Algodão como segunda cultura aumenta interesse por soja precoce

Produtores aproveitam o clima favorável e antecipam o plantio em relação aos anos anteriores. O objetivo é obter preços de entressafra e viabilizar o plantio de algodão adensado.

A parcela de produtores que têm apostado nas variedades precoces de soja está aumentando, conforme apontam pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Neste ano, um incentivo extra foram as chuvas no período que costumava ser de estiagem, o que reduz os riscos de perdas na etapa de plantio.

A motivação mais comum para se elevar o percentual de soja precoce é o interesse por ter o grão já colhido quando a maioria ainda estiver em entressafra – e as perspectivas para 2010, de fato, são de aumento de oferta do grão. Mas, nesta safra, também a possibilidade de ter o algodão como segunda cultura está animando os produtores.

Trata-se de algodão plantado mais tarde. Ao invés de acompanhar o plantio tradicional em novembro e dezembro, a semeadura será feita em janeiro e fevereiro, posterior à colheita da soja precoce. Já a colheita da pluma deverá ocorrer junto com a das áreas de plantio tradicional, tendo em vista que o sistema adensado reduz por volta de 30 dias o ciclo do algodão e diminui os custos de produção em aproximadamente 25%, segundo pesquisas preliminares do Cepea.

No ano passado, foram feitos os primeiros plantios, e na safra 2009/10, produtores estão aumentando as apostas nesse novo sistema de cultivo do algodão. Um aspecto ressaltado por pesquisadores do Cepea é que, mesmo com esse aumento de algodão adensado, em termos absolutos, a área com a cultura continua sendo pequena e não chega a ameaçar a destinada ao milho safrinha.

Os preços atuais da pluma são os menores para o período, considerando-se toda a série Cepea iniciada em 1996. A média parcial de setembro, em R$ 1,1602/libra-peso, é 3,8% inferior à média deflacionada de setembro/2008, que era, até então, a menor para o mês de toda a série (real). A intervenção governamental através de Pepro (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor) é que está amenizando a situação do produtor. Os baixos preços nas últimas duas safras, vê-se, impulsionaram a busca por um novo sistema de produção.

Quanto ao plantio precoce da soja, pesquisadores do Cepea comentam que essas variedades são mais sensíveis que as de ciclo normal, e qualquer redução do índice pluviométrico pode acarretar em perdas expressivas.

Apesar do otimismo com os trabalhos do campo, os preços internos da soja caíram nos últimos dias, conforme levantamentos do Cepea. As cotações do farelo de soja, que vinham sustentando os preços da soja em grão, perderam força e passaram a pressionar o grão. Assim, o óleo passou a ter maior participação no preço da soja em grão.

De acordo com pesquisas do Cepea, a comercialização da soja em grão segue lenta no mercado interno, com poucos negócios reportados para os próximos meses e para a nova safra. As consecutivas quedas nos preços internacionais e a desvalorização do Real frente ao dólar – de 1,32% em sete dias – acabaram diminuindo o interesse de vendedores. Porém, neste período de entressafra nacional, as relações de oferta e demanda regionais são o principal balizador dos preços domésticos e, por isso, as perdas foram limitadas.

É importante destacar que, na semana passada, as cotações da soja no porto de Paranaguá, mais sensíveis à CBOT e ao câmbio, chegaram aos menores patamares desde outubro de 2008 (agravamento da crise internacional). Desde então, estão abaixo do valor observado nas demais regiões paranaenses.

O Indicador ESALQ/BM&FBovespa (grão posto porto de Paranaguá) recuou 3,07% entre as duas últimas segundas-feiras, passando para R$ 44,10/saca de 60 kg. Este valor é menor que o Indicador CEPEA/ESALQ para o estado do Paraná (interior), que fechou a R$ 45,05 nessa segunda-feira, com recuo de 1,16% em sete dias. Esta relação foi observada apenas em alguns dias de dezembro de 2007. Na média das principais praças pesquisadas pelo Cepea, as cotações da soja recuaram 0,9% no mercado de balcão (ao produtor) e 1,2% no de lotes (negociações entre empresas) nos últimos sete dias.

Outras informações podem ser obtidas com o professor responsável pela pesquisa, Lucilio Rogerio Alves, por meio do Laboratório de Informação do Cepea: 19-3429-8837 ou

Sobre os Indicadores de Preços da Soja:

Com o término do vazio sanitário em algumas regiões brasileiras em meados de setembro, o plantio de soja da safra 2009/10 começou no País, especialmente em algumas localidades dos estados de Mato Grosso e Paraná, segundo pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Produtores consultados pelo Cepea aproveitam as boas chuvas, antecipando o plantio em relação aos anos anteriores.

Essa decisão pode fazer com que o plantio da nova safrinha também seja adiantado para um período considerado satisfatório para produtores (com elevados índices pluviométricos). Conforme pesquisadores do Cepea, no Centro-Oeste, por exemplo, parte dos agricultores deve plantar algodão após a colheita da soja da próxima safra (2009/10) – ao invés de milho –, num novo sistema de cultivo da cultura.

A antecipação do plantio também está relacionada à expectativa de oferta elevada da oleaginosa no ano-safra 2009/10, o que deve pressionar cotações a partir do início efetivo da colheita. Assim, a estratégia de agentes consultados pelo Cepea seria colher quando a maioria ainda estiver em entressafra. O aumento da produção é estimado tanto para os Estados Unidos quanto para Argentina e Brasil. Aqui, a soja deve avançar em áreas antes destinadas a outras culturas, em especial o milho.

Apesar disso, produtores estão apostando neste sistema. Em Mato Grosso, por exemplo, mesmo nas vésperas da finalização do vazio sanitário, produtores já estavam plantando, considerando que a germinação das sementes ocorreria somente num período liberado para se ter plantas vivas de soja. Com essa atitude, alguns produtores chegaram a ser multados pelos órgãos fiscalizadores do estado mato-grossense.

Alessandra da Paz e Ana Paula Silva

Comunicação Cepea

19-3429-8836 / 8837 /