Os longos períodos de estiagem na Bacia do Jacuípe, no semiárido da Bahia, sempre foram um dos maiores entraves para os produtores rurais da região. Nos últimos 12 anos, entretanto, essa história vem mudando a cada dia. Desde 2006, a Adapta Sertão, uma coalização de organizações, vem transformado a vida de mais de mil famílias da agricultura familiar por meio do Módulo Agroclimático Inteligente e Sustentável (Mais). Essa tecnologia social tem contribuído com a erradicação da pobreza, o primeiro dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), que serão mostrados ao longo da série "Empreendedor Social", da Agência Sebrae de Notícias. Desde 2015, o Sebrae é parceiro da ONU no fomento aos negócios de impacto social e ambiental.
Na Bahia, para enfrentar a seca prolongada que afeta esta parte do semiárido nordestino, o Adapta Sertão, como o próprio nome sugere, desenvolveu um modelo de projeto que incentivasse o cooperativismo e o empreendedorismo. “O Adapta Sertão trabalha com linhas produtivas que são gerenciadas por cooperativas de Licuri (uma palmeira comum da região), polpa de frutas da Caatinga, carne e leite”, explica Thais Corral, uma das fundadoras e diretora da Sinal do Vale, organização que faz parte do projeto. Com isso, os produtores passaram a ter uma renda garantida, o que não acontecia antes. “O retorno varia, mas em geral uma família pode chegar a ganhar dois salários mínimos se aplicar as regras do Mais”, explica Thaís.
Com a adoção da tecnologia social, os produtores de pequenas propriedades da Bacia do Jacuípe puderam manter também a produção de leite de vacas e cabras para estiagens prolongadas. O sistema orienta desde o confinamento dos animais ao reflorestamento da caatinga, entre outras ações, sempre a partir de práticas agroecológicas e sustentáveis. Outro aspecto importante é a preservação mínima de 20% da área da caatinga na propriedade familiar, onde o sistema for implementado, além da destinação de uma outra área dedicada principalmente às plantas forrageiras nativas, uma necessidade importante na convivência com o semiárido.
Uma estratégia adotada pelo sistema, segundo o Adapta Sertão, é a restauração e arborização de pastos por meio de um processo de regeneração ou restauração. A partir do momento em que o Mais vai sendo assimilado pelo produtor, é possível ampliá-lo para que possa superar períodos de estiagem ainda mais prolongadas ou crescer os rebanhos caprinos e bovinos. O projeto é, normalmente, implantado na pluviosidade regular, pois é uma medida preventiva à seca. Atualmente, segundo Thais Corral, o Adapta Sertão está presente em 16 municípios da Bacia do Jacuípe.
“Atendemos, ao longo dos 12 anos, mais de mil famílias que foram beneficiadas por vários projetos que executamos lá”, explica a fundadora. “Trabalhamos diretamente com seis pessoas, mas cada cooperativa que faz parte do programa tem seus próprios funcionários. Assim, acredito que tenhamos atualmente umas 50 pessoas envolvidas nas atividades que consideramos chaves para o projeto”, acrescenta Thais, observando que cada cooperativa tem ganhos variados, podendo, em alguns anos, chegar a ter um lucro de R$ 4 milhões.
Em 2017, o Adapta Sertão recebeu do Sebrae, que apoia o projeto na divulgação em feiras realizadas na Bahia, e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o prêmio de empreendedorismo sustentável “Incluir 2017”. A premiação aconteceu na categoria “Negócios com solução de impacto rural”, por intensificar a produção de leite na região do semiárido e diminuir as flutuações produtivas para tornar os produtores do semiárido mais resilientes à mudança do clima.