Água de chuva para o desenvolvimento sustentável

29.09.2009 | 20:59 (UTC -3)

O 70 Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva, que acontece na cidade de Caruaru-PE até o dia 10 de outubro, vai debater o aproveitamento das chuvas no contexto de uma gestão integrada dos recursos hídricos no semiárido e em outras regiões do país e do mundo.

O evento debate não apenas nas áreas rurais, mas, especialmente, nas cidades onde mora a grande maioria da população do país.

De acordo com a engenheira agrícola Luza Teixeira de Lima Brito, pesquisadora da Embrapa Semi-Árido, o simpósio vai apontar, entre outros enfoques, as políticas voltadas para aumentar a eficiência do uso da água como um dos graves problemas a desafiar a sociedade brasileira. O que se vê ainda hoje é a valorização de formas convencionais e centralizadas de gerenciamento da água, enquanto propostas de descentralização, como o manejo de água de chuva.

Estudo - Para Luiza Brito, há uma diversidade de estudos e técnicas desenvolvidas em instituições públicas de pesquisa, ao lado de um número crescente de experiências nas organizações não governamentais que apontam respostas importantes para o combate à fome e à pobreza no meio rural. Elas são base para importantes programas de governo voltados para pequenos agricultores como o Fome Zero, o Água Doce, o Pronaf, o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) e, mais recente, o Programa Uma Terra Duas Águas (P1+2).

O sucesso do P1MC ao permitir o acesso descentralizado a água de qualidade está registrado em um estudo realizado pela Embrapa a pedido do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). Os pesquisadores analisaram a situação de 3.517 famílias beneficiadas pelo programa em 100 municípios do semiárido nordestino e norte de Minas Gerais e Espírito Santo, em diferentes situações agroecológicas.

Os resultados do estudo constataram níveis elevados de aprovação do P1MC. Nada menos que 97% delas se declararam satisfeitas com as cisternas construídas ao lado das suas residências. Além disso, 70% afirmaram que passaram a dedicar maior tempo aos afazeres domésticos e outras atividades produtivas, por não precisarem mais se deslocar grandes distâncias a pé para buscar água para beber e usar na residência.

Outro aspecto do estudo que Luiza Brito considera relevante foi o percentual de famílias que consomem água proveniente das chuvas e armazenada em cisterna com níveis adequados de potabilidade: 56%. A perda da qualidade nas cisternas restantes foi conseqüência de fatores motivados por uma gestão inadequada da tecnologia no âmbito familiar, principalmente, o transporte e armazenamento de água oriundas de fontes como lagoas ou barreiros contaminados, explica.

China – O 70 Simpósio vai discutir ainda experiências que acontecem na China e na Tailândia. Um dos Diretores da Associação Brasileira de Captação e Manejo de Água de Chuva (ABCMAC), Johann Gnadlinger fará uma palestra sobre as “Lições de Projeto de Captação de Água de Chuva em larga escala na Tailândia para o semiárido brasileiro”. O pesquisador Zhu Qiang, do Research Institute for Water Conservancy, em Landzou, fará uma palestra sobre a “Evolução do projeto ‘121’: captação de água de chuva no Planalto de Loess de Gansu – China”. O trabalho apresentado pelo Dr. Zhu Qiang em 1999 foi o marco referencial dos programas P1MC e P1+2 no Brasil.

Luiza Brito esclarece que com base em experiências milenares do povo chinês, o governo do estado de Gansu e a sociedade científica desenvolveram um programa para abastecer as famílias, os animais e estimular a economia agrícola, além de melhorar o meio ambiente por meio do uso de água de chuva.

Neste programa, o governo chinês apoia cada família para que passe a dispor de “uma área de terra, duas cisternas e uma área de captação das chuvas”. Até o final de 2003, já haviam sido construídas 2,5 milhões de cisternas, 1,1 milhão de famílias conseguiram área de beber e uma área de 305 mil hectares foi beneficiada com plantio de culturas alimentares e com valor de mercado.

Este P1-2-1 inspirou no Brasil o Programa Uma Terra Duas Águas (P1+2). A pesquisadora da Embrapa afirma que é um projeto de convivência com o semiárido e que pretende assegurar à população rural das áreas secas do Nordeste o acesso à água tanto para o consumo das famílias e dos animais, quanto para a produção de alimentos.

Ao final do simpósio, os organizadores programaram uma excursão durante o dia 2 de outubro a uma experiência que se desenvolve na comunidade de Lagoa de Pedras, de Brejo de Madre de Deus-PE. Os participantes inscritos para a visita poderão conhecer técnicas como tanques de pedra, cisternas do P1MC e cisternas do P1+2.

O 70 Simpósio é organizado pela ABCMAC, Embrapa Semi-Árido, Associação Menonita de Assistência Social (AMAS), Instituto Regional da Pequena Agricultura Apropriada (IRPAA), Articulação Semiárido (ASA) e Universidade Federal da Pernambuco (UFPE).

Luiza Teixeira de Lima Brito, Marcelino Ribeiro e Gilberto Pires

Embrapa Semi-Árido

87 3862 1711 /

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