Fecotrigo impede uso de cultivares sem autorização
Em 2008, a produção de açúcar da região Centro-Sul foi 1,83% maior que à anterior, segundo dados da União da Agroindústria Canavieira (Única) referentes até o encerramento de dezembro. Mesmo com esse aumento da produção, a expectativa de menor oferta por parte de outros produtores e ainda a demanda, aquecida principalmente no primeiro semestre, resultaram em preços relativamente firmes no correr de toda a safra 2008/09 da região Centro-Sul. Nem mesmo a forte volatilidade do mercado internacional da commodity no segundo semestre reduziu os preços internos, informa o Cepea/Esalq.
Algumas usinas anteciparam o início da colheita da safra 2008/09 para o final de março e a maioria iniciou as atividades no início de abril, visando o corte da cana restante da temporada anterior, cujo volume foi estimado em torno de 8 milhões de toneladas ou o dobro do que sobrou da safra anterior.
Em levantamento sobre a safra 2008/09 até 31 de dezembro, Unica aponta que foram moídas 496,7 milhões de toneladas na região Centro-Sul, aumento de 15,5% sobre o mesmo período da safra 2007/08. O Açúcar Total Recuperável (ATR) foi 2,4% abaixo do obtido no ano passado, em cerca de 141,27 kg/t. A produção de açúcar chegou a 26,59 milhões de toneladas de abril até o final de dezembro, 1,83% superior à de igual período de 2007 (26,12 milhões).
Também de acordo com dados da Unica, o mix de produção foi, por toda safra, mais alcooleiro, com 60,22% da cana destinada à produção do combustível, contra 39,78% ao açúcar. Até o início de janeiro, ainda havia 40 usinas em atividade, o que pode elevar a produção para 500 milhões de toneladas de cana. O estado de São Paulo moeu 341,8 milhões de toneladas, 69% do volume da região Centro-Sul.
Com muitas usinas focadas na produção de álcool e de açúcar VHP (exportação) em grande parte da safra, os preços internos do cristal seguiram firmes mesmo em pleno pico de colheita (de junho a agosto). Além da oferta doméstica relativamente baixa de açúcar branco, as altas internacionais e a valorização das commodities relacionadas ao mercado de energia, como o milho e a soja, também contribuíram para sustentar os valores no primeiro semestre. Pesaram ainda os aumentos nos preços internos do álcool, decorrentes das demandas interna e externa aquecidas.
No segundo semestre, apesar da crise financeira que reduziu preços de muitas commodities, o açúcar conseguiu mesmo se elevar. O principal fundamento eram as estimativas de déficit de 3,6 milhões de toneladas para a próxima temporada. De acordo com a Organização Internacional Açúcar (OIA), a produção mundial da commodity para a safra 2008/09 (entre outubro 2008 a setembro 2009) pode ser de 162,3 milhões de toneladas, queda de 3,8% sobre a anterior, com o consumo em 165,9 milhões, aumento de 2,4%. As principais reduções ocorreriam na Índia e União Européia, com o açúcar brasileiro podendo suprir essa deficiência, dependendo dos investimentos para ampliação do setor. O Ministério da Agricultura da Índia, por exemplo, estimou a produção em 22 milhões de toneladas na safra 2008/09, 16,3% inferior à da temporada 2007/08.
Em meio às turbulências especialmente do último trimestre, as negociações no mercado paulista estiveram lentas. Diante da necessidade de caixa para compensar a falta de crédito no mercado mundial, usinas optaram por aumentar as vendas de álcool, que apresentavam maior liquidez. Com isso, foram amenizadas eventuais pressões de venda do açúcar, o que, somado à perspectiva de déficit mundial, proporcionaram que os preços alcançassem no segundo semestre patamar superior ao do primeiro. Em dezembro, o Indicador CEPEA/ESALQ do açúcar cristal (estado de São Paulo) teve média de R$ 31,73/saca de 50 kg, alta de 3,2% em relação à do mês anterior.
As vendas de açúcar no mercado externo remuneraram cerca de 8% mais que as internas em dezembro (considerando-se: o valor médio do Indicador CEPEA/ESALQ, o vencimento Março/09 na Bolsa de Londres (Liffe), um desconto de qualidade estimado em US$ 15,8/t, e custos com elevação e frete de US$ 60,00/t).
Segundo dados da Secex, as exportações de açúcar bruto (VHP) totalizaram 13,64 milhões de toneladas de abril a dezembro de 2008, 9,6% a mais do que foi exportado neste mesmo período em 2007 (12,44 milhões de toneladas). Do açúcar branco, foram embarcadas 5,85 milhões de toneladas, diminuição de 15,4% sobre o mesmo período de 2007 (6,92 milhões de toneladas).
