Previsão de chuva em seis estados
No país, as zonas de adaptação da cultura do sorgo se concentram no Sul (região de fronteira) em plantios de verão, no Brasil Central em sucessão a plantios de verão (safrinha) e no Nordeste em plantios nas condições do Semi-Árido com altas temperaturas e precipitação inferior a 600 mm anuais. Atualmente, tem sido verificado grande expansão do cultivo do sorgo principalmente em plantios de sucessão em algumas regiões, com destaque para o estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e região do Triângulo Mineiro, onde se concentram aproximadamente 90% do sorgo granífero plantado no Brasil.
Estima-se que a área plantada com sorgo granífero no Brasil na safra 2007/2008 esteve próxima a um milhão de hectares, com uma produção de grãos em torno de 2,4 milhões de toneladas. A excelente adaptação do sorgo a ambientes secos é uma qualidade que tem contribuído, atualmente, para o rápido crescimento da área plantada com esse cereal.
Durante muito tempo, a área cultivada com o sorgo no Brasil não se expandia porque sua época de plantio coincidia com a época das principais culturas de primavera/verão, como o milho e a soja, plantadas nas regiões Sul e Sudeste do país. Com o desenvolvimento da região dos Cerrados nas últimas décadas houve, então, a necessidade de se buscar uma cultura de sucessão ao milho e à soja que viabilizasse a máxima utilização dos recursos e também do patrimônio do agricultor nessa nova fronteira agrícola. Foi então que o sorgo passou a ser plantado em fevereiro/março no sistema de cultivo denominado de “sucessão”.
• Além do seu desempenho em condições de estresse hídrico, o sorgo apresenta muitas outras vantagens, pois proporciona ótima cobertura verde nas épocas em que os solos dos Cerrados ficam quase sempre expostos ao excesso de radiação solar e às fortes chuvas. O cereal fornece ao produtor uma receita adicional no período da entressafra. O sorgo é também uma ótima opção para a rotação de culturas, principalmente nos casos de ocorrência de problemas fitossanitários, pois quebra o ciclo das doenças e pragas do trigo e do milho, culturas também plantadas no mesmo período;
• Após a colheita, sua palhada residual é de longa duração no solo, o que viabiliza a utilização do sistema de plantio direto;
• O produtor de soja, ao optar pelo cultivo de sorgo em sucessão, não necessita de nenhum investimento adicional em máquinas e equipamentos;
• Nos últimos anos, o sorgo passou a ser uma das principais alternativas estratégicas que o governo tem para o abastecimento de grãos, já que esse cereal pode compor junto com o milho e outros grãos a chamada “cesta básica de ingredientes para ração”
A planta do sorgo se adapta a uma gama de ambientes, principalmente sob condições de deficiência hídrica, pois ele possui características fisiológicas que permitem paralisar seu crescimento ou diminuir suas atividades metabólicas durante o estresse hídrico e reiniciá-lo quando a água se torna disponível. Essa característica permite que a cultura seja apta para se desenvolver e se expandir em regiões de cultivo com distribuição irregular de chuvas e em sucessão a culturas de verão.
Do ponto de vista de mercado, o cultivo de sorgo em sucessão a culturas de verão tem contribuído para a oferta sustentável de alimentos de boa qualidade para alimentação animal e de baixo custo, tanto para pecuaristas como para a agroindústria de rações. Atualmente, em toda a região produtora de grãos de sorgo do Brasil Central, o produto tem liquidez para o agricultor e grande vantagem comparativa para a indústria que, cada vez mais, procura alternativas para compor suas rações com qualidade e menor custo.
O avanço da moderna agricultura no Cerrado e os seus sistemas de produção continuam ampliando as possibilidades para o sorgo. A soja, principal parceira no sistema de sequência de culturas, avança para os estados do Centro-Oeste, Norte e Nordeste. O sorgo segue este avanço. O sistema de plantio direto abre um amplo campo para a integração do sorgo ao sistema como excelente produtor de palhada de alta qualidade. A agroindústria de carnes se expande na região na busca de matérias primas de menor custo para alimentação de aves, suínos e bovinos. A pecuária de leite e de corte se profissionaliza cada vez mais, à medida que os mercados consumidores de carne bovina exigem mais qualidade e preço competitivo. Para manter o mercado de rações abastecido com grãos de qualidade confiável e custo ajustado ao negócio, o sorgo já é reconhecido como o principal grão alternativo ao milho na chamada cesta básica de ingredientes forrageiros. Uma parte da demanda de grãos, estimada entre 10% e 20% da produção de milho, pode ser atendida, com maior economicidade, com o sorgo.
O potencial de rendimento de grãos de sorgo, normalmente, pode ultrapassar sete toneladas / hectare em plantios de sucessão. Entretanto, as condições em que predominantemente o sorgo é cultivado não possibilitam a expressão de todo o seu potencial, uma vez que a produtividade média alcançada nas lavouras brasileiras está em torno de 2,4 toneladas / hectare. Essa produtividade tende ao crescimento à medida que o produtor passe a planejar suas atividades e utilize o manejo adequado para possibilitar o melhor desempenho da cultura.
O uso de cultivares adaptadas aos sistemas de produção em uso e às condições de ambiente encontradas nas regiões de plantio, com planejamento e manejo adequado, constituem fatores de grande importância para a obtenção de rendimentos elevados, para a expansão da cultura, para o aumento da oferta de grãos e estabilidade de produção.
Dentre as cultivares disponíveis, é predominante o uso de híbridos com ampla adaptabilidade e estabilidade de produção. Na escolha do híbrido, principalmente para o plantio em sucessão, devem ser observadas as seguintes características: tolerância a períodos de déficit hídrico principalmente em pós-florescimento; resistência ao acamamento e ao quebramento; porte entre 1,0 m e 1,6 m com boa produção de massa residual; ciclo precoce a médio; resistência às doenças predominantes na região de plantio.
Considerando-se o risco inerente ao sistema de plantio em sucessão, principalmente com a ocorrência de doenças e deficiência hídrica, recomenda-se que o produtor utilize uma combinação de cultivares.
Existem informações que, convenientemente utilizadas, possibilitam a melhor exploração do potencial produtivo dos cultivares de sorgo granífero disponíveis no mercado. A agricultura brasileira vem se modernizando com a inclusão de novas tecnologias que têm proporcionado aumentos significativos na produção, na produtividade e na qualidade do produto.
José Avelino Santos Rodrigues
Pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo
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