Remate encerra a Exposição Nacional de Rústicos Angus
Na safra 2009/2010, a soja apresentou as maiores médias de produção e produtividade desde o início do cultivo desta leguminosa no Brasil. Conforme levantamento de agosto de 2010, feito pela Conab, em Mato Grosso do Sul, a produtividade média na última safra foi superior a 3.000 kg ha^-1 , abaixo somente da média do Paraná. Muitos foram os fatores de sucesso para esse incremento de produção, entre eles, preponderou o das condições climáticas favoráveis ao pleno desenvolvimento da cultura, principalmente na região centro-sul do País. Além disso, o crescente avanço anual na produtividade é devido à incorporação de várias tecnologias ao sistema produtivo. Uma delas é o uso de novas cultivares, mais modernas e adaptadas aos diversos ambientes de cultivo no Brasil.
Graças à descoberta da característica de período juvenil mais longo e incorporação ao germoplasma da soja, foi possível desenvolver cultivares que possuem adaptação para cultivo em baixas latitudes. No Brasil, atualmente, é tecnicamente viável o plantio de soja até em Roraima.
As cultivares de soja respondem diferentemente à época de semeadura, e isso pode ser em função do grau de sensibilidade ao fotoperíodo, da duração do período juvenil (emergência ao florescimento), do tipo de crescimento da cultivar (determinado ou indeterminado) e da duração do ciclo. A época de semeadura pode afetar fortemente a altura e o rendimento das plantas, sendo mais expressivas as perdas em semeaduras anteriores ou posteriores à época mais indicada. De maneira geral, a época que coincide com o fotoperíodo que permite o melhor desenvolvimento da cultura, juntamente com o menor risco climático, referente a estresse hídrico, historicamente tem sido em semeaduras entre o final de outubro e meados de novembro. Recentemente, cultivares com tipo de crescimento indeterminado têm apresentado vantagens de produção, em detrimento das cultivares com tipo determinado, principalmente nas semeaduras antecipadas (início a meados de outubro em Mato Grosso do Sul).
A prática da semeadura antecipada com cultivares de soja precoce tem sido adotada com frequência nas principais regiões produtoras de Mato Grosso do Sul, além de outros estados produtores, e, na maioria dos casos, não considerando o zoneamento agrícola da cultura para a região. Entre os fatores que têm levado a uma maior adoção dessa prática nos últimos anos, destaca-se a possibilidade de realizar o plantio da cultura em sucessão mais cedo, especialmente o milho safrinha. Além disso, com o surgimento da ferrugem asiática, a semeadura de cultivares mais precoces e a semeadura antecipada proporcionam menores perdas com a doença e, consequentemente, maior rentabilidade da lavoura, principalmente em safras com condições climáticas propícias à multiplicação do fungo. Assim, cultivares com período juvenil mais longo (tipo de crescimento determinado), ou com tipo de crescimento indeterminado, apresentam maior altura de plantas em semeaduras antecipadas (anteriores a meados de outubro) sendo, desse modo, as mais indicadas nessas condições.
Entretanto, mesmo que as condições climáticas sejam favoráveis à semeadura a partir do início de outubro, é recomendável que o produtor não a faça em toda a área, porque, além das possíveis perdas por seca, na fase inicial, aumentam-se as chances de ocorrerem perdas por excesso de umidade nas fases da maturação e colheita da soja. É importante que os produtores realizem um escalonamento de épocas de semeadura em sua área, escolhendo aquelas cultivares mais indicadas para determinada época. Além de melhorar a logística de colheita com melhor aproveitamento dos maquinários disponíveis, esta medida poderá reduzir perdas em safras com grandes problemas climáticos.
Por outro lado, tem-se verificado grandes variações anuais de rendimento considerando uma mesma época de semeadura. Estas são determinadas, principalmente, pelas flutuações anuais na distribuição dos fatores climáticos, especialmente chuvas. Esse cenário é particularmente importante em Mato Grosso do Sul, especialmente na região centro-sul, onde têm ocorrido expressivas variações anuais de fatores climáticos. Um manejo eficiente para minimizar tais flutuações é o emprego de duas ou mais cultivares, com diferentes ciclos e tipo de crescimento, em uma mesma propriedade, principalmente em médias e grandes áreas. Com a diversificação de cultivares, os períodos críticos da cultura (floração, formação de vagens e grãos e maturação) não ocorrerão simultaneamente em toda a área, reduzindo possíveis prejuízos no caso de deficiência ou excesso hídrico que poderá atingir somente parte da lavoura.
Outro aspecto relevante é a rotação de cultivares numa mesma área. Esta prática reduz problemas com doenças (níveis diferentes de suscetibilidade entre as cultivares), principalmente as de raízes. A rotação de cultivares transgênicas com as convencionais (rotação de tecnologia) também é indicada. O uso recorrente de cultivares transgênicas tem ocasionado a seleção de plantas invasoras resistentes a herbicidas, o que dificulta o manejo e pode aumentar os custos de produção de uma lavoura transgênica.
Percebe-se que a diversificação de cultivares de soja precisa ser realizada nos âmbitos espacial, temporal e tecnológico para evitar elevadas perdas em safras com ocorrências de fatores de estresse, sejam eles hídricos e de temperatura, associados ou não a maiores incidências de doenças e pragas. Aliado a essa diversificação de cultivares, o produtor também pode adotar sistemas mais conservacionistas de produção, por exemplo, o Plantio Direto, que poderá auxiliar na redução de perdas principalmente em períodos prolongados de veranicos. Nesse contexto, para a escolha de cultivares, recomenda-se que os produtores busquem informações sobre suas características e exigências junto à assistência técnica, às instituições obtentoras/detentoras das cultivares e em publicações de divulgação da nova tecnologia e do sistema de produção mais indicado. De acordo com o zoneamento agrícola para a cultura da soja em Mato Grosso do Sul, há mais de 200 cultivares de soja indicadas para semeadura na safra 2010/2011.
Por fim, cabe ressaltar que decisões precipitadas podem levar a grandes prejuízos. No caso da escolha de cultivar de soja não é racional o produtor basear-se em médias de produção e/ou rendimento de somente uma safra agrícola, acreditando que apenas uma única cultivar será a “salvação da lavoura”. É preciso ter uma visão mais holística do sistema de produção, visando à sustentabilidade de médio e longo prazo.
Carlos Lasaro Pereira de Melo
Eng. Agrônomo, Pesquisador, /Embrapa Agropecuária Oeste
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