Agropecuária retoma níveis pré-crise de 2008 e PIB deve crescer 7% em 2010
O trigo no Cerrado abrange áreas nos estados de Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso e Bahia. A lei do vazio sanitário da soja está vigente em toda região, influenciando os agricultores no uso dessas áreas com outras culturas ao invés de simplesmente realizar dessecação obrigatória, envolvendo gastos sem retorno. O trigo de sequeiro ou de safrinha tem sido o candidato preferido nestas áreas, pois tem efeito supressor sobre as ervas daninhas.
Em 2010, Minas Gerais teve muitas áreas de trigo de sequeiro sendo cultivadas, abrangendo desde a região do Vale do Alto Paranaíba, passando pela região do Triângulo Mineiro até a região Sul do estado. Segundo informações de técnicos e Cooperativas mineiras, estima-se que a área de trigo de sequeiro possa atingir de 6 a 7 mil hectares. No sudoeste de Goiás e sul do Mato Grosso existem alguns agricultores que tradicionalmente cultivam trigo de sequeiro, influenciados por seus pares do Mato Grosso do Sul, mas ainda sem expressão em área.
As lavouras de trigo irrigado sofreram uma redução de área de cultivo no Cerrado em 2010, pois ocorreram desistências de muitos agricultores do cultivo de trigo, em alguns casos chegou-se a dessecar trigo para o plantio de feijão, que teve seu preço alcançando R$ 200,00 a saca de 60 kg. As regiões de maior concentração de áreas de trigo irrigado no Cerrado situam-se no Plano de Assentamento do Distrito Federal (PADF), incentivado pela Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (COOPA/DF);, em Goiás, nas microrregiões de Cristalina, de Vianópolis-Silvânia e de Catalão; enquanto em Minas Gerais apresenta crescimento vigoroso na área de trigo, desde a microrregião de Unaí, passando pelo Triângulo Mineiro, nos eixos Araguari, Patrocínio, São Gotardo área de abrangência da Cooperativa Agropecuária do Alto Paranaíba (COOPADAP), Uberaba, Perdizes, Irai de Minas (COPAMIL) e Uberlândia, terminando na microrregião Sul do Estado, representada pelos municípios de Madre de Deus e Alfenas. Minas Gerais tem se tornado o maior produtor de trigo do Cerrado nas últimas safras, podendo superar 100 mil toneladas, se a produtividade média alcançada for superior a 5 t/ha nas lavouras irrigadas e somadas aquelas de cultivo de safrinha ou sequeiro.
Clima e situação das lavouras
O clima em 2010 foi favorável às lavouras de trigo irrigado no Brasil Central, quando as temperaturas médias ocorridas foram normais, ou seja dentro da média dos últimos 30 anos, diferente do ano passado quando tivemos um “ano quente”, por conta de temperaturas médias mais altas. A precipitação pluvial foi baixa nos meses de abril a outubro, beneficiando o cultivo irrigado e ao mesmo tempo prejudicando o trigo de safrinha. As chuvas foram reduzidas de forma brusca a partir do final de abril inicio de maio, limitando de certo forma o rendimento de grãos das lavouras de trigo de safrinha ou sequeiro, pois a cultura contou somente com a água acumulada no balanço hídrico até o mês de abril, ou seja, a reserva de água acumulada na estação das águas. As lavouras de sequeiro implantadas até o mês de março mostraram produtividades médias até 20 sacos/ha, sendo que a média de rendimento de trigo de sequeiro deva ficar em torno de 1 t/ha, segundo informações de técnicos e produtores da região em 2010.
Cultivares e época de semeadura
O trigo de sequeiro deu início a safra na região de Cerrado em final de fevereiro, quando foram implantadas as primeiras lavouras, sendo semeado até a segunda quinzena de abril. As cultivares predominantes foram BR 18 Terena e Brilhante. Em alguns casos, foi a falta de semente que obrigou o agricultor a adotar outras cultivares. No cultivo irrigado, a safra iniciou de acordo com a desocupação dos pivôs, no mês de março, estendendo-se até meados do mês de junho. As cultivares predominantes atualmente são BRS 264 e BRS 254 em toda a região, porém, outras cultivares são usadas pelos produtores de acordo com as características de cada microrregião. A falta de um setor sementeiro organizado ainda é um problema na região.
Doenças
A ocorrência de doenças em 2010, segundo técnicos da região, inclui brusone, manchas foliares, ferrugem da folha e oidio. A ocorrência de brusone tem se limitado ao trigo de sequeiro nas épocas de semeadura do cedo, em fevereiro e inicio de março, com intensidade severa a branda e localizada, sendo necessária a aplicação de fungicida em algumas lavouras. As manchas foliares ocorreram predominantemente nas lavouras de trigo irrigado, em intensidade severa, com necessidade de monitoramento constante e uso de várias aplicações de fungicidas para o adequado controle. A ferrugem da folha e o oidio ocorreram de forma localizada e em menor escala nos estados de MG, GO e DF.
Márcio Só e Silva
Pesquisador da Embrapa Trigo
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