Sistemas agropecuários sustentáveis tem potencial para reduzir as emissões de gases do efeito estufa no Brasil

Pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura e da Esalq-USP desenvolveram recentemente um estudo voltado para a temática

07.06.2024 | 15:47 (UTC -3)
Caio Albuquerque

A agricultura brasileira está continuamente avançando em direção a uma produção mais sustentável. Desde o surgimento do sistema plantio direto, há mais de 50 anos, até sua evolução em sistemas integrados de produção agropecuária, como a integração lavoura-pecuária (ILP) e lavoura-pecuária-floresta (ILPF), o país tem utilizado soluções baseadas na natureza para aumentar a produtividade das culturas e mitigar os impactos ambientais. 

Atualmente, o Brasil é referência mundial no uso de práticas de manejo sustentáveis na agropecuária, com mais de 35 milhões de hectares sendo cultivados sob sistema plantio direto e a mais de 17 milhões de hectares em sistemas integrados de produção agropecuária, como a integração lavoura-pecuária (ILP) e lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Por outro lado, estima-se que ainda existem aproximadamente 110 milhões de hectares de pastagens pouco produtivas e em algum estágio de degradação.

Sistemas como SPD, SIPAs e pastagens recuperadas no Brasil estão incluídos em projetos de agricultura de baixo carbono (ABC+) e, internacionalmente, são considerados práticas de Climate-Smart Agriculture (CSA). A CSA visa transformar e reorientar a agricultura para alcançar maior sustentabilidade e resiliência econômica, social e ambiental, garantindo a segurança alimentar e mitigando as emissões de gases de efeito estufa. Nas próximas décadas, a agropecuária brasileira enfrenta o desafio de aumentar simultaneamente a produção de alimentos, fibras e energia, enquanto reduz as emissões desses gases, que atualmente correspondem a cerca de 25% das emissões nacionais, com o metano (CH4) entérico da atividade pecuária sendo a principal fonte.

Este foi o contexto que levou pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo a desenvolver um estudo, publicado na renomada revista Journal of Cleaner Production. De acordo com o Prof. Maurício Roberto Cherubin, professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq e vice diretor do Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCarbon), “neste trabalho buscamos responder a seguinte pergunta: Qual é o potencial de mitigação das emissões dos gases de efeito estufa (CO2, CH4 e N2O) com a adoção de práticas de CSA no Brasil?” Para tanto, os autores desenvolveram um estudo sistemático da literatura científica sobre as medições desses gases no campo, já revisadas por pares e publicadas.

De acordo com Wanderlei Bieluczyk, pós-doutorando no Cena/USP, e primeiro autor do artigo, “converter áreas de pastagens degradadas e agricultura convencional para práticas de CSA, especialmente para sistemas integrados de produção, tem elevado potencial para mitigar a emissão de gases. Isso inclui a redução das emissões de CH4 entérico por produto (como por quilograma de carne produzido) e o funcionamento do solo como um dreno de CH4”.

Bieluczyk destaca ainda que “a quantidade de dados de emissões de gases do efeito estufa medidas a campo ainda é baixa no Brasil, dificultando extrapolações (com baixa incerteza) para todos os biomas brasileiros”. O estudo revelou que há poucos pesquisadores e instituições atuando nessa área em importantes regiões do país, como norte e nordeste, evidenciando a necessidade de apoio à infraestrutura e recursos para aumentar o número de estudos em regiões de baixa representatividade espacial.

O artigo também enfatizou a busca por aprimoramentos metodológicos e oportunidades de pesquisa, incluindo a urgência de priorizar medições frequentes de CO2, CH4 e N2O em múltiplos sistemas de CSA ao longo de vários anos. Segundo o prof. Cherubin, “isso permitirá cálculos confiáveis de balanço de carbono e removerá barreiras decorrentes da falta de resultados abrangentes para implementar programas de certificação, e incluir sistemas de CSA no mercado de carbono e em outros mecanismos de finanças verdes”.

Os autores finalizam reforçando que os resultados deste estudo são importantes para refinar o inventário nacional de gases do efeito estufa, bem como servem de evidência científica sobre o potencial de soluções baseadas na natureza e assim, para apoiar novas políticas, projetos e investimentos no Brasil.

O estudo está vinculado às atividades de dois Centros de Estudos da USP, o Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCarbon) (Fapesp # 2021/10573-4) e Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) (Fapesp/Shell # 2020/15230-5). 

Acesse o artigo completo no link: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0959652624022303

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