A semeadura do trigo no norte do Paraná, idealmente indicada entre 21 de março a 10 de maio, está sendo prejudicada pela intensa seca em 2018. Neste período, a estação meteorológica da Embrapa Soja registrou 42 dias (2 de abril até 14 de maio) sem chuvas em Londrina (PR). Enquanto a média histórica (2008 a 2017) de chuva acumulada neste período ideal de semeadura é de 170 mm, em 2018 choveu apenas 77 mm . “Desde 2009 não se registrava um déficit hídrico tão pronunciado na região, o que traz sérias consequências ao cultivo de trigo”, explica o pesquisador da Embrapa Trigo, Sérgio Ricardo Silva.
O Departamento de Economia Rural (DERAL), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná estima a área de semeadura de trigo no Paraná em 1,42 milhão de hectares. Até 14 de maio aproximadamente 365 mil hectares (35%) da área prevista foi semeada e a maioria (90%) das lavouras encontra-se em fase de germinação. A maior parte desta área semeada encontra-se nas regiões norte e oeste e muitos agricultores realizaram a semeadura “no pó”. “Eles confiaram no rápido restabelecimento das chuvas, para não comprometerem o calendário agrícola do ano, isto é, terem condições de estabelecer as próximas culturas de verão dentro da “janela” ideal de semeadura. Além disso, conseguiram semear o trigo dentro do período recomendado pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), o que é um dos pré-requisitos para a obtenção de financiamento e seguro agrícolas”, diz.
Para Silva, os agricultores da região norte do Paraná, que ainda não semearam a cultura do trigo, estão diante de um difícil dilema: não cultivar trigo em 2018 ou realizar a semeadura fora do período ideal. “A primeira opção significa não correr riscos de perda de produção, porém, o agricultor abrirá mão de uma fonte adicional de remuneração com a venda do trigo, e também aumentará o custo total da safra de verão, pois o custo fixo da propriedade não poderá ser dividido com a cultura de inverno”, avalia o pesquisador. Além disso, o agricultor não usufruirá dos benefícios diretos e indiretos da cultura do trigo para a lavoura seguinte, porque perde o efeito da adubação residual do trigo (que permite a redução da adubação da soja ou do milho, especialmente com fósforo e potássio) e do efeito benéfico da palhada do trigo que reduz a infestação de plantas invasoras (como a buva e o amargoso) na cultura em sucessão.
Por outro lado, realizar a semeadura fora do período ideal também traz consequências não desejáveis, afirma o pesquisador. “Isso porque será difícil a obtenção de financiamento e seguro agrícolas, além de aumentar o risco de déficit hídrico na fase de enchimento de grãos e o risco de perda de qualidade tecnológica dos grãos causada por excesso de chuva na colheita”, analisa.
Previsão de chuva - De acordo com os principais institutos de previsão meteorológica, há alta probabilidade de chuva no norte do Paraná no período de 18 a 19 de maio, seguido por um período de estiagem. As previsões meteorológicas podem ser acompanhadas pelo Sistema Meteorológico do Paraná (SIMEPAR) , onde a busca pode ser feita por município, através do tópico “Previsão no Paraná” seguido de “Procurar cidade”. O inverno deverá passar por uma situação climática normal, pois o fenômeno La Niña (que está sendo de baixa intensidade em 2018) deve ser praticamente neutralizado até o final deste mês. “Se estas previsões se confirmarem, poderemos ter boas condições ambientais para o desenvolvimento da lavoura de junho a agosto, o que resultará em boa safra de trigo no estado do Paraná”, avalia o pesquisador.
Orientações da pesquisa - Diante destes desafios climáticos, o pesquisador fez algumas recomendações que podem ajudar os triticultores nesta safra, considerando três situações:
1ª) Lavouras semeadas até o final de março, que receberam chuvas suficientes para uma boa germinação e desenvolvimento inicial das plantas, porém sendo afetadas posteriormente por um longo período de estiagem. Neste caso, a produtividade será parcialmente comprometida, devido ao subdesenvolvimento das plantas. Portanto, o agricultor deve reduzir os custos com adubação de cobertura e com defensivos agrícolas, utilizando apenas o “mínimo necessário” de acordo com as orientações de um Agrônomo, pois altos investimentos nestes insumos não resultarão em grandes aumentos de rendimento de grãos, pois o potencial produtivo da cultura já foi comprometido.
2ª) Lavouras semeadas “no pó” nos últimos dias, antes do restabelecimento das chuvas. Esta situação não é agronomicamente recomendável, pois implica sérios riscos: se a seca se prolongar por mais dias, as sementes “guardadas” no solo seco estarão expostas ao calor excessivo na superfície do solo, o que compromete o vigor e poder germinativo; por outro lado, se ocorrer uma chuva de baixa intensidade seguida por um novo período de seca, as sementes poderão germinar, porém, as plântulas não se desenvolveram bem e podem morrer desidratadas, resultando em falhas e desuniformidade da lavoura. Portanto, o agricultor que não possui sistema de irrigação estará “refém” das condições climáticas, não havendo outra alternativa a não ser torcer pelo rápido restabelecimento das chuvas.
3ª) Áreas destinadas à cultura do trigo que ainda não foram semeadas. Este caso deve ser analisado com bastante cuidado, pois o período ideal de semeadura (com risco de perda de safra de 20%, de acordo com o ZARC) já passou. No entanto, o ZARC amplia o período de semeadura do trigo no norte pioneiro até no máximo no primeiro decêndio de junho, cujos riscos de perda de safra aumentam de 30% em 10 maio até 40% em 10 de junho. Os riscos são maiores em solos mais arenosos, em menores altitudes e para cultivares de ciclos intermediário a tardio. Dificilmente o agricultor conseguirá financiamento e seguro agrícolas nesta situação e, mesmo que conseguir, o custo será maior. Para os agricultores mais “arrojados” do norte do Paraná, que optarem pelo cultivo do trigo, assumindo maior risco, aconselhamos: não ultrapassar a data de 31 de maio para realizar a semeadura, e fazê-la somente após a recarga da umidade do solo até a profundidade de 20 cm, verificando se a previsão meteorológica indica a chegada de novas chuvas nos dias seguintes; optar por cultivares de ciclo precoce (para reduzir os riscos de seca na fase de enchimento de grãos e de chuva na colheita); realizar a adubação nitrogenada de cobertura com antecedência (até o início do perfilhamento); e reduzir os custos com excessos de adubos, defensivos e outros produtos, adotando a prática do “manejo racional” baseado nas indicações técnicas e no monitoramento da lavoura.