Bactérias podem ajudar a substituir insumos químicos no setor florestal

O estudo e a utilização dessas bactérias visam reduzir custos de produção, melhorar a produção de mudas e proporcionar maior eficiência e sustentabilidade

01.10.2024 | 16:01 (UTC -3)
Manuela Bergamim
Foto: Manuela Bergamim
Foto: Manuela Bergamim

Chega a 1.023 a quantidade de bactérias com potencial para geração de bioinsumos apropriados ao setor florestal. Esse resultado é fruto do trabalho da Embrapa Florestas (PR) que, desde 2018, atua na construção da Coleção de Bactérias Multifuncionais de Áreas Florestais. O acervo conta com exemplares provenientes de diferentes solos e espécies florestais e tem sido determinante para seleção de estirpes com aptidão para o desenvolvimento de bioinsumos inovadores, na forma de inoculantes. Tais produtos podem reduzir, ou até substituir, insumos químicos em plantios florestais, desde a produção de mudas até o plantio no campo. Além de garantir mais sustentabilidade ao setor, aumenta a eficiência e reduz custos de produção.

Após a fase de isolamento e caracterização das bactérias no laboratório, são realizados ensaios em viveiros, com aplicação em mudas. Segundo Krisle da Silva (foto abaixo), pesquisadora da Embrapa, responsável pela formação da coleção, vários ensaios vêm sendo realizados em viveiro com essas bactérias, envolvendo parcerias com empresas florestais, para seleção das estirpes com mais potencial para aumentar as taxas de enraizamento e a capacidade de absorção de fósforo.

Foto: Manuela Bergamim
Foto: Manuela Bergamim

“A produção de mudas florestais inoculadas com as bactérias promotoras de crescimento tem se mostrado algo promissor, diante do efeito positivo no enraizamento, solubilização de fosfatos, estímulo ao crescimento vegetal das mudas e no controle biológico de pragas que temos encontrado ao longo dos estudos, principalmente para pínus e eucalipto”, aponta a pesquisadora. Ela espera que, dentro de dois anos, os estudos resultem na geração de um bioinsumo em forma de inoculante advindo dessas bactérias.

De acordo com a pesquisadora, todos os microrganismos da coleção estão caracterizados morfologicamente em meio de cultura e 229 já foram caracterizados geneticamente. O DNA desses isolados também é armazenado na coleção.

A coleção foi iniciada com 42 bactérias endofíticas (que vivem no interior do tecido vegetal sem causar dano à planta), isoladas de uma espécie de jabuticabeira, por possuírem características promotoras de crescimento. Posteriormente, foram introduzidas na coleção bactérias endofíticas isoladas de folhas, meristemas (tecidos vegetais responsáveis pelo crescimento das plantas) e raízes de pupunheira, que somam, até o momento, 222 bactérias. O trabalho prosseguiu com pínus, do qual foram isoladas 200 bactérias, além de 90 de eucalipto, 96 de erva-mate e 145 de araucária. Na busca de um possível controle biológico, também foram isoladas 220 bactérias e actinobactérias (bactérias importantes para a agricultura) de formigas cortadeiras (Atta sexdens).

Além dos bioinsumos, a coleção é a base para programas de melhoramento genético e outras ações de pesquisa voltadas ao desenvolvimento de plantas mais adaptadas ao segmento florestal, tais como pupunha, pínus, eucalipto, erva-mate e araucária, entre outras.

Como é feito o isolamento?

Foto: Manuela Bergamim
Foto: Manuela Bergamim

Para o acervo, foram coletados materiais na rizosfera, zona próxima até quatro milímetros das raízes de plantas de espécies florestais. As amostras de solo na superfície da raiz foram levadas para um laboratório e diluídas em meio de cultivo, onde começaram a proliferar as colônias. Em seguida, deu-se início à seleção das colônias bacterianas. Posteriormente, as bactérias foram avaliadas quanto a características como tempo de crescimento, forma, cor e tamanho das colônias. Para preservar e conservar as bactérias, sem a manipulação frequente e sem alterações em suas características, utilizam-se três métodos de preservação: um em meio sólido, contendo óleo mineral à temperatura de 20oC; outro em água também a 20oC; e o terceiro, em criopreservação a 80oC abaixo de zero.

A identificação e a multiplicação das bactérias são etapas fundamentais. Se a bactéria for considerada boa para determinada caraterística, ela é multiplicada em grandes quantidades. Já para aquelas que não mostram bons resultados, o estudo é interrompido. Além disso, é preciso ter muito cuidado na seleção. “Nos solos, há muitas bactérias com potencial de danos a seres humanos, como a Staphylococcus ou a Burkholderia cepacea. Por isso, muita cautela nessa fase”, explica Silva.

Coleção em constante evolução

Entre os objetivos dos pesquisadores, está, por exemplo, identificar bactérias capazes de produzir fitormônios, para estimular o crescimento da planta, ou de estirpes com potencial para solubilizar nutrientes para a planta, entre outros benefícios agronômicos. Nesses casos, elas são levadas a viveiros para avaliação nas plantas. 

Conforme a pesquisadora, a coleção está em constante evolução e deve trazer bons resultados em breve. “A Embrapa continua empenhada em aprimorar a coleção de bactérias multifuncionais, explorando novas possibilidades de aplicação desses conhecimentos, com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento sustentável do setor florestal. Essa é uma coleção especialmente destinada a espécies florestais, com preservação de recursos genéticos, com grande potencial para o desenvolvimento de novos bioinsumos“, finaliza Silva.

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