Ao longo de outubro, foram promovidas cinco oficinas com os agricultores ligados à Central de Associações Orgânicos Sul de Minas (OSM) e à Cooperativa Comuna da Terra para testar a ferramenta digital que está em desenvolvimento na Embrapa Territorial (Campinas, SP), com o intuito de facilitar o processo de certificação das propriedades orgânicas. Os quatro primeiros encontros ocorreram nas cidades mineiras Córrego do Bom Jesus (10), Luminosa (11), Carmo de Minas (13) e Poço Fundo (18), e reuniram os produtores das associações vinculadas à OSM. O último ocorreu na sede do assentamento rural Mário Lago, com os produtores da Comuna da Terra, em Ribeirão Preto, SP, no dia 21. Ao todo, mais de 100 produtores participaram dos encontros.
Os protótipos testados são formulários digitais elaborados para sistematizar os dados exigidos pelas normas brasileiras para o reconhecimento da produção orgânica. Em versões para o celular e para o computador, foram disponibilizados modelos para levantar os dados gerais da propriedade e da atividade desenvolvida, seja produção vegetal, animal e ou de processamento.
Como ressalta a pesquisadora Gisele Freitas Vilela, que está à frente do projeto, o intuito é que os itens do formulário sejam compreensíveis para o pequeno agricultor e que a ferramenta tenha uma usabilidade amigável. Para as avaliações da usabilidade e do nível de clareza textual dos itens dos formulários, serão examinadas as gravações do preenchimento dos questionários (capturadas por meio de um aplicativo de gravação de tela) e os resultados das dinâmicas realizadas por cada participante nas oficinas.
“Com as gravações, poderemos saber em quais os itens eles tiveram mais dificuldades, observando o tempo gasto para finalizar uma resposta, ou atentando às dúvidas expressas nos áudios”, explica Gisele.
O material produzido pelos produtores nas oficinas será avaliado pela analista Vanessa Magalhães, da Embrapa Gado de Leite, com apoio da equipe da Embrapa Territorial. Vanessa possui mestrado em ciência da computação e atua na adaptação de conteúdos técnico-científicos segundo o nível de letramento do participante. Após as análises, a ferramenta digital da Embrapa poderá ser ajustada novamente, para se adequar à realidade do produtor.
Carlos Roberto da Silva, 38 anos, líder da Associação de Córrego do Bom Jesus, tem boas expectativas para essa parceria com a Embrapa. Ele ressalta que a exigência de documentação acaba tornando muito burocrático o processo de certificação orgânica. “[O produtor de] orgânico é fiscalizado; tem que andar em dia. Do produtor convencional, não se cobra nada”, coloca. Para ele, a ferramenta digital em elaboração pode ajudar a desburocratizar esse processo.
Além dos produtores, o ativo tecnológico que será entregue vai auxiliar as atividades de outro parceiro do projeto: o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O engenheiro agrônomo e analista do Mapa Lucas Fernandes de Souza considera que a ferramenta vai ajudar o ministério no controle das organizações certificadoras por auditoria, bem como na organização digital dos dados da produção orgânica exigidos por lei, e nas formulações de estatísticas do segmento, ainda incipiente no Brasil.
Um novo encontro com os produtores está previsto para o início do próximo ano. O projeto finaliza as atividades em abril de 2023.