Pesquisa viabiliza uso de subproduto da soja como ingrediente para alimentos plant-based
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O melhor aproveitamento das terras no inverno pode favorecer a produção agropecuária na Região Sul, com oferta de alimento tanto para forrageamento de bovinos, quanto na colheita de grãos para abastecer a indústria de suínos e aves, com impactos relevantes em diferentes setores da economia gaúcha. O potencial de uso de cereais de inverno no Rio Grande do Sul será a base das discussões no Seminário Técnico Integração Lavoura-pecuária, nos dias 6 e 7 de outubro, com transmissão no Youtube. A realização é da Embrapa e do Senar-RS, com o apoio da Fecoagro-RS, ABPA e Farsul.
Na safra 2021, o crescimento na área com culturas de inverno no Rio Grande do Sul foi acima de 10% nos principais cultivos de grãos, como trigo, aveia, triticale, cevada, centeio e canola. Ainda assim, foram contabilizados cerca de 1,5 milhão de hectares, o que representa menos de 20% da área utilizada para cultivo de verão no Estado.
De acordo com o presidente do Fundesa-RS (Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal do Rio Grande do Sul), Rogério Kerber, o rebanho bovino está reduzindo no Estado para ceder mais espaço ao monocultivo da soja. Em 2016, o RS contabilizou 14 milhões de cabeças bovinas; em 2021 o número caiu para 10 milhões de cabeças. Na produção de suínos e aves, o gargalo está nos custos de produção: em 2020 o RS desembolsou R$ 3,3 bilhões para comprar milho de fora do Estado. “Temos expertise, mas precisamos ganhar competitividade”, avalia Kerber.
Na projeção de cenários para o projeto Duas Safras, o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, avalia que o crescimento integrado da agricultura e da pecuária pode aumentar o faturamento do PIB gaúcho em R$ 12 bilhões/ano. O crescimento da agropecuária, com melhor uso da área no inverno, poderia resultar, ainda, na abertura de 24 mil novos postos de trabalho no setor.
É neste contexto que foi organizado o Seminário Técnico Integração Lavoura-Pecuária. “O seminário tem como objetivo apresentar o potencial, as oportunidades e a rentabilidade do uso de cereais de inverno, assim como discutir as oportunidades e entraves para a utilização de cereais e forrageiras para bovinos de corte e de leite, suínos e aves. Desta forma, proporcionamos a capacitação de instrutores do Senar-RS para que possam transmitir aos produtores rurais conteúdos atualizados e tornar nossa agricultura cada vez mais forte”, diz o coordenador de formação profissional rural da Divisão Técnica do Senar, Umberto Pizzolotto de Moraes.
Os cereais de inverno podem ser utilizados na alimentação animal através de forragem (pasto, silagem, pré-secado) ou grãos na composição de ração. “Não falamos mais em duplo propósito em cereais de inverno, o tradicional pasto e grãos, mas em múltiplos propósitos em uma interação da lavoura com diferentes criações de animais”, avalia o pesquisador da Embrapa Trigo, Renato Fontaneli.
A escassez de milho para a indústria de proteína animal também fez aumentar o interesse pelos cereais de inverno, que podem reduzir custos na formulação da ração, especialmente relacionados à logística e maior oferta de grãos no mercado regional. “Os cereais de inverno podem compor até 35% da ração em substituição ao milho, basta fazer os ajustes para cada espécie, suínos ou aves, conforme cada categoria ou fase de desenvolvimento”, explica a pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, Terezinha Marisa Bertol.
O ex-ministro da Agricultura, Francisco Turra, presidente do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), lembrou que a escassez e o consequente aumento dos custos de produção motivaram a busca por alternativas para o atendimento de demandas irreversíveis do mercado. “A alta histórica dos custos de produção se soma aos custos de manter o abastecimento em meio à pandemia, impactando os preços para o consumidor. Por isso, este trabalho de busca por insumos alternativos, como o trigo, a aveia e o triticale, para a cadeia produtiva de proteína animal é fundamental e estratégico para a produção de alimentos e uma oportunidade única para agregar valor e renda para os produtores e para a economia do Estado”.
De acordo com Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo, está ocorrendo uma movimentação que envolve o produtor, a pesquisa, a assistência técnica, a indústria, lideranças, fornecedores de insumos, cerealistas, corretores, cooperativas e muitos outros. “Estão se formando novos arranjos no complexo agroindustrial dos cereais de inverno para suportar o crescimento e a competitividade da agropecuária na Região Sul”, conclui Lemainski.
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