Transgênicos no Dia de Campo C.Vale
De acordo com dados da FAO, em 2006 a produção mundial de melão foi de cerca de 27,6 milhões de toneladas, sendo os maiores produtores a China, Turquia, Estados Unidos, Irã e Espanha, que respondem no conjunto por mais de 60% da produção mundial. É importante realçar que atualmente o melão é a oitava fruta em volume de produção mundial e também está no rol das dez principais frutas mais exportadas, com um mercado estimado em mais de 1,8 milhões de toneladas por ano. Os principais países importadores são Estados Unidos, Reino Unido, França, Canadá e Alemanha que acumularam em 2005 mais de 70% das importações mundiais.
Com relação aos países exportadores a Espanha está na primeira colocação, seguido pela Costa Rica, Honduras, Estados Unidos e o Brasil, que no momento responde por cerca de 9% do total das exportações mundiais de melão. As exportações brasileiras de melão registraram um crescimento expressivo nos últimos seis anos, passando de 45,7 mil toneladas em 1997 para cerca de 156 mil toneladas em 2006(FAO, 2007).
Em termos de Brasil, o melão é, dentre as frutas tropicais de maior interesse comercial, a que tem demonstrado expansão mais significativa nas duas últimas décadas. Nesse período, o volume produzido passou de 37 mil toneladas anuais em 1981 para 352 mil toneladas em 2005. Esse incremento tão vigoroso deveu-se exclusivamente à região Nordeste, que aumentou em 773% a produção entre os anos de 1987 a 2005, passando de 38 mil para 332 mil toneladas anuais (IBGE, 2007). Com essa significativa expansão na oferta de melão, essa fruta tornou-se um dos mais importantes produtos do agronegócio brasileiro, conquistando espaços cada vez maiores nos mercados nacional e internacional. O principal pólo de produção de melão no país é a região de Mossoró e Açu no Estado do Rio Grande do Norte, com uma área plantada de mais de cinco mil e quinhentos hectares e uma produção de cerca de 165 mil toneladas anuais. Em seguida vem o pólo do Baixo Jaguaribe, localizado no Estado do Ceará, com uma área cultivada em torno de 4 mil e quinhentos hectares e uma produção estimada em 115 mil toneladas. O terceiro grande pólo de cultivo do meloeiro é a Região do Submédio São Francisco, situado em terras pertencentes aos Estados de Bahia e Pernambuco, com uma área plantada de 1,8 mil hectares e uma produção em torno de 25 mil toneladas.
O cultivo do melão no pólo do Submédio São Francisco apresenta no tocante à forma de exploração um comportamento bem diferente do observado nas regiões de Mossoró e Açu e do Baixo Jaguaribe. Isto porque, naqueles pólos de produção o cultivo é dominado pelas grandes empresas, enquanto no Submédio São Francisco é praticado majoritariamente por produtores assentados nas áreas de colonização dos perímetros irrigados e por pequenos empresários rurais localizados nesses mesmos perímetros. Trata-se de agricultores pouco capitalizados que cultivam o melão principalmente entre os meses de fevereiro a abril e destinam a produção basicamente para o mercado interno. É importante assinalar que até o ano de 1987 o Submédio São Francisco era a região maior produtora de melão do país e, por apresentar menos atrativo econômico que outras frutíferas como a manga e a uva, o cultivo desse produto hortifrutícola pouco a pouco foi perdendo importância econômica, notadamente no segmento das grandes empresas que destinam seus produtos tanto para o mercado interno como para exportação (Araújo, 2003).
Entretanto, como o cultivo do melão é uma exploração que demanda muito capital, torna-se imprescindível que os produtores além do conhecimento técnico sobre o manejo do cultivo tenham também conhecimentos sobre praticas de gestão. Neste contexto, uma das ferramentas de gestão fundamentais no processo de tomada de decisão do produtor sobre o que plantar é a identificação e a quantificação dos custos de produção do cultivo explorado, bem como a determinação da sua rentabilidade econômica. Este estudo teve como objetivo caracterizar os custos e determinar a viabilidade econômica do sistema de produção do melão explorado na região do Submédio São Francisco.
