Brasil não perderá o posto de 2º maior exportador de soja

19.02.2015 | 21:59 (UTC -3)

O longo período de estiagem , que chegou a quase 30 dias ininterruptos em algumas regiões do Nordeste e Centro-Oeste do país no início do ano, não será suficiente para destituir o Brasil do posto de segundo maior exportador de soja, logo atrás dos Estados Unidos. É o que avalia o economista e diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Helio Sirimarco. Para o executivo, a seca deixou suas perdas, principalmente nas lavouras de soja e milho de Minas, Mato Grosso do Sul, Goiás e Bahia, mas já foi superada, com o retorno das chuvas em fevereiro.

No caso da soja, a perspectiva é de que a produção caia menos de 3%, mantendo-se ainda em patamar recorde, com 93 milhões de toneladas, acima dos 86 milhões de toneladas da safra anterior. “O cenário não é dramático. Há problemas de produtividade, mas não de qualidade. Além disso, embora haja áreas mais afetadas em função do clima seco e das altas temperaturas, o Rio Grande do Sul possivelmente terá uma safra excelente, com 400 mil toneladas acima do previsto. Isso acaba por compensar as perdas do Centro-Oeste. A fase crítica da seca já foi superada”, enfatiza.

Especialista em commodities, Sirimarco explica que o Brasil tem conseguido se posicionar forte como exportador mundial de soja e milho mais pelos ganhos de produtividade dos grãos, do que pela expansão da área plantada. Segundo ele, apesar da queda internacional do preço da soja, os produtores do grão não estão desestimulados. Nesse sentido, a alta do dólar, na casa dos R$ 2,80, estaria trazendo compensações, tornando o preço do grão valorizado no mercado interno.

“Os preços continuam atraentes e vamos ter um bom volume de exportação, certamente. A receita deve cair um pouco, em função da queda internacional dos preços da commodity, mas o Brasil vai continuar sendo o segundo maior exportador de soja do mundo, logo atrás dos Estados Unidos”, observa Sirimarco.

Quanto à crise hídrica e a pressão sobre os preços dos alimentos, especialmente os hortifrútis, o executivo acredita que “o pior já passou” e a carestia não deve se tornar um drama para as famílias. A preocupação, segundo ele, se volta aos produtores dos cinturões agrícolas e de culturas dependentes da irrigação. Eles vêm tendo que usar a criatividade e o dinheiro para não ficar reféns da ameaça do racionamento, especialmente em São Paulo.

“Há projetos que estão buscando solucionar esse dilema entre a falta de água e a agricultura irrigada. Um deles, que já começa a ser utilizado em Minas, especialmente na cultura do café, é a irrigação por gotejamento. Uma tecnologia israelense”, conta Sirimarco, que explica que o sistema proporciona grande economia de água e redução de custos ao produtor,pois reduz em 33% o recurso direcionado para o consumo pela planta.

“Uma planta de café, por exemplo, que precisa de 5 litros de água por dia para não perder em desenvolvimento, pelo sistema tradicional de aspersão recebe de 7,5 a 8 litros para alcançar o nível necessário. No gotejamento, no entanto, só se gasta 5,3 litros para se alcançar os mesmos 5 litros”, diz.

“Está todo mundo buscando alternativas para que se mantenha a produtividade, a economia de água e, lógico, a redução de custos”, observa o executivo.

Apesar das ameaças do Governo do Estado de São Paulo de racionar a água usada nas lavouras irrigáveis, a SNA prefere assumir o tom de cautela e “aguardar as decisões”. “Nossa única preocupação é a de que nenhuma medida do governo venha agravar a situação dos produtores. Qualquer ação tomada no sentido de racionar o consumo de água ao produtor tem que levar em conta o abastecimento de alimentos à população”.

O diretor da entidade defende ainda que o governo crie uma agenda política de proteção dos agricultores em momentos de grandes estiagens, tal como já funciona nos Estados Unidos. “Um mecanismo que proteja os produtores do ponto de vista financeiro. E o país tem que colocar isso na ordem do dia”.

Para ele, a estiagem deste ano e de 2014 foi “um ponto fora da curva”, um “fenômeno que não deve se repetir na mesma intensidade” e que, por isso, não demandaria uma mudança de planejamento pelo produtor. “Ele sabe que tem que conviver com essa variável, que é incontrolável”.

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