Agrocafé 2013 transformou Salvador em capital da cafeicultura por três dias

15.03.2013 | 20:59 (UTC -3)
Fonte: Assessoria de Imprensa

Durante três dias - de 11 a 13 de março - produtores, mercado e consumidores finais de café acompanharam atentos às discussões do 14° Simpósio Nacional do Agronegócio Café, o Agrocafé 2013. Um dos mais tradicionais encontros da cadeia produtiva cafeeira do Brasil, o evento reuniu mais de mil participantes na capital baiana. Nele se discutiu o contexto atual da commodity, que vive uma fase difícil, especialmente na Bahia. No estado, os preços baixos do café fino se associam cruelmente à seca histórica, comprometendo, sobretudo, os produtores familiares de regiões como a Chapada Diamantina. O Simpósio é uma realização da Associação de Produtores de Café da Bahia – Assocafé, Federação da Agricultura do Estado da Bahia – Faeb, e Centro do Comércio de Café da Bahia. Teve ainda como patrocinadores o Ministério da Agricultura, Sebrae, Secretaria da Agricultura do Estado da Bahia- Seagri, Banco do Nordeste, Bahia Gás, e Banco do Brasil. A décima quinta edição do Agrocafé já tem data para acontecer: de 17 a 19 de março de 2014.

O Agrocafé é o evento que tradicionalmente abre o calendário brasileiro da cafeicultura e atrai especialistas e personalidades do setor, representantes não apenas dos produtores, mas da indústria, comércio e exportação. Um deles é o diretor do departamento de café da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Luiz Suplicy Hafers. “Gostei muito do simpósio. Eventos como este são oportunidade para a gente entrar em contato com pessoas de regiões diversas, com visões e preocupações diferentes. Pude observar que há grande tensão com o curto prazo: preço, custo, resultado. Mas, saí muito animado, com as perspectivas e avanços para o café, principalmente apresentados pela Embrapa e IAC. Foi muito profícuo.”, afirmou Hafers.

O presidente da Assocafé, João Lopes Araújo, lembrou o apoio pessoal e decisivo do secretário da Agricultura da Bahia, Eduardo Salles, para a realização do evento. “Eduardo conhece como poucos a cafeicultura, não apenas a baiana, mas os seus aspectos globais. Veio dela e, assim como os cafeicultores, sofre com os problemas por que passa o setor, em especial, a seca que castiga a Bahia, e está representando um verdadeiro flagelo no interior do estado. Sabemos do seu empenho na busca por linhas de crédito emergenciais, como as já sinalizadas por ele, junto ao BNB”, disse.

O tema central do Agrocafé este ano foi saúde, como sugeriu o subtítulo ”Café. Um estímulo para a vida”. Para esclarecer sobre os benefícios da bebida para o coração e a promoção da longevidade, o Agrocafé trouxe para a capital baiana o diretor da Unidade Coronariana do Instituto do Coração – InCor, Luís Antônio Machado César, e a pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Adriana Farah, que fizeram parte do painel de abertura, coordenado pelo cardiologista baiano Maurício Nunes.

Resultados de estudos epidemiológicos importantes, desenvolvidos principalmente nos Estados Unidos, demonstrando a provável influência do café na diminuição do número de mortes por doença cardíaca e redução de risco de desenvolver diabetes nos grupos estudados, assim como a análise aprofundada dos componentes benéficos do café, para além da cafeína, chamaram a atenção dos participantes, apesar da familiaridade de todos eles com o grão. O painel foi um dos mais concorridos e participativos. “Uma prova de que ainda há muito a ser esclarecido sobre café e saúde”, disse o presidente da Assocafé, João Lopes Araújo.

