Plantio de soja é finalizado no RS
69% da área cultivada está em germinação/desenvolvimento vegetativo; 24%, em floração; e 7% em enchimento de grãos
A ocorrência de doenças na cultura da soja vem mudando nos últimos anos em razão das alterações no sistema produtivo. Embora a ferrugem-asiática ganhe destaque por ser a doença mais severa e por ocorrer na maioria das regiões produtoras, medidas de manejo como o vazio sanitário e a concentração das semeaduras no início da época recomendada com cultivares precoces têm feito com que a incidência dessa doença ocorra cada vez mais tarde nas regiões e lavouras, sendo um problema principalmente no final do ciclo ou nas semeaduras mais tardias pelo aumento do inóculo. A ferrugem-asiática, por sua severidade, quando presente na lavoura, causa a desfolha precoce, sendo difícil observar outras doenças foliares pela competição pelo tecido foliar.
No entanto, cada vez mais, nas semeaduras logo após o final do vazio sanitário, outras doenças foliares têm predominado nas lavouras até o aparecimento da ferrugem-asiática. Destaca-se a mancha-alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola. A incidência dessa doença tem aumentado nas últimas safras. Embora a maioria dos programas de melhoramento não faça seleção para resistência a C. cassiicola, existe diferença de reação entre as cultivares. Perdas de até 40% podem ser observadas em cultivares suscetíveis. Outro fator que tem contribuído com a presença dessa doença no campo é a menor sensibilidade/resistência do fungo aos fungicidas mais comumente utilizados na cultura da soja.
Os sintomas da mancha-alvo nas folhas começam por pontuações pardas, com halo amarelado, evoluindo para manchas circulares, de coloração castanho-clara a castanho-escura. Normalmente, as manchas apresentam uma pontuação no centro e anéis concêntricos de coloração mais escura, advindo daí o nome de mancha-alvo. Dependendo da reação da cultivar, as lesões podem atingir até 2cm de diâmetro ou permanecer pequenas (1mm a 3mm), mas em maior número. Também podem ocorrer manchas nos pecíolos, hastes, nervuras das folhas e vagens, sendo muitas vezes confundidas com antracnose. Cultivares suscetíveis podem sofrer desfolha precoce. Algumas cultivares apresentam boa tolerância à desfolha e a presença da doença só é notada nas folhas inferiores.
Além da soja, o fungo C. cassiicola infecta mais de 400 espécies de plantas, que incluem importantes culturas utilizadas na rotação ou sucessão, como algodão e crotalária, além de diversas plantas daninhas. O fungo pode colonizar uma ampla gama de resíduos no solo e sobreviver em restos de cultura e sementes infectadas.
Conhecer a reação da cultivar à mancha-alvo é importante na definição do programa de manejo com fungicidas. Nem todo fungicida apresenta boa eficiência no controle do fungo C. cassiicola. Desde a safra 2011/2012, experimentos em rede vêm sendo realizados, em diferentes regiões produtoras, para a comparação da eficiência de fungicidas registrados e em fase de registro para o controle da mancha-alvo na cultura da soja. O objetivo dos experimentos em rede é a avaliação da eficiência de controle no alvo biológico. Para isso são utilizadas aplicações sequenciais de fungicidas. No entanto, isso não constitui uma recomendação de controle. As informações devem ser utilizadas dentro de um sistema de manejo, considerando a incidência de outras doenças e priorizando sempre a rotação de fungicidas com diferentes modos de ação para atrasar o aparecimento de resistência dos fungos aos fungicidas.
Na safra 2019/2020 foram realizados 20 experimentos por 15 instituições de pesquisa, em estações experimentais no Mato Grosso do Sul, no Mato Grosso, em Goiás, em Tocantins e na Bahia, onde a doença tem sido mais severa. Foram avaliados cinco fungicidas, além da testemunha sem tratamento (Tabela 1). O fungicida utilizado no tratamento 2 apresenta registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle da mancha-alvo em soja e os fungicidas dos tratamentos 3 a 6 apresentam Registro Especial Temporário III (RET III). As aplicações iniciaram-se no pré-fechamento das linhas de semeadura (45-50 dias após a germinação), repetidas com intervalos de 14 dias, totalizando três a quatro aplicações.
Em todos os experimentos foram utilizadas cultivares consideradas suscetíveis à mancha-alvo, com base em observações a campo. As áreas para instalação dos experimentos foram semeadas no início da época recomendada, para reduzir a probabilidade de incidência da ferrugem-asiática. Na análise conjunta dos experimentos foram utilizados 15 locais para severidade e 13 para produtividade (Tabela 1).