ETANOL
Em 2008, a produção de etanol espelhou a euforia dos anos anteriores sobre o eldorado sucroalcooleiro. Foram produzidos 4,33 bilhões de litros de álcool a mais que na safra passada – considerados dados da Unica referentes ao encerramento de 2008. O consumidor também fez sua parte, elevando o consumo em 3,6 bilhões de litros (jan-nov/08 comparado a jan-nov/07), segundo dados da ANP, prestigiando o álcool como nunca. No acumulado de janeiro a novembro de 2008, foram consumidos 17,477 bilhões de litros de etanol (hidratado e anidro). As exportações também cresceram, mas ainda assim, neste período, a oferta fez com que os preços se mantivessem abaixo da média da safra anterior.
Quanto à produção de etanol da região Centro-Sul, a Unica informou que, até final de dezembro, foram produzidos 24,61 bilhões de litros, aumento de 21,37% sobre os 20,28 bilhões de litros da safra passada, sendo 16,09 bilhões de hidratado (alta de 24,58%) e 8,53 bilhões de litros de anidro (alta de 15,76%).
Nesta safra, houve pressão de oferta em momentos pontuais em que usinas precisavam de recursos para determinadas despesas e, do outro lado, pressão de demanda com proximidade de alguns feriados. No segundo semestre, com a crise de crédito internacional, muitas usinas optaram pela venda do combustível para prover caixa, causando baixas dos preços. Quanto à forma de negociação, por mais um ano, constatou-se aumento dos contratos no mercado doméstico.
No início desta safra, em especial, usinas aumentaram a oferta de etanol com vistas a baixar seus estoques de passagem e garantir preços mais altos enquanto não entrava o etanol da nova safra. Mesmo assim, no final de março (último mês da entressafra), as cotações do produto foram pressionadas.
Já no correr da safra, especialmente em setembro, o preço do álcool hidratado no mercado paulista voltou a subir impulsionado pelo interesse de importadores, sobretudo norte-americanas, pelo combustível brasileiro.
Ainda assim, no correr de todo o ano, o consumidor paulista, pelo menos, encontrou vantagem em abastecer veículos bicombustíveis com álcool, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). No estado de SP, por exemplo, o preço do álcool hidratado nos postos equivaleu de 52,5% a 54,7% do preço da gasolina C.
Em relação às exportações, foram embarcados 4,261 bilhões de litros de abril a dezembro, volume 54% superior ao do mesmo período de 2007 – Secex. Quanto à receita gerada, houve aumento ainda maior, de 80%. O destaque continuaram sendo as vendas para os Estados Unidos, que absorveram 33,1% do total exportado pelo Brasil.
No mercado paulista de álcool, em dez/08, o Indicador CEPEA/ESALQ do anidro teve queda de 1,84% frente ao mês anterior, com média de R$ 0,8806/litro (sem impostos). Já o hidratado subiu 1,55% no período, para R$ 0,7377/litro.
As relações entre os preços dos álcoois e do açúcar mostraram que, em dezembro, o açúcar remunerou 8% mais que o etanol anidro e 23% mais que o etanol hidratado, em média. Considerando os dois tipos de álcool, o anidro remunerou, em média, cerca de 13% mais que o hidratado.
O preço do álcool anidro combustível recebido pelo produtor (usina) representou 9,69% do preço da gasolina C vendida ao varejo em dezembro, no estado de São Paulo.
Nos estados do Nordeste, em dezembro, o Indicador mensal do açúcar cristal CEPEA/ESALQ para Alagoas foi de R$ 30,22/sc de 50 kg, queda de 0,24% sobre novembro. Em Pernambuco, o Indicador mensal foi de R$ 30,44/sc, alta de 4,66%. Quanto aos preços dos álcoois em Alagoas, os Indicadores foram de R$ 0,9930/litro (com impostos) para o anidro e de R$ 0,8071/litro (com impostos, exceto ICMS) para o hidratado, com variações de –0,23% e de +1,37%, respectivamente, sobre o mês anterior. Em Pernambuco, o Indicador CEPEA/ESALQ foi de R$ 0,9599/litro (com impostos) para o anidro e de R$ 0,7509/litro (com impostos, exceto ICMS) para o hidratado, quedas de 3,77% e 5,93%, nesta ordem.
Na Bolsa de Mercadoria e Futuros do Estado de São Paulo (BM&F), no último dia de pregão (30/12/08), o contrato Fevereiro/09 para o açúcar (código ISU) teve queda de 6,45% em relação a 28/11/08. Para o álcool (Etanol – código ETN), o vencimento Fevereiro/09 teve recuo de 4,04% sobre o final do mês anterior.
Análise sobre o setor sucroalcooleiro elaborada pelo Cepea. A análise completa está disponível em
Equipe: Profa. Heloisa Lee Burnquist, Profa. Mirian R. Piedade Bacchi, Profa. Marta Cristina Marjotta-Maistro, Ivelise Rasera Bragato, Mariana Pessini e Andressa Cristina Galdi.
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