Avaliação de fungicidas contra doenças no milho

Ensaios cooperativos avaliam desempenho de fungicidas no controle de doenças como a mancha-branca em milho segunda safra no Paraná

15.01.2021 | 20:59 (UTC -3)
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A produção de milho vem crescendo no Brasil e no mundo nas últimas décadas. Nesse contexto, no Brasil, o milho segunda safra ou safrinha teve a área triplicada desde 2000, passando a ser responsável na última safra 2019 por aproximadamente 73% da produção total de milho brasileira. Esses números tendem a crescer ainda mais, visto os investimentos em tecnologia e pesquisas para o milho safrinha nos últimos anos.

No mesmo sentido da produção, a ocorrência de doenças de foliares no Brasil também vem crescendo. Tanto é que, recentemente, pesquisadores do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), em parceira com CPA-Copacol, identificaram uma nova doença bacteriana em lavouras comerciais (Leite et al, 2018). Entre as doenças foliares de maior importância em milho, a mancha-branca é a que mais ocorre no Paraná.

O uso de fungicidas em milho tem sido cada vez maior. No entanto, a eficiência de controle de alguns produtos é questionável. Nesse contexto, pesquisadores do programa milho do Iapar, em parceria com Coamo Cooperativa Agroindustrial (Coamo), iniciaram em 2016 e 2017 um projeto-piloto para conhecer a influência de fungicidas para controlar a mancha-branca do milho. Este trabalho resultou em 2018 e 2019 no estabelecimento da rede de ensaios cooperativos de fungicidas em milho segunda safra, envolvendo uma parceria público-privada de várias Instituições formada por Iapar, Embrapa, universidades, cooperativas, empresas de experimentação e multinacionais fabricantes de agroquímicos. O objetivo desta rede será estudar programas de manejo de doenças do milho segunda safra, fornecendo informações científicas para produtores, técnicos e pesquisadores da eficiência de controle, impacto produtivo e uso racional de fungicidas.

Houve redução de produtividade na área sem aplicação de fungicidas
Houve redução de produtividade na área sem aplicação de fungicidas

Condução dos ensaios

Os ensaios do projeto-piloto foram conduzidos nos anos de 2016 e 2017 em Londrina e Campo Mourão, semeados em duas épocas em cada localidade. Parcelas experimentais de 3,6 x 6 metros, com espaçamento entre linhas de 0,9m e população variando de acordo com a recomendação do fabricante. O híbrido utilizado foi “Fórmula VIP3”. Os tratos culturais do campo experimental foram realizados conforme recomendações técnicas para a cultura. A adubação de cobertura ocorreu aos 15 dias e 30 dias após a emergência, com aplicação de 125kg/ha de ureia. Os fungicidas testados no controle de mancha-branca do milho foram compostos por moléculas isoladas e misturas duplas ou triplas (Tabela 1).

Para conhecer a eficiência de controle, três aplicações foram realizadas nos estádios fenológicos de oito folhas (V8), pré-pendoamento e pós-pendoamento (R2), com pulverizador costal pressurizado e volume de calda de 200 litros/ha. A severidade da doença foi aferida no estádio de grão pastoso (R4), avaliando-se a folha abaixo da espiga. Produtividade e severidade foram submetidas a análise conjunta.

RESULTADOS

 Nos ensaios conduzidos em Campo Mourão, a severidade média de mancha-branca em R4 do tratamento sem aplicação de fungicidas foi 28%. A aplicação de fungicidas reduziu a severidade da doença em relação ao tratamento testemunha, sem fungicida (Figura 1).

Figura 1 - Severidade de mancha-branca do milho em programas de controle com aplicação de fungicidas. Campo Mourão-PR - Coamo. Segunda safra 2016 e 2017
Figura 1 - Severidade de mancha-branca do milho em programas de controle com aplicação de fungicidas. Campo Mourão-PR - Coamo. Segunda safra 2016 e 2017

Figura 2 - Produtividade (kg/ha) de milho em programas de controle de mancha-branca. Campo Mourão-PR - Coamo. Segunda safra 2016 e 2017
Figura 2 - Produtividade (kg/ha) de milho em programas de controle de mancha-branca. Campo Mourão-PR - Coamo. Segunda safra 2016 e 2017

Nas condições testadas, o controle da doença pela aplicação de fungicidas impactou na produtividade final da cultura. No tratamento testemunha, sem aplicação de fungicidas, a produtividade foi inferior aos tratamentos com fungicidas (Figura 3).

Figura 3 - Severidade de mancha-branca do milho em programas de controle com aplicação de fungicidas. Londrina-PR – Iapar. Segunda safra 2016 e 2017
Figura 3 - Severidade de mancha-branca do milho em programas de controle com aplicação de fungicidas. Londrina-PR – Iapar. Segunda safra 2016 e 2017

Os ensaios conduzidos em Londrina, em geral, apresentaram severidade média na testemunha avaliada em R4 de 15%. A severidade foi superior nos ensaios conduzidos na segunda época de semeadura (Figura 4). O uso de fungicidas reduziu a severidade de mancha-branca em relação à testemunha sem aplicação.

Figura 4 - Produtividade (kg ha-1) de milho em programas de controle de mancha-branca. Londrina-PR - Iapar. Segunda safra 2016
Figura 4 - Produtividade (kg ha-1) de milho em programas de controle de mancha-branca. Londrina-PR - Iapar. Segunda safra 2016

Os tratamentos compostos por misturas duplas e triplas apresentaram maior eficiência de controle quando comparadas a moléculas isolados. Da mesma forma, a resposta em produtividade média foi observada para essas composições na safra 2017 (Figura 4).

Em função da ocorrência de “fortes ventos”, a produtividade da safra 2016 não foi avaliada porque o ensaio foi perdido.

O posicionamento adequado de fungicidas tende a garantir melhores produtividades
O posicionamento adequado de fungicidas tende a garantir melhores produtividades

Folha de milho com a presença de sintomas da mancha-branca
Folha de milho com a presença de sintomas da mancha-branca

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O posicionamento adequado de fungicidas com eficiência superior apresenta alta probabilidade de garantir maiores produtividades.

Novas moléculas de fungicidas sítio-específicos ou multissítios com diferentes modos de ação ou novas combinações de formulações poderão ser oferecidas ao setor produtivo nos próximos anos.

Por meio desta rede de ensaios cooperativos envolvendo várias instituições nos biomas Mata Atlântica e Cerrado, será possível ofertar informações científicas ao setor produtivo sobre a eficiência, o impacto produtivo e o uso racional de fungicidas foliares para controlar doenças.

 

Lucas Henrique Fantin e Karla Braga, UEL; Lucas Simas de Oliveira Moreira, Coamo; Marcelo Giovanetti Canteri, UEL; Adriano Augusto de Paiva Custódio, Iapar

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