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As novas tecnologias de informação e a internet das coisas (IoT), caracterizada pela comunicação entre máquinas, têm grande potencial de melhorar os processos produtivos e trazem oportunidades, tanto sob o aspecto da pesquisa agropecuária como das aplicações no campo. Mas os desafios para o desenvolvimento e a implantação também são enormes, de acordo com especialistas que participaram do 11º Congresso Brasileiro de Agroinformática – SBIAgro 2017, cujo tema foi “Ciência de dados na era da agricultura digital”.
Tornar a agricultura cada vez mais digital é um objetivo que depende de diversos fatores que vão da criação de soluções, conectividade até a capacitação da mão de obra. As aplicações para a tomada mais assertiva de decisão pelo produtor rural envolvem coletas de milhares de dados por sensores e robôs ou máquinas automatizadas, alto processamento de informações e de imagens, e análises. O pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária Thiago Teixeira Santos explica que com a redução dos custos da microeletrônica e das telecomunicações uma série de alternativas de IoT se tornaram viáveis e deve surgir uma nova onda de desenvolvimento no agronegócio.
Há uma variedade enorme de soluções computacionais e mecanizadas, como aplicação de defensivos e irrigação de forma mais racional, plantio e colheita conforme condições meteorológicas locais, sem falar nos sistemas de gerenciamento das propriedades. Entretanto, interpretar essa quantidade imensa de dados para extrair informações relevantes e integrar tudo isso em soluções que garantam o aumento da qualidade da produção agrícola é um dos principais desafios para as instituições e profissionais que atuam no setor.
Pesquisas com comunicação a longa distância usando dispositivos móveis e a IoT oferecem muitas potencialidades para o agronegócio, com economia de recursos naturais e impacto no aumento da produtividade, conforme a professora do Instituto de Computação da Unicamp Juliana Borin. “A tecnologia é bastante intensiva no Brasil no agronegócio”, afirma Ricardo Inamasu, pesquisador da Embrapa Instrumentação. Ele conta que o setor é muito receptivo às inovações, pois incorporou a agricultura de precisão com facilidade, e que existe grande potencial para a informatização.
Apesar de reconhecer as oportunidades da quarta revolução baseada em IoT e big data, com uso de satélites, sensoriamento remoto e grandes bases de dados, Inamasu diz que ainda é preciso uma estratégia mais eficiente para coletar os dados no campo. Os drones estão vindo com muita força, mas é uma tecnologia que está amadurecendo, na visão do pesquisador. “Todas essas informações precisam estar integradas e aumentar a eficiência da produção”, defende.
Difusão da internet das coisas
Os aspectos tecnológicos, socioeconômicos e regulatórios que representam uma barreira à introdução da IoT na agricultura foram analisados por integrantes do consórcio responsável pelo Plano Nacional de Internet das Coisas, financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O pesquisador do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) Fabrício Lira Figueiredo afirma que a infraestrutura de conectividade é o maior entrave para a difusão da IoT na agropecuária.
“É um desafio não só para o Brasil, mas para o mundo todo essa questão de conexão no campo”, disse Figueiredo durante o SBIAgro 2017. “Uma vez vencida a barreira da conectividade, vem a questão da sustentabilidade, algo extremamente crítico porque precisamos alimentar nove bilhões de pessoas até 2020. É preciso conhecer os limites e crescer de forma responsável”, enfatizou. Ele ainda destacou o crescimento significativo nos últimos dois anos das agtechs, startups ligadas ao agronegócio, principalmente nas regiões de Campinas e Piracicaba, que têm buscado formas mais simples de coletar dados no campo e processá-los.
A consultora de software na ThoughtWorks Brasil Desiree Santos lembra que hoje o novo perfil dos produtores, mais abertos às mudanças tecnológicas, facilita a adoção das novidades. Para o pesquisador da Universidade de Porto Alípio Jorge, a inteligência artificial e o aprendizado de máquina – machine learning – já apresentam resultados impressionantes para resolver problemas enfrentados pelo agronegócio. Contudo, é importante avaliar os riscos relacionados à sustentabilidade do meio ambiente e os impactos da robotização no mercado de trabalho, pondera.
Futuro da agricultura
O futuro será cada vez mais intensivo em dados; por isso, é fundamental extrair conhecimento deles para ajudar a sociedade, de acordo com a professora Cláudia Bauzer Medeiros, do Instituto de Computação da Unicamp. Cláudia acredita que há muito potencial em pesquisa voltada à agricultura do ponto de vista social que ainda não é bem explorado. Também ressalta que o setor de saúde vem usando várias tecnologias digitais que podem ser adaptadas para o agrícola.
A agricultura já passou por diversas revoluções, mas o diferencial é que essa transformação digital é capaz de convergir várias áreas, como a instrumentação, ferramentas de edição genômica, técnicas de melhoramento genético e bioinformática, por exemplo. O pesquisador Édson Bolfe, da Secretaria de Inteligência e Macroestratégia da Embrapa, aponta que a Empresa está trabalhando com o conceito de alimento e não apenas do ponto de vista da comida. Todas as questões relacionadas ao clima, ao solo e à planta devem estar integradas para se superar os desafios de uma demanda crescente por alimentos sem expansão de terras e num contexto de restrição de recursos naturais.
Como inserir tudo isso no processo produtivo? Para a chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, Silvia Massruhá, é preciso refletir sobre essa questão e ajudar a encontrar caminhos para tornar a agricultura cada vez mais conectada, com a automação de processos e tecnologia de ponta no campo e em toda a cadeia produtiva, incluindo desde a fase de produção e o processamento até a logística de distribuição.
No SBIAgro 2017, Silvia explicou que a Embrapa Informática Agropecuária desenvolve uma série de pesquisas em bioinformática, mudanças climáticas, automação e interoperabilidade de dados. “A Embrapa tem um papel importante nesse contexto para fomentar essa agricultura digital. É preciso estabelecer parcerias, investir nas startups e pensar em novos modelos de negócios para fortalecer esse ecossistema de uma agricultura mais conectada e baseada em conhecimento digital”, pontua.
“O produtor precisa ver o valor real para adotar a tecnologia”, falou o diretor da Falker, Marcio Albuquerque, durante o congresso. Ele ponderou que a revolução digital ocorre de forma acelerada em vários setores, mas que a agricultura não segue a mesma velocidade. Apenas 15% da agricultura brasileira está adotando a agricultura de precisão, embora essa tecnologia esteja disponível há mais de uma década”, ponderou. Além de investir em capacitação, há questões econômicas intrínsecas à atividade agrícola que precisam ser consideradas, como a falta de competição entre os produtores, diferente do que ocorre em outros mercados, na opinião do diretor.
Mostrar para o produtor como essas ferramentas contribuem para a melhoria da gestão da propriedade é fundamental. Também é importante desenvolver tecnologia nacional para que o País seja competitivo, segundo Albuquerque. O analista de planejamento agrícola Adriano Lobato, da SLC Agrícola, um dos painelistas do SBIAgro, confirmou que a adoção de tecnologia no campo pela empresa sempre leva em conta qual é o valor agregado. Por isso, usam sistemas de gestão e estão implantando um modelo piloto para coleta de dados climáticos na propriedade, desenvolvido por uma consultoria em parceria com uma universidade, a partir da demanda de produtores locais.
Lobato reconhece que a informatização dos processos no campo é necessária, mas aponta que falta um sistema integrado. “São muitas máquinas, softwares, que não se conversam. Precisamos integrar tudo”, afirma. A integração passa pelo desenvolvimento de pesquisas e equipamentos, oferta de infraestrutura e até mudanças culturais.
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