secretário estadual da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi), Ernani Polo, destacou a importância do Cadastro Vitícola em fornecer dados concretos confiáveis. “O levantamento dá condições de uma radiografia qualitativa dos vinhedos. Melhores resultados só serão alcançados se nos unirmos, reconhecendo todos os que trabalham na produção” sugeriu o titular da pasta. “Buscamos criar as melhores condições para o setor crescer ainda mais. Ele pode ser competente, mas, às vezes, não competitivo, devido aos custos de produção”, acrescentou Polo.
Para a senadora gaúcha Ana Amélia Lemos, que presidiu até 2016 a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal, o cadastro é uma ferramenta poderosa. Em sua manifestação ela elogiou o trabalho das entidades na construção do banco de dados e no lançamento de edições atualizadas, que deve ser um exemplo a ser seguido. “Mesmo sendo protagonistas de toda cadeia produtiva, desde 2007 não temos um censo agropecuário”, relembrou a parlamentar. “Temos que exaltar a coragem do vitivinicultor gaúcho. Navegamos num mar revolto e acredito muito na capacidade dos nossos agricultores”, destacou Ana Amélia ao falar sobre a grande expansão da viticultura no Estado.
Encerrando os pronunciamentos, o prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin, fez uma breve avaliação do setor. “No ano passado não tínhamos produtos. Buscamos mercado e não tínhamos uva para entregar, perdemos mercado interno. Entendemos nossos colaboradores”, comentou, referindo-se a quebra da safra de uva de 57% em 2016. O prefeito destacou ainda que se não houver um novo planejamento do que se quer e para onde se vai, não será possível materializar esse caminho. “Não podemos deixar de brigar pelos nossos setores”, finalizou.
Na sequência, a pesquisadora e coordenadora do Cadastro Vitícola do Rio Grande do Sul, Loiva Ribeiro de Mello, apresentou alguns destaques das análises realizadas nos dados de 2013 a 2015. Ela iniciou reforçando que estão sendo publicados e disponibilizados ao púbico em geral os números de 2015, mas que os órgãos federais e estaduais de fiscalização podem solicitar os dados atualizados em tempo real à coordenação.
A edição 2013-2015 do Cadastro Vitícola foi realizada pela Embrapa Uva e Vinho e pelo Ibravin, com o apoio da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação do Rio Grande do Sul (Seapi-RS) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Desde o ano 2000, a coordenação técnica do Cadastro Vitícola é realizada pela Embrapa Uva e Vinho, por delegação do Mapa. O projeto é financiado pela Embrapa e pelo Ibravin, com recursos do Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura (Fundovitis) e conta com o apoio de outras instituições e entidades (dos Sindicatos de produtores, Emater/RS-Ascar e associações de produtores).
- Os dados agregados do Cadastro Vitícola, referentes aos anos de 2013, 2014 e 2015, podem ser obtidos no menu de navegação, de várias formas, através do uso de filtros - por microrregião (segundo IBGE), por município, por cultivar, por sistema de condução, dentre outros. Os mesmos podem ser visualizados na tela, impressos ou exportados no formato de uma planilha eletrônica.
- No Rio Grande do Sul são cultivadas 138 variedades de uva, entre vitisvinífera, destinadas para a produção de vinhos finos, e uvas americanas e híbridas, reservadas à produção de vinho de mesa e sucos. Destas, 30 são responsáveis por 95% da área total de cultivo e duas delas, Isabel e Bordô, representam 49,19% da área do Estado.
- Com base na área dos novos investimentos vitícolas (até 36 meses), a tendência para os próximos anos é o aumento da oferta de uvas para elaboração de sucos e de uvas para elaboração de espumantes finos.
- Observa-se que ocorreu crescimento na área de videiras, na ordem de 3,9% ao ano em média, entre os anos de 1996 e 2011 , conforme equação apresentada. Após o período, houve contínuos decréscimos. A área plantada com videiras atingiu o máximo em 2011, com 41.432,20 ha, caindo para 40.232,55 ha, em 2015, ou seja, uma redução de 2,89%, em quatro anos, o que equivale a redução anual de aproximadamente 0,7%.
- A evolução da área por grupo de cultivares faz parte da análise. As uvas americanas apresentaram maior crescimento que as cultivares híbridas, embora ambas tenham apresentado aumento na área plantada até 2011. Essas cultivares são usadas para elaboração de suco de uva e vinho de mesa. O grupo das cultivares viníferas, que são usadas para elaboração de vinhos finos tranquilos e espumantes, com área plantada muito inferior aos demais agrupamentos, apresentou crescimento de área apenas no período de 2000 a 2007, equivalente a 7,83% ao ano.
- Dentre as cultivares viníferas brancas, destaca-se a branca Chardonnay, que no período desse estudo apresentou aumento passando de 253 ha, em 1996, para 1.011 ha, em 2015. A variedade Riesling Itálico, emblemática e uma das pioneiras em vinhos brancos varietais no Brasil, teve queda na área plantada entre 1996 a 2008 (de 653 ha para 260 ha), seguida de um período de estabilidade e após um leve crescimento, atingindo 290 ha em 2015. A variedade Moscato Branco também teve sua área reduzida durante a análise, com crescimento da área no início do período, seguido de quedas mais acentuadas nos últimos anos, passando de 633 ha em 1996 para 613 ha em 2015. A cultivar Trebbiano apresentou diminuição acentuada na área plantada no Rio Grande do Sul, de 1996 a 2008 (de 509 ha para 158 ha), seguida de uma leve recuperação nos anos subsequentes (180 ha em 2015). A Sauvignon Blanc manteve-se constante durante as últimas duas décadas.
- Dentre as viníferas tintas com maior abrangência no Rio Grande do Sul, a Cabernet Sauvignon se destaca em área plantada. Nos quatro primeiros anos do período 1996/2015, a extensão permaneceu estável, iniciando com 433 ha. Nos anos seguintes, a área aumentou fortemente chegando a 1.868 ha em 2007, e teve início a uma rápida redução, situando-se em 1.028 ha em 2015. A segunda variedade vinífera tinta é a Merlot, com comportamento semelhante à primeira, porém de intensidade distinta. Em 1996 a área dessa cultivar foi de 361 ha, e passou para 1.089 ha em 2007, quando começou a redução da zona territorial, ficando em 800 ha em 2015. Durante o período do estudo, tem se destacado, pelo aumento contínuo da área, a Pinot Noir, que passou de 53 ha, em 1996, para 344 há, em 2015. A Tannat apresentou crescimento até o ano de 2007, atingindo a área máxima de 421 ha em, seguida de reduções anuais, situando-se em 352 ha, em 2015. A tradicional Cabernet Franc possuía 308 ha em 1996, atingiu o pico em 2004, com 414 ha, e, na sequência, quedas anuais, sendo que em 2015 a área foi de 213 ha.
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