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O ácaro vermelho das palmeiras (Raoiella indica) foi detectado pela primeira vez no Brasil na cidade de Boa Vista, em Roraima, em uma coleta realizada por pesquisadores da Embrapa, Universidade Federal Rural de Pernambuco e Universidade de São Paulo, em 16 de julho último, em folhas de coqueiro.
A introdução e dispersão dessa praga no país representam uma ameaça para as culturas de coco, banana e outras palmeiras cultivadas, principalmente nas regiões norte e nordeste, além de ornamentais tropicais, como as helicônias e musáceas, entre outras. Segundo estimativas feitas em Trinidad e Tobago, país caribenho situado ao largo da costa da Venezuela, o ácaro pode causar reduções de até 70% nas culturas de coco. Quanto à banana, sabe-se que os danos são severos, mas ainda não foram quantificados.
A coleta foi feita no dia 16 de julho, mas a confirmação de que realmente se tratava do ácaro vermelho das palmeiras só veio na semana passada, depois da identificação realizada no Laboratório de Quarentena Vegetal da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, uma das 42 unidades da Embrapa localizada em Brasília, DF, que é o órgão oficialmente designado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA para realizar a quarentena de todas as espécies vegetais que entram no Brasil para fins de pesquisa. O objetivo das análises quarentenárias é evitar a entrada de pragas no país que possam contaminar a agricultura e prejudicar a economia brasileira.
Segundo a acarologista e pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Denise Návia, os ácaros coletados em coqueiros em Boa Vista foram identificados em microscópios apropriados, utilizando inclusive comparações com exemplares da espécie que fazem parte da coleção de referência da Unidade, que hoje conta com mais de 150 espécies de ácaros que infestam plantas cultivadas.
Depois da confirmação de que se tratava do ácaro vermelho das palmeiras, os pesquisadores comunicaram imediatamente ao Ministério da Agricultura, que adotou a partir do dia 1º de agosto, algumas medidas emergenciais, como a interrupção do comércio de banana e coco de Roraima para Manaus.
A iniciativa causou indignação nos produtores de Roraima e, como o foco foi detectado apenas no município de Boa Vista, o MAPA enviou uma comissão ao estado para mapear a ocorrência e a possível dispersão do ácaro para outros municípios.
Pesquisadores da Embrapa continuam dando suporte técnico às ações emergenciais do MAPA, acompanhando levantamentos oficiais e auxiliando na confirmação da identificação da praga. As amostras de ácaros com suspeita de tratarem-se do ácaro vermelho das palmeiras serão enviadas e identificadas no Laboratório de Quarentena Vegetal da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília. Até o momento, o ácaro foi encontrado em diversas palmeiras e em bananeira, e o foco se restringe a áreas urbanas no município de Boa Vista.
Por apresentar o status de Praga Quarentenária Ausente pelo Ministério da Agricultura, estar se disseminando rapidamente no Caribe, ter chegado à Venezuela, e estar causando danos significativos, o ácaro vermelho das palmeiras já estava na mira dos pesquisadores da Embrapa, da Universidade Federal Rural de Pernambuco e da Universidade de São Paulo.
Em 2007, sob coordenação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e com a colaboração da Embrapa Roraima, deu-se início ao desenvolvimento de um projeto que tinha como objetivo dar suporte à segurança biológica de culturas envolvidas na agroenergia, incluindo a realização de levantamentos de ácaros fitófagos associados a palmeiras na região norte do país, visando a detecção precoce do ácaro vermelho das palmeiras. Em 2008, pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco, três unidades de pesquisa da Embrapa - Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF); Roraima (Boa Vista, RR); e Amapá (Macapá, AP), além da ESALQ/USP - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" se uniram para a elaboração de um projeto que tem o objetivo de buscar e avaliar inimigos naturais que sejam eficientes para o controle do ácaro vermelho das palmeiras, no caso de sua introdução. O projeto tem como objetivo também determinar o potencial de distribuição geográfica do ácaro vermelho das palmeiras no país, apontando as áreas que podem ser mais seriamente afetadas.
Isso significa que medidas já estavam sendo tomadas para a possível entrada do ácaro vermelho no país. "O que não soluciona o problema, mas de certa forma, pode tranqüilizar a população, já que estamos nos preparando e unindo todos os esforços possíveis para minimizar os impactos da entrada dessa praga na agricultura brasileira", afirma Navia.
Na verdade, o alerta de que essa praga poderia entrar no Brasil foi feito pela pesquisadora em 2006, através de um folder de divulgação e de um comunicado técnico emitido pela Embrapa. Naquele ano, o ácaro já estava no Caribe e em apenas um ano se dispersou para a Venezuela e Flórida.
A entrada do ácaro vermelho das palmeiras no Brasil é um fator preocupante, especialmente para a cultura de coco, que tem um papel estratégico na economia brasileira, principalmente na região nordeste, na qual gera emprego, alimentação e renda para a população. Em 2001, a produção de coco no Brasil foi de aproximadamente 1, 5 bilhão de frutos e a cocoicultura está se expandindo também para a região sudeste, que hoje já responde com 14% da produção nacional. Outra cultura que pode ser afetada é a da banana, de extrema importância, inclusive nos estados da região norte onde a praga já está presente.
Se por um lado a situação é de alerta e preocupação, por outro é importante frisar que as instituições brasileiras já estavam se preparando para enfrentar a entrada dessa praga no Brasil. "O Ministério da Agricultura está mobilizado e unindo todos os esforços possíveis para conter a disseminação da praga e minimizar os seus possíveis danos às culturas agrícolas brasileiras", finaliza a pesquisadora da Embrapa.
Fernanda Diniz
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
(61) 3448-4769 /
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