O clima não pode ser mudado, mas o conhecimento sobre ele pode minimizar os impactos sobre a atividade agropecuária, causados por geadas, veranicos, excesso ou falta de chuva, etc. Os dados agrometeorológicos, aliados à intensificação e sustentabilidade dos sistemas de produção, podem contribuir para o desenvolvimento agrícola. Os pesquisadores Carlos Ricardo Fietz, Danilton Luiz Flumignan e Éder Comunello falaram sobre os trabalhos de pesquisa da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS) com dados climáticos em favor do homem do campo durante live realizada em 25 de junho de 2020, pela manhã.
Uma das contribuições à sociedade é a análise de dados gerados por estações meteorológicas. A Embrapa Agropecuária Oeste possui mais de 40 anos de dados registrados pela estação localizada na área da Unidade, além de séries menores relativas aos municípios de Rio Brilhante e Ivinhema. Esses dados associados aos dados de outras estações existentes em Mato Grosso do Sul, são fundamentais para a execução do zoneamento agrícola de risco climático (ZARC) de diversas culturas, como é o caso mais recente do milho verão que está em período de validação pelo setor produtivo, e da cultura da melancia, que está no início da pesquisa.
“Além de fazer o monitoramento dos elementos e eventos climáticos, temos experimentos para saber qual a demanda hídrica que a planta necessita, de acordo seu desenvolvimento. Para cada cultura, a definição da melhor época de plantio considera características do solo das e culturas, especialmente no que diz respeito à fases críticas de desenvolvimento dos cultivos, como enchimento de grãos”, explica o pesquisador Éder Comunello.
São analisados os períodos e o locais nos municípios que podem ter mais problemas com as intempéries. As séries históricas utilizadas devem ter, no mínimo, 15 anos. Da análise dessa histórica, considerando o atendimento das necessidades da cultura, define-se o número de sucessos obtidos e calcula-se o risco de frustação.
Cada zoneamento produzido gera um calendário de plantio que é validado com o setor produtivo, O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), é o responsável por coordenar e divulga os resultados. Comunello lembra que não é obrigatório plantar no período indicado pelo zoneamento agrícola, mas que a não adesão praticamente elimina a possibilidade de contratar o seguro agrícola. O ZARC é uma segurança tanto para o produtor como para os seguradores
A caracterização do clima de uma região permite transpor as condições desfavoráveis, como mostra o trabalho realizado na Região da Costa Leste de MS. O pesquisador Danilton Flumignan apresentou vários dados climáticos disponíveis na região do Bolsão, caracterizando clima da região em termos de: temperatura, chuva, ventos, etc., traçando cenário médio. Viu-se que o mês que mais chove é janeiro (270 mm) e o que menos chove é julho (19 mm, 14 vezes menos que janeiro).
Segundo ele, a região leste possui clima muito bem definido, com período chuvoso de 4 a 5 meses (de dezembro a março). Porém, de abril até novembro há escassez de chuva, predominando, assim, a pecuária. Mas por cerca de 6 meses a pouca água reduz produção de biomassa para o gado pastejar.
“A janela para se explorar é curta nos 4 meses. Não se consegue contornar com facilidade esse período de 6 meses. Felizmente, a pesquisa agropecuária tem avançado. Existem práticas que podem ser levadas ao campo, como a integração lavoura-pecuária (ILP), agregando palha ao sistema, melhorando a matéria orgânica, ajudando a reter mais água e contribuindo para viabilizar a agricultura na região. Levar água por intermédio da irrigação e ajudar a agricultura a se desenvolver”, esclarece.
Com o banco de dados meteorológicos da Embrapa e de outras instituições, produziu-se um modelo matemático capaz de informar, em dezembro, se as geadas podem ou não acontecer no mês de junho subsequente. Investigamos durante alguns anos para ver se funcionava. As pesquisas começaram em 2014.
A confiabilidade do modelo foi aumentando, com maior assertividade se a geada ocorreria ou não. “Nos últimos dois anos, a Embrapa sinalizou que não teríamos geada e acertou. As temperaturas mínimas foram 6ºC em 2018 e 10,1ºC em 2019. Para este ano de 2020, a probabilidade de não se ter geada em junho era de somente 4%. Mas, graças ao fenômeno bloqueio atmosférico no Brasil Central, que bloqueia as massas de ar frio vindas do sul, não houve condições climáticas que resultassem em geada. Aparentemente, esse bloqueio está se dissipando e, até a primeira semana de julho, deve esfriar na região sul do estado”.
Os dados climáticos da Embrapa Agropecuária Oeste, com séries com mais de 40 anos, estão disponibilizados para o público no website Guia Clima, que monitora, 24 horas por dia, os principais elementos meteorológicos, como temperatura, chuva, etc. As leituras são apresentadas a cada 15 minutos, em tempo real.
Além de Dourados, há mais duas estações meteorológicas, uma em Rio Brilhante e outra em Ivinhema. “Os dados das estações monitoram, em tempo real, as condições meteorológicas. Um relatório, com um resumo do comportamento do dia anterior, é lançado automaticamente no site nos primeiros minutos de cada dia”, informa o pesquisador Carlos Ricardo Fietz.
Com os dados contidos no Guia Clima, pode-se obter muitas informações sobre o clima da região. Por exemplo, em média, ocorrem quatro geadas ao ano em Dourados. A mais precoce da série histórica de 42 anos ocorreu em 21 de maio, em 1999. Já as temperaturas médias mensais mais altas acontecem em dezembro e janeiro, no verão, e diminuem até julho, o mês mais frio do ano.
As chuvas costumam retornar na segunda quinzena de setembro e tendem a aumentar até dezembro. “O volume de chuva mensal costuma mudar muito. Mas o volume anual é bem mais constante, com total de 1415 mm. O ano de 2015 foi o único ano que superou os 2000 mm, devido ao fenômeno El Niño”, relatou Fietz. Desde 1979, foram registrados na região 65 períodos de 20 ou mais dias consecutivos sem chuva, e 26 períodos de 30 dias.