O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por intermédio da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) inauguraram uma Unidade Mista de Pesquisa e Inovação (UMIPI) do Cacau em Ilhéus, na Bahia. Para fortalecer a cadeia produtiva do cacau, serão investidos R$ 4,7 milhões em quatro linhas de pesquisa, além de transferência de tecnologia entre as instituições. O anúncio foi realizado, nesta quarta-feira (05/05), pela ministra Tereza Cristina em cerimônia virtual, em Brasília.
A parceria para a UMIPI alia o conhecimento da Ceplac - responsável por um dos maiores bancos de germoplasma de cacau do mundo - e a infraestrutura da Embrapa com seus laboratórios de pesquisa genética e tecnologia.
Depois de enfrentar pragas, quedas de preço, fechamento de roças e desemprego, a cacauicultura no Brasil vive uma fase de recuperação e perspectiva de aumentar a produção em 60 mil toneladas nos próximos quatro anos. O Brasil já foi o 2º maior produtor mundial de cacau, e, atualmente, ocupa a 7ª posição, atrás de Costa do Marfim, Gana, Equador, Camarões, Nigéria e Indonésia.
A produção anual, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é estimada em 250 mil toneladas, sendo que o Pará figura como maior estado produtor com aproximadamente 129 mil toneladas por ano. A Bahia aparece na sequência, com 113 mil toneladas. Além de produtor de cacau, o Brasil é o 5º maior produtor de chocolate do mundo. O ranking é o mesmo quando se fala em consumo da iguaria, que faz parte do dia a dia do brasileiro. Toda essa indústria é responsável por 300 mil empregos diretos.
A ministra Tereza Cristina destacou que a UMIPI é a base para revitalização da cacauicultura e o alcance da meta de autossuficiência na produção de cacau até 2025. Para cumprir a meta, segundo a ministra, é necessária a união da cadeia produtiva e uso intensivo de tecnologia. "Em busca da meta de autossuficiência, esperamos conseguir destinar, ao longo dos próximos dois anos, cerca de R$ 15 milhões ao setor. Promoveremos a expansão da área plantada, a ampliação da produtividade e a melhoria do produto".
Tereza Cristina ressaltou que a cultura "oferece múltiplos benefícios, desde a geração de emprego e renda à preservação da floresta e à fixação de carbono. Com predominância na agricultura familiar, depende fortemente de apoio. Com a UMIPI Cacau, será possível alcançar todos os mais de 70 mil produtores, recuperando a autossuficiência brasileira".
O presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, disse que a nova unidade de pesquisa é um "marco histórico" para a recuperação da produção cacaueira, trazendo "uma nova carga de energia para o produtor de cacau".
Linhas de pesquisa
Uma das linhas de pesquisa da UMIPI será voltada para caracterização, avaliação e conservação de recursos genéticos do cacau com eficiência e economicidade. A Ceplac reúne mais de 4.549 acessos a germoplasma, distribuídos em quatro coleções. O diretor da Ceplac, Waldeck Pinto, explica que apesar de ocupar posição de destaque, estudos apontam que essas coleções conservam apenas 20% da variabilidade existente na região amazônica brasileira.
Outro tema a ser pesquisado é em relação ao melhoramento genético da espécie a partir de clones de cacaueiros com resistência a pragas como a monilíase e a vassoura de bruxa. O fungo Moniliophthora perniciosa (conhecido como vassoura de bruxa), uma das mais sérias doenças do cacaueiro nas Américas, dizimou produções inteiras no final da década de 1980 no Brasil.
Por muito tempo restrito à região amazônica, na qual sempre deixou rastro de grandes perdas na produção cacaueira, o fungo chegou à Bahia, em 1989, a principal região produtora do país à época. Com a dispersão da doença, o Brasil perdeu 75% da produção de cacau (de 400 mil toneladas para 100 mil toneladas por ano).
A atuação da UMIPI perpassa também na busca por soluções tecnológicas para o controle dessas pragas, segundo Waldeck Pinto. “Com a chegada da vassoura de bruxa na Bahia, a cacauicultura tornou-se dependente de tecnologias para o seu controle, impulsionando as pesquisas fitopatológicas e as interações desta com as diversas áreas visando os controles cultural, químico, biológico e genético”.
Após a devastação pela praga, o país passou a importar cacau para abastecer a indústria moageira e de chocolate nacional. Com a perda da produção, parcela da cadeia ficou ociosa e foi preciso comprar cacau da África para processamento no Brasil, agregando valor, para posterior exportação como produto derivado ou chocolate. “Enquanto em produção de cacau o Brasil é deficitário, na exportação de produtos com alto valor agregado, somos superavitários”, destaca o diretor da Ceplac.
Para o presidente da Embrapa, Celso Moretti, a aliança entre as instituições e as linhas de pesquisa permitirão avanço consistente da cultura do cacau no país. "A forma de Unidade Mista de Inovação e Pesquisa é inovadora, criativa e moderna para avançarmos em temas caros à pesquisa, ao desenvolvimento e à inovação da agricultura brasileira”.
O secretário de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Mapa, Fernando Camargo, ressalta que o Brasil tem uma característica única no mundo em relação ao cacau. O país é representativo de atividades em toda a cadeia cacaueira: produz a semente, processa o cacau, fabrica chocolate, exporta cacau e chocolate, além de ter o público consumidor interno.
Outro diferencial da produção brasileira é o manejo em sistemas agroflorestais integrados, o que também será tema de pesquisa pela UMIPI de forma a aumentar a produtividade e a qualidade do cacau. Na Bahia, por exemplo, se destaca a produção do cacau em sistema Cabruca, no qual o fruto é cultivado sob a sombra das árvores da Mata Atlântica. O sistema permite uma produção sustentável de forma com que o crescimento do cacaueiro não implique em desmatamento, o que contribui para baixa emissão de gases de efeito estufa.
A qualidade do cacau brasileiro, especialmente o produzido no sul da Bahia, é fundamental para a fabricação do chocolate fino, que contém 70% de cacau. O produto é, cada vez mais, demandado por um mercado de nicho de alto valor agregado tanto no Brasil quanto no exterior. “Se a amêndoa não for de excelente qualidade, o gosto do chocolate fica insuportável por seu amargor. As variedades vegetais da região produzem uma amêndoa mais fácil de ser processada”, disse o secretário Camargo.
“O cacau é uma cultura muito cara ao país e acreditamos no resgate desta cultivar, de forma com que o Brasil possa figurar novamente entre os maiores produtores mundiais, já que o produto brasileiro apresenta diferenciais como ser oriundo da região amazônica e produzido em sistema com baixa emissão de carbono”, afirmou.