Syngenta enfrenta desconfiança norte-americana sobre a China

Matéria publicada pelo Wall Street Journal aponta problemas na relação da empresa que pertence à ChemChina, estatal chinesa, desde 2017, com alguns norte-americanos

02.06.2024 | 17:38 (UTC -3)
Schubert Peter

A Syngenta enfrenta desafio no Estados Unidos: afastar a percepção de que ameaça a segurança nacional. Matéria publicada pelo Wall Street Journal, hoje, aponta problemas na relação da empresa que pertence à ChemChina, estatal chinesa, desde 2017, com alguns norte-americanos.

Jeff Rowe (na foto), diretor executivo da empresa desde janeiro, precisa lidar com o problema. Um dos receios é a propriedade de terras pela Syngenta para pesquisa e desenvolvimento. A empresa possui cerca de 600 hectares de terras agrícolas americanas, e vários estados estão reforçando restrições à propriedade estrangeira de terras. Parlamentares temem que a China possa usar essas terras para espionagem ou influenciar o suprimento de alimentos em caso de conflito, conforme apontou o Wall Street Journal.

A propriedade de terras por países estrangeiros, diretamente ou através de terceiros, consiste em tema de grande complexidade internacional ao longo dos anos. Embora, juridicamente, não exista soberania de um país sobre o território de outro (a “soberania" das embaixadas é um dos mitos da cultura popular brasileira…).

Em meio a isso, Rowe tenta tranquilizar os políticos, destacando o impacto positivo da Syngenta na economia agrícola, o número de empregos gerados e os produtos lançados para os agricultores.

“Se alguém me vê na rua em Princeton, minha cidade natal, pensa ‘esse é Jeff Rowe. Eu sei quem é ele - não é um espião chinês’”, disse Rowe ao Journal.

Além das questões geopolíticas, a Syngenta enfrenta a retração nos gastos dos agricultores, devido à queda dos preços dos grãos e dos produtos químicos. Para dar ideia da dimensão desses desafios, nos balanços relativos ao primeiro trimestre de 2024, a empresa chinesa reportou vendas de US$ 3,2 bilhões (US$ 7,4 bilhões do Syngenta Group). A alemã Bayer apresentou número de US$ 8,6 bilhões (€ 7,9 bilhões). Obviamente esse resultado é mera referência, com significado limitado por diversos fatores. Mas, apenas para comparar, no exercício completo de 2023, o Syngenta Group faturou US$ 32,2 bilhões contra US$ 25,16 (€ 23,2 bilhões) da Bayer Crop Science (não considera as vendas da divisão de saúde humana).

Para lidar com a situação, informa o Journal, a Syngenta busca cortar custos em operações de escritório e na cadeia de fornecimento. Planos de abertura de capital na China ou na Europa estão suspensos, e tensões políticas tornam um IPO em Nova York improvável.

As tensões entre EUA e China vêm aumentando desde a compra da Syngenta. Preocupações similares levaram Grand Forks, Dakota do Norte, a barrar a construção de uma fábrica de milho chinesa de US$ 700 milhões.

Cerca de 24 estados aprovaram leis restringindo a propriedade estrangeira de terras agrícolas, algumas especificamente voltadas para a China. Conforme o Wall Street Journal, entidades chinesas detêm cerca de 1% das terras agrícolas dos EUA, aproximadamente 142 mil hectares.

Rowe afirma que seu papel como CEO exige uma compreensão dos EUA e da China, e capacidade de construir pontes entre os dois países.

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