Artigo - Dormência em sementes

19.01.2009 | 21:59 (UTC -3)

Após a dispersão das sementes a partir da planta-mãe, a retomada do crescimento embrionário e a consequente germinação da semente serão determinadas por uma série de fatores, seja da própria semente ou do meio ambiente. Dentre as condições ambientais, a temperatura, disponibilidade de oxigênio e água são críticas para que a germinação ocorra. Entretanto, há casos nos quais as condições ambientais são favoráveis à germinação, mas esta não ocorre. Nesses casos, diz-se que a semente apresenta-se dormente, ou seja, existe algum impedimento que bloqueia a continuidade do desenvolvimento embrionário e a germinação.

A dormência pode ser classificada de acordo com a sua origem ou com os prováveis mecanismos envolvidos. Em relação à origem, existem dois tipos de dormência: dormência primária e secundária. Na dormência primária, as sementes são dispersas a partir da planta-mãe já dormentes, isto é, a dormência instala-se ao longo do processo de maturação das sementes, quando estas ainda encontram-se ligadas à planta-mãe. No caso da dormência secundária, as sementes são dispersas sem apresentarem dormência, porém, a exposição a condições ambientais desfavoráveis à germinação provoca o desenvolvimento de dormência nas sementes. Todavia, em termos fisiológicos, não se sabe até que ponto a dormência primária e a dormência secundária diferem entre si.

Quanto aos mecanismos de dormência, de modo geral, pode-se classificar a dormência em endógena e exógena.

A dormência endógena é causada por algum bloqueio à germinação relacionado ao próprio embrião, podendo ser dividida em fisiológica, morfológica e morfofisiológica. Na dormência fisiológica, a presença de inibidores químicos no embrião, o desbalanço hormonal ou mesmo a incapacidade do embrião para superar barreiras físicas e/ou mecânicas representadas pelos tecidos adjacentes à semente podem dificultar a germinação. No caso da dormência morfológica, as sementes são dispersas com o embrião não-diferenciado ou não completamente desenvolvido, necessitando passar por um período de maturação após a dispersão ou colheita. Nos casos de dormência morfofisiológica, os dois mecanismos descritos anteriormente ocorrem simultaneamente.

A dormência exógena, por outro lado, é causada pelo tegumento, endocarpo, pericarpo ou por órgãos extra-florais. Nesses casos, os principais mecanismos envolvidos relacionam-se à impermeabilidade dos tecidos à difusão de água ao embrião, ao efeito mecânico dos tecidos, impedindo a expansão do embrião e à presença de substâncias inibidoras do crescimento embrionário, presentes nesses tecidos e translocados ao embrião.

De acordo com alguns trabalhos de pesquisa, nota-se que os casos de dormência fisiológica e morfofisiológica decrescem à medida que diminui a disponibilidade de água no ambiente no qual a espécie ocorre naturalmente, aumentando a incidência dos casos de dormência física. Desse modo, nas espécies que ocorrem em ambientes savânicos, como o Cerrado, por exemplo, a dormência mais comum é do tipo física. Muitas espécies representativas do Cerrado exibem esse tipo de dormência, como o jatobá (

L.), o tamboril (

(Vell.) Morong.), o barbatimão (

(Mart.) Coville), a garapeira (

(Vogel) J. F. Macbr), o freijó (

(Vell.) Arrab. ex Stend.), o morototó (

(Aubl.) Decne. & Planch), a canafístula (

(Spr.) Taub.), a aleluia-amarela (

(Rich.) H. S. Irwin & Barneby) e o falso-barbatimão (

Benth.).

Os principais métodos empregados para superar esse tipo de dormência envolvem a escarificação das sementes, seja através da adoção de métodos mecânicos, físicos ou químicos, de modo que a entrada de água e a difusão de gases na semente possam ser facilitadas e a germinação ocorra.

De toda forma, vale lembrar que a dormência representa uma adaptação evolutiva das espécies que permite a distribuição da germinação no tempo e no espaço, aumentando o sucesso na colonização de novos habitats, o que favorece sua própria sobrevivência e perpetuação.

Caroline Jácome Costa

Engª. Agrônoma, Drª em Ciência e Tecnologia de Sementes, Pesquisadora da Embrapa Cerrados. E-mail:

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