Pesquisador da Embrapa Trigo avança conhecimentos sobre brusone na Holanda
Apesar da profunda crise internacional iniciada nas economias mais desenvolvidas e que acabou arrastando o Brasil e outros emergentes, o agronegócio brasileiro conseguiu avançar nas suas exportações: de cerca de 56 bilhões de dólares em 2007 para mais de 69 bilhões em 2008, um acréscimo de 24% no faturamento em moeda estrangeira.
Apresenta-se a seguir uma análise detalhada do comportamento dos preços (em dólares e reais), do câmbio e do volume exportado. Enfocam-se também as exportações por grupos de produtos e por regiões brasileiras.
É importante ter-se uma idéia da importância relativa de cada tipo de produto nas exportações brasileiras do agronegócio. No valor das exportações, predominam os grãos e derivados (22%): a soja em grão (14%) mais óleo (4%) e farelos (4%). As carnes, com 16%, vêm em segundo lugar; papel e celulose (8%) e açúcar (7%) aparecem a seguir. É claro que as variações de preços terão relevância de acordo com a importância dos grupos de produtos na pauta de exportações.
Considera-se inicialmente o ocorrido nos anos 2000. Verifica-se, que, de 2000 a 2008, a elevação de preços em dólares foi expressiva (Índice de Preços de Exportação do Agronegócio - IPE-Agro/Cepea cresceu 64%), mas o volume exportado do agronegócio (medido pelo IVE-Agro/Cepea) teve aumento bem mais do que proporcional, de 119%.
Portanto, o crescimento da receita em dólares das exportações do agronegócio ocorreu principalmente pelo aumento do volume. Esse aumento do volume é ainda mais impressionante ao se considerar que a internalização das altas dos preços internacionais foi apenas parcial (Índice de Atratividade das Exportações do Agronegócio - IAT-Agro/Cepea foi de 21,6%). O próprio aumento expressivo das exportações – e conseqüente ingresso de dólares – explica, aliás, em boa parte, a valorização da moeda nacional e a consequente internalização apenas parcial do crescimento externo dos preços internacionais.
Focando agora um horizonte mais curto, ou seja, somente o ano de 2008, verifica-se que o volume exportado manteve-se relativamente estável no correr dos meses, indicando a perda de fôlego exportador do agronegócio. Já os preços, tanto em dólares quanto em reais, caíram a partir de setembro, o que certamente resultou da atual crise financeira e econômica internacional, que fez despencar os preços das commodities que o Brasil exporta.
Outro reflexo da crise foi o aumento da taxa de câmbio efetiva real do agronegócio, fruto da desvalorização da moeda nacional. Usualmente, uma desvalorização cambial conduziria a aumentos das exportações, o que não se verificou no final de 2008 em razão da recessão mundial e consequente depressão da demanda internacional. O índice de atratividade das exportações acabou caindo, tendo, portanto, predominado a queda de preço em dólares sobre a desvalorização cambial. Ressalte-se a intensa atuação do Banco Central tentando evitar uma disparada do dólar, o que acabou prejudicando o produtor do agronegócio brasileiro. Ou seja, do ponto de vista da competitividade do agronegócio brasileiro, a intervenção das autoridades no mercado cambial foi excessiva.
Analisaram-se também as exportações durante os meses de janeiro a novembro de 2008 em comparação com o mesmo período de 2007. Antes de mais nada, verifica-se que na média houve queda, ou seja, valorização da moeda brasileira (taxa efetiva do câmbio do agronegócio) da ordem de 9,4% entre 2007 e 2008, a despeito da crise que estourou no último trimestre. O aumento da taxa de câmbio (desvalorização do Real) se deu com intensidade maior somente em outubro, amainando-se daí para frente.
Também em média, os preços em dólares cresceram na comparação com 2007 devido à alta verificada até agosto (25%). Porém, o volume exportado, que havia atingido seu pico em junho, desacelerou a partir de então e acabou com uma pequena queda (-4,2%) sobre 2007. A atratividade teve aumento de 13,5%, comparando-se as médias de 2008 e 2007, graças ao boom das commodities no primeiro semestre, que se esvaiu no segundo semestre.
