Agro CFM indica o passo a passo na hora da compra de touros Nelore
A estação do frio já chegou, mas muitos municípios do Noroeste gaúcho ainda sofrem com os efeitos da seca, que chegou ao final da primavera passada, seguiu por todo o verão e se prolongou durante o outono. Os prejuízos foram muitos. Em contraponto, foram muitos os aprendizados construídos nesse período de dificuldades.
No município de Alegria, onde se acumula um déficit hídrico de aproximadamente 680 mm, além das perdas de 85% na produção de soja, 60% no cultivo de milho e 40% de queda na produção de leite, a água para consumo humano continua escassa. Há seis meses, um caminhão leva diariamente em torno de 15 mil litros de água para cinco localidades do interior do município, onde fontes e riachos secaram. Uma fonte, com vazão de aproximadamente 1 milhão de litros de água por dia, abastecia grande parte da cidade. Atualmente, são apenas 50 mil litros. Por esse motivo, foi preciso recorrer a poços artesianos.
A administração municipal reconhece que no município onde mais de 600 propriedades tem até 10 hectares, a diversificação da cultura é uma alternativa interessante. “Buscamos encontrar, juntamente com os órgãos e a comunidade, alternativas para que possamos mudar nossa matriz produtiva, alterando soja-milho-trigo para a produção de leite. Inclusive o município tem feito vários programas de incentivo a essa produção nas pequenas propriedades”, relata o prefeito de Alegria, Idalcir Luiz Santi.
Além das medidas emergenciais, os agricultores adotaram estratégias simples, que fizeram a diferença. Quem apostou na diversificação da cultura, sofreu menos com os efeitos da estiagem.
Na área de um hectare onde a família Löffler tinha um açude, não se vê mais água há alguns meses. Foram 800 mil litros que desapareceram em pouco tempo. A criação de peixes era uma das alternativas de autoconsumo e renda da família, que vive na propriedade de dez hectares. Neste ano, sem água, não foi possível criar alevinos.
Com a expressiva quebra na produção de soja e milho, a família apostou na diversificação da cultura. Feijão, cana-de-açúcar, amendoim e produção de leite foram algumas das alternativas. Mesmo com as dificuldades, o agricultor Ivo Löffler avalia que valeu a pena apostar em diferentes culturas.
Para amenizar os efeitos do longo período de déficit hídrico, o técnico em agropecuária da Emater/RS-Ascar em Alegria, Leonardo Rustik, orienta que são necessárias estratégias. “Simples, mas eficazes. O produtor deve estar preparado, adotar técnicas de proteção e melhoria de solo. Como estamos em um município de pequenas propriedades, onde uma das principais alternativas é a produção leiteira, é importante adotar técnicas de pastoreio rotativo na área, que irá aumentar a disponibilidade de pastagem dos animais. A produção leiteira na pequena propriedade é onde tem demonstrado melhores resultados. É ela, que depois de uma estiagem, se recupera melhor e em mais rápido tempo”, enfatiza Rustik.
No município de Alecrim, a água também é vista como um tesouro. A proteção de fontes foi uma das alternativas para assegurar água em tempos de seca e levar dignidade a famílias. Abrir a torneira e beber água, tomar banho no chuveiro e lavar a roupa na máquina podem parecer atitudes corriqueiras para muitos. Para a família Reckziegel, é a realização de um sonho, garantida com uma fonte protegida. Foram mais de três décadas de dificuldades para conseguir água até a descoberta das possibilidades oportunizadas pela vertente.
Dona Idalina Reckziegel, 60 anos, reconhece que a proteção da fonte e a possibilidade de ter água encanada facilitou a vida, especialmente nesse período de inverno. “Agora se pode fazer mais pastagem para as vacas, trabalhar mais e até sair mais. Era uma judiaria ter que puxar água”, conta. Três vezes ao dia, o filho de Dona Idalina caminhava 200 metros até chegar à vertente para buscar água. Hoje, Aloísio, 39 anos, comemora a proteção da fonte, que garante a dignidade e a sobrevivência da família.
O trabalho de proteção auxilia na melhoria da qualidade da água e na vitalidade das fontes. “A proteção de fonte consiste na limpeza do local da vertente, após isso é construída uma pequena barragem de tijolos. Depois, colocam-se os canos, as pedras, em seguida uma lona, e, por último, coloca-se uma camada de terra”, explica o extensionista da Emater/RS-Ascar de Alecrim Eliseu Paulo Baumgartner. “A família mora há mais de 30 anos neste local e sempre teve problemas com a água. Além disso, era um trabalho penoso de, muitas vezes, encher o balde de água com um copo. Agora, a água foi canalizada e levada até a caixa”, completa.
Em tempos de seca, a abundância de água potável, e, ainda, tê-la encanada é motivo para comemorar. E também incentivo para permanecer no campo. “Com água desse jeito, as coisas vão melhorar. Acho que vou ficar para sempre aqui na roça”, afirma Aloísio.
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