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Se as emissões de gases de efeito estufa (GEE) continuarem no patamar atual, a temperatura média na América do Sul pode subir até 4 ºC até o fim do século, em um cenário mais pessimista, tornando os eventos climáticos extremos – como secas, inundações e incêndios florestais – mais frequentes e intensos na região.
As projeções foram feitas no âmbito de um estudo internacional, com a participação de pesquisadores brasileiros.
Os resultados do trabalho, apoiado pela FAPESP por meio de um Projeto Temático ligado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas, foram publicados na revista Earth Systems and Environment.
“A América do Sul e, em particular, o Brasil já mostram sinais das mudanças climáticas, incluindo o aumento das temperaturas da superfície, mudanças nos padrões de precipitação, derretimento das geleiras andinas e elevação no número e intensidade de extremos climáticos. Essas variações nas características climáticas são precursoras do que pode estar por vir nas próximas décadas se a escalada sem precedentes nas emissões de gases de efeito estufa continuar”, diz à Agência FAPESP Lincoln Muniz Alves, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coautor do artigo.
Para fazer as projeções, os pesquisadores analisaram o desempenho de 38 modelos climáticos globais (GCMs) que integram o Projeto de Intercomparação de Modelos Climáticos Fase 6 (CMIP6, na sigla em inglês), do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), e estão sendo usados para elaboração do sexto relatório de avaliação (AR6) do órgão. O lançamento do relatório da contribuição do Grupo de Trabalho I do AR6, que avalia a base científica das mudanças climáticas, está previsto para o próximo dia 9 de agosto.
O desempenho dos modelos foi avaliado em relação à sua capacidade de simular as observações históricas no período de 1995 a 2014 e as mudanças projetadas de temperatura e precipitação na América do Sul em meados e no final do século 21 – entre 2040 e 2059 e entre 2080 e 2099 – de acordo com diferentes cenários de concentrações de GEE, que incluem mudanças de uso da terra e decisões políticas.
Além das análises espaciais de todo o continente, a América do Sul foi dividida em sete sub-regiões para analisar em mais detalhes as características climáticas regionais. Em cada sub-região, análises comparativas entre cenários, modelos climáticos globais e dois períodos de tempo futuros (meados e final do século) foram realizadas para avaliar a destreza dos modelos e a capacidade de apontarem mudanças na distribuição da precipitação e na temperatura em um determinado espaço e tempo.
Os resultados das análises indicaram que os novos modelos climáticos globais capturam com sucesso as principais características climáticas da América do Sul e, em geral, suas projeções são consistentes com as apresentadas pelos modelos usados para elaboração de relatórios de avaliações anteriores do IPCC, como o AR5, publicado em 2014, e o AR3, lançado em 2001.
“As projeções feitas com os novos modelos climáticos apontaram que, dependendo do cenário, o sul da Amazônia, por exemplo, experimentará condição maior de seca”, afirma Alves.
Em relação à precipitação, os modelos climáticos indicaram aumento de chuvas na maior parte do continente, com algumas exceções na região Centro-Sul do Chile e norte da América do Sul, incluindo grande parte da Amazônia.
As projeções apontaram, contudo, que pode ocorrer um aumento na sazonalidade e na distribuição de chuvas durante os anos, causado pela diminuição da contribuição dos totais mensais para a média anual de precipitação na região.
Essas mudanças nos padrões de chuvas no continente são progressivas e se tornam mais fortes no final do século e em níveis de emissões de GEE mais elevados.
“As projeções indicam que a contribuição relativa dos totais mensais acumulados para a média anual de chuvas na região está diminuindo significativamente em alguns meses. Se antes chovia dez milímetros em um determinado mês, esse número caiu pela metade”, exemplifica Alves.
“Isso tem impactos nos setores agrícola e de geração de energia, por exemplo, que fazem seus planejamentos com base nos volumes de chuvas”, diz.
De acordo com o pesquisador, a nova geração de modelos climáticos permite estimar os impactos da mudança do clima com maior acurácia na América do Sul por considerar mais elementos do sistema climático.
O clima no continente varia amplamente de Norte a Sul e de Oeste a Leste, devido à grande extensão latitudinal e à heterogeneidade topográfica do continente, o que torna sua representação um desafio para os modelos climáticos.
“Com essa nova geração de modelos climáticos foi possível quantificar as incertezas nas projeções de determinadas regiões do continente”, afirma Alves.
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