O tema saúde concorreu de perto com a seca, um assunto que atinge diretamente pelo menos 300 dos participantes do evento, integrantes da cafeicultura familiar, que foram mobilizados para a capital. Quem falou sobre o impacto das mudanças climáticas no agronegócio mundial foi o pesquisador da Embrapa, ex-secretário de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente e membro do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudanças do Clima, Eduardo Assad. Ele apontou para uma provável redefinição da geografia da produção do café, com a migração da cultura para as áreas mais altas e menos quentes, assim como para as regiões onde se pode contar com a irrigação.

A seca e a elevação da temperatura são, segundo Assad, uma tragédia anunciada pela Embrapa há mais de 15 anos. “Estamos alertando as autoridades para o problema, e o café, neste contexto, é uma das culturas agrícolas mais vulneráveis”, afirmou. A Embrapa e outras instituições, como a Unicamp, estão trabalhando no desenvolvimento de variedades geneticamente adaptadas de café, tolerantes à seca e ao calor. E, de acordo com o pesquisador, a solução para o problema vem justamente do Nordeste. “No semi-árido, temos espécies nativas com alta tolerância à seca e elevadas temperaturas, que devem ser estudadas, pois suas características genéticas podem ser aproveitadas nas outras culturas. Desde 2007, a Embrapa Café vem desenvolvendo pesquisas buscando variedades de mais tolerantes à deficiência hídrica e também a altas temperaturas”, afirma o pesquisador.

Longe de ser uma unanimidade, o café conillon foi um dos principais tópicos da edição 2013 do Simpósio Nacional do Agronegócio Café- Agrocafé. Conhecido por ser pobre em gosto e em cheiro, mas, em contrapartida, ter como vantagem a aptidão para agregar densidade à bebida, o conillon passa longe da maioria dos blends de qualidade, mas tem ganhado cada vez mais participação nas misturas que se encontram nas prateleiras do Brasil. Isso se deve em parte à crise mundial, como um recurso da indústria para reduzir os custos de produção e segurar os preços. O café que se toma no mercado interno, dizem os especialistas, chega a conter até 70% de café conillon ou robusta.

“Isso é lamentável e sintomático de crise”, diz João Lopes Araújo, presidente da Assocafé. Segundo ele, o conillon, principal matéria-prima do café solúvel, tem a vantagem de ser uma porta de entrada para os cafés especiais. “Países culturalmente tomadores de chá, como o Japão e a Índia, hoje estão comprando muito o solúvel, e no futuro vão demandar um café de qualidade, voltando-se para o arábica. Por outro lado, no mercado interno, a dona de casa reclama que o café do supermercado não tem mais cheiro nem gosto. Corre-se o risco de a população brasileira substituir o café por outras bebidas. Além disso, se o conillon tem o dobro da cafeína do arábica, para satisfazer as necessidades diárias de quatro xícaras de arábica, o indivíduo precisará apenas de duas xícaras de conillon”, resume João Lopes Araújo.

O provador e juiz internacional de café, Silvio Leite, conhecido por sua expertise no preparo de blends de alta qualidade, dá um voto de confiança para o robusta. “Mesmo nos blends mais finos, coloco um pouco de conillon, para garantir uma certa cremosidade e densidade de espuma. Os italianos, com exceção da Illy Cafe, pedem sempre um pouco de robusta na mistura. Já os escandinavos não querem de jeito nenhum. Só aceitam o despolpado, lavado e de filtro”, exemplifica Leite. Como técnico, Silvio Leite diz que precisa atender a todos os gostos. “Os robustas de qualidade da Índia são vendidos tão ou mais caros que os melhores arábicas. Mas é fato que estamos bebendo muito robusta no Brasil”, pondera o provador.

O Brasil que produzia sete milhões de sacas de conillon há cerca de cinco anos, e hoje produz em entre 15 milhões de sacas, ainda não consegue suprir o mercado interno. Na Bahia, o conillon é produzido no Sul do estado, em um total de 1 milhão de sacas na safra passada. Ate 2020, serão necessários 25 milhões de sacas do café para atender o mercado mundial.

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