Após novo alerta, Mapa reforça ações contra praga incurável da bananeira em São Paulo

Relatos de dispersão da fusariose no Peru justificam intensificação do controle em São Paulo; Vale do Ribeira é a maior região produtora do país

06.07.2022 | 16:21 (UTC -3)
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Coleta feita este ano em região produtora de banana. - Foto: Wilson Moraes /SFA-SP/ Divulgação Mapa
Coleta feita este ano em região produtora de banana. - Foto: Wilson Moraes /SFA-SP/ Divulgação Mapa

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) emitiu alerta para que suas superintendências federais nos estados reforcem o monitoramento sobre a fusariose raça 4 tropical da bananeira. A doença ainda não chegou ao Brasil, mas teve casos confirmados na Colômbia em 2019 e no Peru em 2020. Recentemente, surgiram relatos de eventual dispersão da praga para outras regiões peruanas, assim como suspeitas de ocorrência (ainda não confirmadas oficialmente) em outros países latinos que fazem fronteira com o Brasil.

No Estado de São Paulo, onde se encontra a maior região produtora de banana do país, o Vale do Ribeira, as ações de monitoramento e prevenção foram realizadas no primeiro semestre. Mas, em função desse novo alerta emitido no final de maio, a equipe da Superintendência Federal de Agricultura (SFA-SP) decidiu prorrogar o monitoramento e reforçar as ações preventivas.

A fusariose raça 4 tropical atinge a planta através do solo infectado, mudas contaminadas e implementos agrícolas e instrumentos de poda infectados. Ao penetrar na planta, a praga entope os vasos que conduzem a seiva, impedindo o movimento de nutrientes e água.

“Como consequência, a planta seca, amarelece e morre. O fungo permanece no solo por mais de 40 anos, tornando inviável a continuação da cultura na área. Ainda não existe controle químico que possa combater a doença, nem variedades resistentes a ela no Brasil e no mundo”, explica o engenheiro agrônomo e fitopatologista Wilson da Silva Moraes, da SFA-SP. A única forma de evitar prejuízos é a prevenção.

A doença já se espalhou pela Indonésia (1990), China (1996), Filipinas (2008), África (2013), Austrália (2015) e América. Em 2015 a FAO – Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação – emitiu alerta internacional para tentar conter o avanço da fusariose.

Programação

De 5 a 8 de julho, estão sendo feitas coletas na região de Riolândia, Santo Antônio do Aracanguá, Getulina, Novo Horizonte e Colina. A ideia é intensificar os levantamentos, partindo de áreas ainda não visitadas até regiões onde já foi feito o monitoramento anteriormente, como o Vale do Ribeira e o Planalto Paulista. Esse levantamento vai ser realizado em todos os municípios que produzem a banana de forma comercial.

Também nesse segundo semestre, a SFA-SP vai promover palestras voltadas a produtores rurais. Para isso, precisará envolver cooperativas, associações e sindicatos rurais. Essas ações de orientação devem ocorrer nas regiões de Fernandópolis, Jales, Andradina, Assis, Avaré, São Bento do Sapucaí e Vale do Ribeira.

Testes negativos 

O Mapa vem desenvolvendo desde 2019 um trabalho de prevenção e monitoramento não apenas da fusariose raça 4 tropical, mas também do moko da bananeira. De março a maio ocorreram cinco etapas de coleta: a primeira em municípios no Vale do Ribeira, a segunda em Taubaté, a terceira em Jales, Fernandópolis e Andradina, a quarta em Assis e Avaré e a última em Campinas e Aguaí. As coletas envolvem o sistema vascular das plantas (filetes do caule e da raiz).

No total, já foram coletadas 70 amostras para fusariose e 70 para moko. As amostras são analisadas pelo laboratório oficial do Mapa localizado em Goiás. O resultado demora de 7 a 15 dias. Até o momento, todas as amostras testaram negativo para as duas doenças.

Em 2019 e 2020 o monitoramento foi regular, em várias regiões do estado. Em 2021, só foram feitas coletas no Vale do Ribeira, em função de restrições da pandemia de coronavírus e condição climática adversa. Em 2022 foram contemplados, até o momento, o Vale do Ribeira, Vale do Paraíba e oeste paulista.

O moko da bananeira é causado por uma bactéria habitante do solo. A doença já ocorre na região norte do país e infecta desde a raiz até a inflorescência [parte da planta onde se localizam as flores] ou cacho. O moko pode ser disseminado por mudas infectadas, ferramentas contaminadas ou pelo contato de raiz para raiz ou do solo para a raiz.

Outro veículo importante de transmissão são os insetos visitadores de inflorescências, como as abelhas, vespas e mosca-das-frutas. A doença compromete o desenvolvimento da bananeira e a única forma de controle é a detecção precoce e a rápida erradicação das plantas infectadas e das que estão próximas. “Mesmo aparentando estar sadias, as mudas já podem ter contraído a doença”, explica Moraes. 

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