As Unidades de análise do estudo foram os lotes dos colonos dos perímetros irrigados da região do Submédio São Francisco e os seguintes os procedimento foram utilizados para a obtenção dos dados: 1- Entrevistas com produtores nas áreas típicas de cultivo do meloeiro, onde foram identificadas as atividades executadas pelos mesmos, bem como a infra estrutura da unidade produtiva utilizada no processo; 2- Os insumos foram levantados na grande rede de empresas que os comercializam no polo Juazeiro – Petrolina e nos distritos de irrigação que administram os perímetros irrigados onde os cultivos de melão são explorados; 3 - Os preços do melão foram obtidos no mercado do produtor de Juazeiro. Para a análise dos custos de produção e da viabilidade econômica da cultura utilizou-se o modelo desenvolvido pelo Instituto de Economia Agrícola de São Paulo. Nesse método os custos foram agrupados em duas categorias que são os Custos Operacionais Efetivos ( COE) que corresponde aos custos variáveis ou despesas diretas com desembolso financeiro desde o preparo do solo até a colheita e os Custos Indiretos (CI) que refletem os custos fixos e as despesas indiretas que tem o produtor para a obtenção da produção, como custo da terra, depreciações, salário de encarregado, impostos, etc. O Custo Total (CT), corresponde ao somatório dos dispêndios globais de (COE) + (CI). A Margem Total da Produção (MT) origina-se da venda de frutos, sendo obtida a partir das quantidades comerciais produzidas, multiplicadas pelo preço médio anual de venda do produto no mercado interno. A relação benefício custo foi o resultado do quociente entre MT e CT.
A análise dos custos de produção do melão na região do Submédio São Francisco revela que os gastos dos insumos correspondem a 64,34% dos custos operacionais totais, sendo a semente melhorada o item mais oneroso respondendo por cerca de 38% dos custos dos insumos. Já os serviços que correspondem a 35,66% dos custos operacionais totais, têm na capina e colheita as operações que absorvem os maiores custos, uma vez que no conjunto são responsáveis por cerca de 41,50% dos custos de serviços. Analisando-se os insumos por grupo, se constata que os agroquímicos respondem por 21,73% dos custos operacionais totais, enquanto os adubos e fertilizantes são responsáveis por 34,76% desses mesmos custos. É interessante comentar que o custo de produção de melão da região do Submédio São Francisco não contempla o item que mais onera a produção do melão nas demais regiões produtoras do país, que é a caixaria. Esta situação ocorre porque no Submédio São Francisco o melão é quase em sua totalidade comercializado a granel, ficando a cargo do comprador o custo de embalagem.
Para se ter uma idéia mais precisa da rentabilidade do melão na região do Submédio São Francisco considerou-se neste estudo os custos indiretos da produção que correspondem a 7,64% do custo total da exploração. Considerando que o valor médio anual de comercialização de melão do pólo de produção em análise, é de R$ 0,49.kg, e a produtividade média do melão é 15000 kg.ha pode-se considerar que o valor bruto médio da produção em um hectare é de R$ 7.350,00. Comparando-se esse valor que corresponde a receita bruta total com os custos totais de produção por hectare, se constata que a exploração do melão na região do Submédio São Francisco apresenta resultados economicamente satisfatórios em diversos índices de eficiência econômica. A taxa de retorno é de 0,37%, situação que indica que para cada R$ 1,00 real utilizado no custo total de manutenção de um hectare de melão houve um retorno de R$ 1,37. O ponto de nivelamento também confirma o razoável desempenho econômico da cultura analisada, pois será necessário uma produtividade de apenas 10.939 Kg para a receita se igualar aos custos. Este mesmo desempenho pode ser observado no resultado da margem de segurança que corresponde a - 0,27, condição que revela, que para a receita se igualar à despesa a quantidade produzida ou o preço de venda do produto pode cair em 27%.
O estudo revela que a exploração do melão na região do Submédio São Francisco é uma atividade rentável, visto que, nos diversos parâmetros de desempenho econômico analisado, os resultados foram significativos.
Entretanto, como se trata de uma exploração de elevado custo, é importante que os produtores também procurem entender o comportamento dos preços do produto ao longo do ano bem como o funcionamento dos mercados de destinos.
Ainda com relação aos custos, é interessante comentar que como a sociedade cada vez exige com mais intensidade a exploração de cultivos que agridam menos ao meio ambiente e a saúde do consumidor, pode-se concluir que a tendência atual com relação ao cultivo do melão no Submédio São Francisco é de redução da quantidade de agrotóxicos e de adubos químicos e o conseqüente incremento no uso de insumos orgânicos, tanto na forma de adubos como de defensivos.
Pesquisador da Embrapa Semi-Árido. Caixa Postal 23. 56302-970. Petrolina, PE. E-mail: lincoln@cpatsa.embrapa.br.
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