Artigo - Bioindicadores na avaliação da qualidade da água e importância para o Cerrado

24.11.2008 | 21:59 (UTC -3)

A Embrapa Cerrados conta com mais uma ferramenta na avaliação ambiental, visando o melhor atendimento às demandas populacionais, principalmente àqueles envolvidos nos processos agrícolas. A análise dos bioindicadores nos cursos e corpos d’água auxiliará na avaliação de planos de recuperação de vegetação de áreas degradadas, análise do impacto do uso de insumos agrícolas, e outras atividades que geram impacto no ambiente, focando na melhoria da qualidade da água que, direta ou indiretamente, afeta ao ser humano, que a utiliza para consumo próprio, de animais ou na irrigação de culturas.

Diversos métodos são utilizados em avaliações da qualidade da água, sendo as variáveis físicas e químicas as mais comumente utilizadas, pelo histórico de estudo envolvendo esta questão e pela facilidade em analisar estas variáveis.

Entretanto, o uso das mesmas é limitado, pois a informação, principalmente nos ambientes de água corrente, somente será aferida se a amostragem de água for realizada no mesmo momento que houver um lançamento de efluente ou substância alóctone ao ambiente ribeirinho. Caso contrário, esse produto será diluído e disperso no ambiente, sofrendo ainda, o processo de autodepuração próprio dos rios, sendo seus níveis mascarados no sistema.

Por outro lado, os organismos pertencentes à flora ou à fauna ribeirinhos, por viverem nestes locais, incorporam as substâncias alóctones em seus tecidos, sendo acumulados na cadeia trófica ao servirem de item alimentar aos outros táxons.

Sendo assim, os insetos aquáticos pertencem a um grupo cuja função ecológica e taxonomia é bastante estudada em diversos países do mundo; seu uso em estudo de avaliação e monitoramento da qualidade da água vem sendo defendido há várias décadas.

A utilização destes bioindicadores em programas de avaliação da qualidade da água é prática usual de órgãos ambientais como a CETESB, em São Paulo, indicando a funcionalidade da análise destes organismos no ambiente para classificação do recurso hídrico. Esses resultados auxiliam no gerenciamento das bacias hidrográficas daquele estado.

Mesmo assim, a elucidação dos papéis ecológicos desta entomofauna assim como o conhecimento básico sobre sua taxonomia ainda está em processo no Brasil. Em parte devido à elevada riqueza de espécies (táxons) que faz com que estudos ecológicos sejam contemplados com grande número de táxons não descritos, portanto, não conhecidos pelos pesquisadores, dificultando a interpretação dos dados.

Para exemplificar o tamanho da riqueza da fauna, nos anos 60, pesquisadores alemães fizeram intensas coletas de material proveniente da região Amazônica e, até os dias atuais, novas espécies são descritas e catalogadas.

Associado à elevada riqueza está o baixo número de pesquisadores que se dedicam ao estudo destes animais, tanto nas áreas taxonômica, ecológica, evolução e outras. Os maiores grupos de pesquisadores concentram-se nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, com dispersão de representantes em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Norte e, mais recentemente, no Distrito Federal.

Na Embrapa Cerrados, a inclusão da análise dos bioindicadores nos cursos d’água auxiliará na avaliação de planos de recuperação de vegetação de áreas degradadas, análise do impacto do uso de insumos agrícolas, estudos sobre impactos ambientais causados por mineradoras no recurso hídrico, todas essas ações focam na melhoria da qualidade da água, com consequências na vida do ser humano, que utiliza a água para consumo próprio, de animais ou na irrigação de culturas.

Além disso, serve como ferramenta para auxiliar a fortalecer o estabelecimento de corredores entre unidades de conservação do Distrito Federal, como a área de proteção de manancial Mestre D’Armas, o Parque Nacional de Brasília e a Estação Ecológica de Águas Emendadas, e inter-estaduais, como é o caso do Parque Estadual da Serra dos Pirineus em Goiás e do Parque Nacional da Serra do Cipó, em Minas Gerais. Aumentando a probabilidade de fluxo gênico entre essas áreas, o que garante a manutenção do equilíbrio ecológico da entomofauna aquática e, conseqüentemente, influenciando em toda a cadeia alimentar envolvida.

Kathia Sonoda

Bióloga, doutora em ecologia pela Esalq / USP. É pesquisadora da Embrapa Cerrados (Planaltina –DF).

Contato: kathia.sonoda@cpac.embrapa.br

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