Seminário vai mostrar oportunidades para o uso do inverno na integração lavoura-pecuária

Evento faz parte do projeto Duas Safras que visa ampliar o uso do inverno no Rio Grande do Sul

05.10.2021 | 20:59 (UTC -3)
Embrapa

O melhor aproveitamento das terras no inverno pode favorecer a produção agropecuária na Região Sul, com oferta de alimento tanto para forrageamento de bovinos, quanto na colheita de grãos para abastecer a indústria de suínos e aves, com impactos relevantes em diferentes setores da economia gaúcha. O potencial de uso de cereais de inverno no Rio Grande do Sul será a base das discussões no Seminário Técnico Integração Lavoura-pecuária, nos dias 6 e 7 de outubro, com transmissão no Youtube. A realização é da Embrapa e do Senar-RS, com o apoio da Fecoagro-RS, ABPA e Farsul.

Na safra 2021, o crescimento na área com culturas de inverno no Rio Grande do Sul foi acima de 10% nos principais cultivos de grãos, como trigo, aveia, triticale, cevada, centeio e canola. Ainda assim, foram contabilizados cerca de 1,5 milhão de hectares, o que representa menos de 20% da área utilizada para cultivo de verão no Estado.

De acordo com o presidente do Fundesa-RS (Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal do Rio Grande do Sul), Rogério Kerber, o rebanho bovino está reduzindo no Estado para ceder mais espaço ao monocultivo da soja. Em 2016, o RS contabilizou 14 milhões de cabeças bovinas; em 2021 o número caiu para 10 milhões de cabeças. Na produção de suínos e aves, o gargalo está nos custos de produção: em 2020 o RS desembolsou R$ 3,3 bilhões para comprar milho de fora do Estado. “Temos expertise, mas precisamos ganhar competitividade”, avalia Kerber.

Na projeção de cenários para o projeto Duas Safras, o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, avalia que o crescimento integrado da agricultura e da pecuária pode aumentar o faturamento do PIB gaúcho em R$ 12 bilhões/ano. O crescimento da agropecuária, com melhor uso da área no inverno, poderia resultar, ainda, na abertura de 24 mil novos postos de trabalho no setor.

É neste contexto que foi organizado o Seminário Técnico Integração Lavoura-Pecuária. “O seminário tem como objetivo apresentar o potencial, as oportunidades e a rentabilidade do uso de cereais de inverno, assim como discutir as oportunidades e entraves para a utilização de cereais e forrageiras para bovinos de corte e de leite, suínos e aves. Desta forma, proporcionamos a capacitação de instrutores do Senar-RS para que possam transmitir aos produtores rurais conteúdos atualizados e tornar nossa agricultura cada vez mais forte”, diz o coordenador de formação profissional rural da Divisão Técnica do Senar, Umberto Pizzolotto de Moraes.

Cereais de inverno na alimentação animal

Os cereais de inverno podem ser utilizados na alimentação animal através de forragem (pasto, silagem, pré-secado) ou grãos na composição de ração. “Não falamos mais em duplo propósito em cereais de inverno, o tradicional pasto e grãos, mas em múltiplos propósitos em uma interação da lavoura com diferentes criações de animais”, avalia o pesquisador da Embrapa Trigo, Renato Fontaneli.

A escassez de milho para a indústria de proteína animal também fez aumentar o interesse pelos cereais de inverno, que podem reduzir custos na formulação da ração, especialmente relacionados à logística e maior oferta de grãos no mercado regional. “Os cereais de inverno podem compor até 35% da ração em substituição ao milho, basta fazer os ajustes para cada espécie, suínos ou aves, conforme cada categoria ou fase de desenvolvimento”, explica a pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, Terezinha Marisa Bertol.

O ex-ministro da Agricultura, Francisco Turra, presidente do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), lembrou que a escassez e o consequente aumento dos custos de produção motivaram a busca por alternativas para o atendimento de demandas irreversíveis do mercado. “A alta histórica dos custos de produção se soma aos custos de manter o abastecimento em meio à pandemia, impactando os preços para o consumidor. Por isso, este trabalho de busca por insumos alternativos, como o trigo, a aveia e o triticale, para a cadeia produtiva de proteína animal é fundamental e estratégico para a produção de alimentos e uma oportunidade única para agregar valor e renda para os produtores e para a economia do Estado”.

De acordo com Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo, está ocorrendo uma movimentação que envolve o produtor, a pesquisa, a assistência técnica, a indústria, lideranças, fornecedores de insumos, cerealistas, corretores, cooperativas e muitos outros. “Estão se formando novos arranjos no complexo agroindustrial dos cereais de inverno para suportar o crescimento e a competitividade da agropecuária na Região Sul”, conclui Lemainski.

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