Os preços já internalizados em reais (ou seja, o IAT) apresentaram aumentos expressivos em óleo de soja (46,20%), soja em grão (40,5%) e farelo de soja (35,78%). Altas importantes também foram observadas para carnes suína (27%), bovina (17,48%) e de frango (16,25%). Os aumentos para café e frutas foram de apenas 6,1% e 2,86% respectivamente. Há também os casos de queda na atratividade: álcool (-3,18%), açúcar (-7,14%) e suco de laranja (-21,28%). Constata-se, assim, que o boom do mercado externo, enquanto durou, foi muito favorável aos setores de grãos e carnes, os dois grupos de produtos mais importantes na pauta de exportação do agronegócio.
Para a década de 2000, os índices de Preços de Exportação do Agronegócio Regional (IPE-Agro/Cepea/Região), apresentados na figura 6, indicam, em todas as regiões, uma tendência de aumento dos preços em dólares. Como já mencionado, esses preços em dólares tiveram um aumento médio – para o Brasil como um todo - de 64% de 2000 a 2008. Novamente lembra-se que no segundo semestre de 2008 essa tendência se inverte.
As regiões Norte, Centro-Oeste, Nordeste e Sul tiveram aumentos de preços acima da média nacional (158%, 98%, 83% e 75% respectivamente), enquanto que a Sudeste teve aumento de preços menor (31%). Vale ressaltar que na região Norte predominam as exportações de produtos da madeira, carnes e animais vivos e oleaginosas; no Nordeste, se destacam o papel e celulose, açúcar e frutas; no Centro-Oeste, grãos e farelos e carnes; no Sul, carnes e grãos; e no Sudeste, açúcar, café, papel e celulose, carnes e sucos de frutas (citros). Nota-se, assim, que entre os produtos do Sudeste estão vários dos que se deram pior no tocante à atratividade das exportações.
Quanto ao Índice de Volume Exportado pelo Agronegócio, verifica-se que a região Centro-Oeste apresentou um crescimento de 314%, bem acima da média nacional (119%). O Nordeste também apresentou evolução acima da nacional, com 153%. As regiões Norte, Sul e Sudeste apresentaram variações de 78%, 68% e 79%, respectivamente, portanto, abaixo da nacional.
Na comparação entre janeiro a dezembro de 2008 com igual período de 2007, verifica-se que em todas as regiões houve aumento dos preços em dólares dos produtos exportados. Os desempenhos mais modestos de preços ocorreram nas regiões Sudeste e Nordeste, respectivamente. Quanto ao volume exportado, houve queda nas regiões Norte, Sudeste e Sul e estagnação nas demais. O destaque negativo é a região Sudeste que, além de apresentar baixo crescimento dos preços de exportação, teve queda de 15% do volume exportado.
No que toca às exportações, o ano de 2008 foi marcado por uma mudança profunda entre o primeiro e o segundo semestre (especialmente a partir de setembro), resultado da cessação do boom das commodities, globalmente falando. Mesmo assim, o faturamento anual do agronegócio em moeda estrangeira cresceu cerca de 24% de 2007 para 2008. Para o exportador nacional, seu faturamento em reais passou a depender do balanceamento entre a queda dos preços externos (em dólares) e o aumento do dólar no mercado brasileiro. Devido ao esforço das autoridades para contenção dessa alta através da política cambial, acabou predominando o efeito baixista na atratividade das exportações. É fato que o Sudeste, como exportador de açúcar, café, suco de laranja, foi a região mais atingida pela derrocada no mercado externo. O Nordeste também foi atingido pela dependência do açúcar. As regiões Centro-Oeste, Norte e Sul saíram-se melhor, uma vez que nas suas exportações predominam os grãos e derivados e carnes, além de papel e celulose. No Norte, apenas produtos da madeira e mobiliários tiveram retração.
Para 2009, as perspectivas são de um ano difícil. De 2007 para 2008, os volumes das exportações já perderam algum fôlego. Em janeiro de 2009, foi possível verificar algumas mudanças nas exportações: de um lado, forte queda nos casos da carne bovina e óleo de soja; de outro, forte alta do farelo de soja, do açúcar e, principalmente, do milho. De qualquer forma, o cenário da economia mundial é de grande desaquecimento, o que não deixará de, em média, refletir negativamente nos mercados agropecuários. Naturalmente, situações específicas de alta poderão ocorrer nos casos de frustração de safra ou redução exagerada de estoques.
PhD
Professor titular USP/Esalq; coord. Científico Cepea/Esalq-USP
Dra.
Pesquisadora do Cepea/Esalq-USP
Contatos:
Outras informações sobre os índices de exportação do agronegócio calculados pelo Cepea podem ser obtidas com os autores deste relatório: prof. Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros e Karlin Saori Ishii através do Laboratório de Informação do Centro: 19-3429-8837 ou
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