As menores severidades e as maiores porcentagens de controle foram observadas nos tratamentos com fluxapiroxade + protioconazol (T3 - 78%), azoxistrobina + protioconazol + mancozebe (T5 - 78%) e bixafen + protioconazol + trifloxistrobina (T2 – 76%), seguido de protioconazol + fluindapir (T6 – 73%) (Tabela 1).
As maiores produtividades foram observadas para os tratamentos com azoxistrobina + protioconazol + mancozebe (T5 – 4.229kg ha-1), bixafen + protioconazol + trifloxistrobina (T2 – 4.167kg ha-1), protioconazol + fluindapir (T6 – 4.110kg ha-1) e fluxapiroxade + protioconazol (T3 – 4.087kg ha-1) (Tabela 1). A média da redução de produtividade da testemunha sem fungicida em relação à maior produtividade (T5) foi de 17,3%.
Como nos anos anteriores dos experimentos em rede, fungicidas contendo protioconazol têm mostrado as melhores eficiências de controle para mancha-alvo, assim como produtos contendo fluxapiroxade (Figura 1). Os fungicidas multissítios, como mancozebe, também ajudam no controle da mancha-alvo, sendo importantes principalmente nas regiões onde tem sido relatada menor sensibilidade do fungo a fungicidas sítio-específicos. Os resultados de produtos registrados, sítio-específicos e multissítios, em avaliações das safras anteriores, podem ser consultados nas circulares técnicas disponíveis em: https://www.embrapa.br/soja/publicacoes.
Relatos de resistência do fungo C. cassiicola a fungicidas vêm aumentando. A baixa eficiência de controle da doença com carbendazim (metil benzimidazol carbamato) vem sendo observada nos ensaios em rede desde 2011/12 (Figura 2). Os fungicidas comerciais desse grupo atuam inibindo a montagem dos microtúbulos do fuso durante a divisão nuclear ligando-se à proteína β-tubulina. Populações resistentes podem apresentar mutações na proteína β-tubulina. As mutações de ponto E198A e F200Y no gene da β-tubulina, que conferem resistência completa, foram encontradas em isolados de C. cassiicola obtidos de folhas de soja de plantas coletadas no Mato Grosso, no Paraná e no Mato Grosso do Sul (Mello, 2009), o que pode explicar a baixa eficiência desse fungicida.
A mutação G143A, que confere resistência completa a fungicidas inibidores de quinona externa (estrobilurinas), foi detectada em número significativo de amostras no Brasil em 2015 e 2016 em isolados de C. cassiicola no Mato Grosso, no Mato Grosso do Sul e no Paraná (Frac, 2019). Em 2017/2018 isolados com as mutações sdhB-H278Y e sdhC-N75S que conferem menor sensibilidade do fungo a fungicidas inibidores da succinato desidrogenase (carboxamidas) foram relatados pelo Comitê de Ação a Resistência a Fungicidas (Frac), principalmente em áreas de soja em sucessão com algodão.
Os relatos de resistência reforçam a necessidade da adoção de estratégias antirresistência, como limitar o número de aplicações de carboxamidas a duas aplicações por ciclo da cultura da soja, e adoção de todas as estratégias no manejo da doença, como a utilização de cultivares resistentes/tolerantes, o tratamento de sementes e a rotação/sucessão de culturas com milho e/ou outras espécies de gramíneas.
Conhecer a reação da cultivar à mancha-alvo é o primeiro passo na definição de um programa de manejo com fungicidas. Muitas cultivares apresentam boa tolerância/resistência a essa doença e não necessitam de controle e para aquelas que precisam, é necessário a escolha do fungicida adequado, uma vez que nem todos apresentam boa eficiência.
Cláudia Vieira Godoy, Maurício Conrado Meyer e Ivani de Oliveira N. Lopes, Embrapa Soja; Carlos Mitinori Utiamada, Tagro Tecnologia Agropecuária; Hercules Diniz Campos, UniRV/ Campos Pesquisa Agrícola; Alfredo R. Dias, Fundação Chapadão; José Nunes Junior e Cláudia Barbosa Pimenta, CTPA/ Emater – GO; Diego Sichocki e Luís Antônio de Sousa Lima, Meta Consultoria Agrícola; Eder Novaes Moreira, Fitolab Pesquisa e Desenvolvimento Agrícola; Tiago F. Konageski e Fabíola T. Konageski, Rural Técnica Experimentos Agronômicos Ltda.; José Fernando J. Grigolli, Fundação MS; Luana M. de R. Belufi, Fundação Rio Verde; Luís Henrique Carregal, Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas Eireli; Marcio Goussain Júnior, Assist Consultoria; Moab Diany Dias, Universidade Federal do Tocantins; Mônica Cagnin Martins, Círculo Verde Assessoria Agronômica e Pesquisa; Mônica A. Müller e Josiclea H. Arruda, Fundação MT; Valtemir J. Carlin, Agrodinâmica Pesquisa e Consultoria Agropecuária
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